GUEST POST: O FEMINISMO RECONSTRUIU MINHA AUTOESTIMA
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GUEST POST: O FEMINISMO RECONSTRUIU MINHA AUTOESTIMA


Relato da R.:

Oi Lola, tudo bom? Meu nome é R., tenho 19 anos, e estou aqui, primeiramente, para te agradecer, e para isso contarei um pouco da minha história.
Conheci o feminismo pelo seu blog. Após um dos atos do Femen fui procurar mais sobre o grupo, sobre feminismo, e seu blog foi um dos primeiros que encontrei, e gostei logo de cara. Daquele dia em diante muita coisa mudou para mim, o suficiente para poder ter certeza do que quero e gritar para o mundo: EU SOU FEMINISTA !
Desde meus 12 anos, quando dei meu primeiro beijo, sempre tive uma coisa em mente: se eu quiser ficar com alguém, vou ficar e ponto, e isso não fará de mim uma puta. Eu queria, fazia. Até que aos 15 anos comecei a namorar um rapaz da minha sala no ensino médio. G. tinha ficado com somente duas pessoas antes de mim e considerava abominável o fato de eu aos 15 anos ter ficado com cerca de 15 meninos (nossa, mas que horror, pobrezinha, tão vadia!). 
Logo do início do namoro ele quis que eu me afastasse de todos meus amigos homens. Aos poucos, me afastei "por amor" a ele. Perdi amigos importantes sendo que se eu pedisse o mesmo -- com relação a uma garota que ele havia ficado antes de mim e era sua amiga -- ele dizia que eu era louca, neurótica, e que não tinha motivo nenhum para se afastar dela. 
Ótimo. Seis meses de namoro -- logo depois que perdi minha virgindade, com ele -- ele terminou comigo para ficar com a tal amiga. Depois, disse que não era o que queria, e voltamos. Brigas homéricas. Eu mal podia olhar para algum amigo meu que ele ficava bravo comigo, mas eu permitia isso. Meus pais me diziam que eu havia mudado, que estava triste e fechada, mas eu não via, estava completamente cega por aquele tal "amor". 
Autoestima? Eu claramente não sabia mais o que era isso. 
Tempos se passaram e aos poucos fomos amadurecendo mas sempre nós dois em nosso casulo. Cheguei a um ponto de só ter UM amigo -- gay, por isso aceito por G. Com o passar do tempo as coisas melhoraram; não existia mais ciúmes, mas hoje eu entendo porquê: porque não existia mais nenhum amigo. 
Vivi para G., respirei pra ele, me doei pra ele. Me perdi. Me achava horrorosa. Ele olhava mulheres na rua comigo ao lado e me comparava. Dizia que minhas roupas eram estranhas. Cheguei ao ponto de querer emagrecer para agradá-lo e isso me fez muito mal. Tentei ficar várias vezes sem comer, tentava forçar vômito e não conseguia. Inúmeras vezes eu chorava, em frente ao espelho, falando com minha mãe: "Olha isso, eu estou horrível! Eu SOU horrível! RIDÍCULA!". Mas ridícula mesmo era aquela situação.
Muitas vezes me sentia fraca, me sentia rebaixada. Até mesmo com relação a sexo: eu fazia determinadas coisas "para ele" e ele mal se mexia, como se eu devesse aquilo pra ele. Eu queria sexo, não queria masturbar meu namorado. Eu queria amor, não queria ter que correr atrás da pessoa que eu amava. Eu queria sair, ele não queria. Eu queria muitas coisas, ele não queria nada. 
Eis que mais recentemente, como disse, conheci o feminismo. Mulheres que se amam, que não se deixam controlar. Aquilo tudo me pareceu lindo, mas inalcançável. Li diversos blogs, diversos modos de pensar e comecei a me identificar muito. Falava para ele "Nossa, feminismo é muito legal!", e ele dizia "Aff, feminismo é ridículo". Ele, que para mim sempre foi um exemplo de -- pode rir -- pessoa de mente aberta. Comecei a ficar com raiva. Eu dizia: "Acho que estou com um pezinho no feminismo", e ele: "Pois tire, já". 
O tempo passou, e eu fui cansando de viver de migalhas e sem autoestima. Cheguei a procurar um psiquiatra, comecei a tomar antidepressivos que me ajudaram muito. Antidepressivos, terapia E feminismo -- foram os três que me ajudaram a sair desse relacionamento obsessivo, que me sugava.
Sabe, eu sempre admirei mulheres de cabelo curto, acho que todas ficam muito mais bonitas e detesto ter cabelão. G. amava mulher de cabelo grande. Eu sou baixinha e peso 50 kg... G. sempre gostou de corpos de modelos, altas e magras. Por que raios ele estava comigo? Sempre me perguntei isso. 
Eis que um dia, depois de muito feminismo e análise, resolvi cortar meu cabelo. Disse a ele o que faria, e ele: "Vai ficar horrível, seu rosto é muito redondo, credo, não faz isso". Sendo que inúmeras vezes já havia falado de cortar o cabelo e ele dizia "Vai ficar feio, não deixo". 
Cortei o cabelo. Eu mesma, em casa. Nunca, em toda minha vida, tinha me sentido tão livre. Enquanto G. achava horrível, eu -- que tentava recuperar minhas amizades perdidas -- reconstruía minha autoestima apoiada nos amigos, que me diziam que eu estava linda. E realmente, eu nunca estive tão bonita. Aquele simples ato de cortar meu cabelo me mudou completamente. A partir daquele momento eu me tornei mais segura, eu consegui me livrar do julgamento do G.
Depois de muito mais feminismo, percebi que não usava maquiagem porque gostava e sim por imposição. Parei de usar maquiagem. G. mal se importava mais, praticamente nem olhava pra mim e se olhasse era pra falar das minhas roupas, que claro, não o agradavam.
Mas, peraí, R... Agradar POR QUÊ? 
E essa pergunta foi ficando na minha cabeça por um bom tempo. Comecei a notar que aquele não era um relacionamento saudável. 
Passei a ME agradar. Arrumava meu cabelo para mim, não me maquiava PARA MIM, parei até mesmo de usar sutiã -- ô coisinha desconfortável -- e tudo isso, por mim. Me aproximei de antigos amigos, ele já não se metia mais pois queria ficar em paz para estudar, e não queria namorada grudenta no pé dele.
Me reconstruí. A cada dia que passava eu me olhava no espelho e gostava mais do que via. Me achava linda SOZINHA, sem precisar que ele me dissesse qualquer coisa. 
Até que certo dia ele falou "Finge que você não tem namorado!" -- aos gritos, claro -- e foi isso que eu fiz. Consegui afastar tanto aquela pessoa de mim que me aproximei da antiga R. Eu era EU novamente, sem precisar dele. Ele não mais fazia falta. Eu tinha amor próprio novamente. E foi aí que terminei um relacionamento de quatro anos, dois meses atrás.
Hoje em dia posso dizer com orgulho e com todas as letras: EU SOU LINDA! Foda-se o que os outros acham, não existo para agradar a ninguém, não sou enfeite. Saio de casa com minhas roupas ripongas, sem maquiagem, sem sutiã, de cabelo molhado e me acho LINDA. Recentemente tive que fazer uma cirurgia na barriga e estou com uma cicatriz bem grande, na vertical. Se eu ligo pra ela? Não. 
Eu me acho linda mesmo com minha cicatriz de um palmo porque é MINHA cicatriz! Eu consigo me achar bonita na hora que acordo!
Antes quando meus amigos diziam que eu era feminista, eu respondia: "Claro que não, eu só acho umas coisas legais." Hoje, se alguém me pergunta "R., você é feminista?", eu digo SIM EU SOU FEMINISTA!
O feminismo me fez ver que sou uma mulher forte, bonita, inteligente e, principalmente, independente. Meu sorriso não depende dos outros, meu espelho não são os olhos dos outros. E hoje, se alguém diz "Ai, não gostei do seu cabelo", eu digo "Ah sério? Fazer o quê, eu acho lindo".
Foi você, Lola, quem me abriu as portas para um mundo novo, foi graças ao seu blog que eu consegui mudar minha vida e sei que muitas outras mulheres por aí afora precisam de ajuda. Eu precisava de ajuda, mas não sabia. Obrigada a você e a todas as feministas que continuam na luta, dia após dia, sem enfraquecer, porque SIM precisamos lutar!




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