GUEST POST: MACHISMO DO MEU PAI NÃO ME DEIXOU DIRIGIR
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GUEST POST: MACHISMO DO MEU PAI NÃO ME DEIXOU DIRIGIR


Confesso que desde que cheguei a Fortaleza, três anos atrás, ainda não peguei no nosso carro. Em Joinville eu dirigia normalmente, mas aqui moro perto da universidade, vou andando, e o maridão precisa do carro muito mais do que eu, já que ele dá aula (de xadrez) em escolas um pouco mais distantes. 
Não sinto a menor falta de dirigir. Acho que não esqueci como se faz, mas o pessoal do trânsito daqui é muito buzinador. Eu ficaria nervosa e estressada. Sem falar que o portão da nossa garagem parece bem estreito, visto de longe...
Segue o guest post da Paola, que pelo jeito seria bem diferente se ela fosse um Paolo. Só peço que evitem comentários do tipo "classe média sofre". Pra Paola, o que aconteceu foi um problema real, que a marcou. Devemos respeitar isso. Quem quiser um guest post mais teórico e menos pessoal, leia o de ontem, do Ramiro (post que, inclusive, recebeu poucos comentários).
 
Gostaria de falar sobre um episódio de machismo que marcou a minha vida. Muitas pessoas acharão que é um acontecimento bobo talvez, pois não sofri violência física ou algo mais grave na minha vida (graças a Deus), mas é um fato que me marcou muito psicologicamente.
Eu, quando fiz 18 anos, estava super feliz, já que iria finalmente tirar a minha carteira de motorista. Quando chegou o momento, o meu pai perguntou porque que eu ia tirar a minha carta, já que eu não tinha carro. Ué, pensei que ele iria ser legal e me emprestar o dele, certo?
Ainda mais que na época ele tinha dois carros, a minha mãe não dirige e a única irmã que eu tenho é mais nova do que eu, ou seja, ainda não podia dirigir.
Minha mãe entrou na minha defesa e disse que na minha idade meu pai também não tinha carro, e que o meu avô emprestava pra ele. Ele não respondeu nada, e eu achei que o problema havia sido resolvido ali. Mas me enganei.
Gostaria de ressaltar que cresci numa família de classe média, mãe pedagoga e pai engenheiro elétrico. Meus pais sempre foram muito legais, não tenho o que reclamar mesmo! Mas quanto a essa questão, meu pai deixou bastante a desejar.
Com essa história, fui tirar a minha carta apenas com 21 anos.
Quando achei que as coisas iam finalmente acontecer, meu pai parece que ficou com medo da possibilidade de eu começar a dirigir e ser mais independente.
Ele vendeu um dos carros e ficou com um só. Usei o carro dele apenas uma vez, para treinar para a prova prática, e ele sem paciência e gritando comigo.
Depois disso, ele nunca mais me emprestou o carro, e vários amigos meus dirigiam e andavam de carro. Poxa, isso me deixava triste!
Eu perguntava pra ele porque ele não me emprestava, qual era o motivo, pois eu sou cuidadosa. Ele simplesmente não respondia, ou dizia que carro era uma coisa que não se emprestava e pronto. Além da minha mãe, alguns tios conversaram com ele dizendo que isso que ele estava fazendo não era legal, mas nada adiantou.
Devido a isso, não toquei mais nesse assunto. Decidi trabalhar e comprar meu próprio carro.
Comecei a fazer estágio, depois me formei, mas infelizmente a área em que me formei (Biblioteconomia), mesmo tendo estudado em uma universidade pública, é muito mal remunerada. Por isso, comprar o meu carro não era uma coisa assim tão fácil quanto imaginei no começo.
Por causa disso, quando me perguntavam se eu tinha carro ou dirigia, passei a responder que eu não dirigia porque tinha medo. Parentes e amigos sempre me perguntavam, e eu adotei essa estratégia. Eu não sei porquê, mas sentia muita vergonha dessa situação.
Imagino que meu pai não queria que as meninas fossem independentes e fossem aos lugares sozinhas de carro. Além de um machismo idiota, não consigo fazer ideia de outro motivo.
Quando comecei a namorar o meu marido, ele começou a me incentivar a pegar o carro de novo e ter prática. Ele dizia que eu precisava ir em frente e ser independente. Me motivou a atualizar a minha carta, que já estava vencida, e me deu aulas na auto escola para pegar a prática, pois apesar d'ele ser paciente, ele acha que pode ser bom eu fazer com uma pessoa desconhecida.
Ainda não fui fazer as aulas, pois devido a esse episódio passado, fico desanimada. E é um desânimo bem forte.
Hoje eu dia eu e maridusco temos condições de termos um carro pra ele e outro pra mim, mas apenas com o meu salário não. Acredito que o fato de eu não ter conseguido comprar um sozinha fez com que eu me sentisse pior. Fiquei uns cinco anos achando que no ano seguinte eu ia conseguir ter dinheiro suficiente pra isso, mas nunca consegui, mesmo economizando.
E não é status. Já fui fazer cursos e entrevistas de emprego em lugares bem longe, é uma coisa prática mesmo. Quem mora em São Paulo entenderá do que estou falando.
Com 30 anos, tenho fé que vou superar tudo isso e ainda vou conseguir dirigir normalmente. Espero que não demore muito.
Não vou permitir mais que o machismo me machuque ou domine a minha vida.




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