GUEST POST: O QUE NOS DEFINE COMO MULHER NO ESPORTE?
Geral

GUEST POST: O QUE NOS DEFINE COMO MULHER NO ESPORTE?


Mila, que é jornalista, me enviou um texto que faz pensar:

Uma das coisas que sempre me intrigou quando comecei a estudar gênero (lá por 2011) era a discussão sobre o que era ser mulher e o que era ser homem. São as nossas vivências, fatores culturais, biológicos, socialização? 
Há algum tempo, essa discussão permeia os comentários aqui no blog e suscita debates com diferentes pontos de vista. Mas e quando a questão ultrapassa a auto identificação?
No dia 6 de junho começou a Copa do Mundo de Futebol Feminino. Como aficionada por futebol, me deparei com uma matéria do El País Brasil sobre a obrigatoriedade de um teste de feminilidade para as jogadoras. 
Além disso, as atletas podem ser testadas a qualquer momento se alguém desconfiar que elas não são mulheres. A federação alemã, por exemplo, já enviou um laudo contendo os últimos exames ginecológicos de suas jogadoras para atestar que elas são sim do sexo feminino, assim como as inglesas.
A polêmica com as jogadoras de futebol surgiu na última edição da Copa do Mundo (Alemanha, 2011) com a desconfiança que esportistas da Guiné Equatorial, as irmãs Salimata e Bilguisa Simpore e Genoveva Anomna, seriam homens. Por conta do aspecto masculino (olha só a FIFA e o COI querendo forçar normalidade!), as três tiveram que provar que eram mulheres. 
Anomna chegou a declarar que as três não passaram por exames clínicos e sim tiveram que ficar nuas na frente dos dirigentes da Confederação Africana de Futebol (CAF) e colegas de equipe. 
Além das jogadoras africanas, a sul-coreana Park Eun Seon também foi contestada e seis dos oito clubes que disputam a liga nacional da Coreia do Sul ameaçaram de boicote se a atleta não fosse submetida a novo exame de feminilidade (aos 15 anos, ela passou por um procedimento igual). A principal suspeita é que ela é alta demais (1,80) para ser mulher.
No Irã, a federação exigiu, em 2014, que as jogadoras fizessem exames para comprovar ser do sexo feminino sob pena de exclusão de competições. Na ocasião, quatro atletas que não tinham concluído a cirurgia de redesignação de gênero foram pegas (o Irã é um dos países que mais faz esse tipo de procedimento no mundo. Desde 1979, a cirurgia foi liberada sob o pretexto de não permitir homossexualidade na sociedade iraniana). [Esta notícia trata essas atletas trans como farsantes, sem entender que a transição está longe de ser um processo imediato].
Fora do futebol, um dos casos mais famosos foi a da atleta Caster Semenya. Em 2009, depois que foi submetida a esse tipo de exame, comprovou-se que Semenya, apesar de possuir órgãos genitais externos femininos, não possuía ovários e útero e sim testículos ocultos internamente. A recomendação da Federação Internacional de Atletismo (IAFF) é que mulheres punidas (como a corredora indiana Dutee Chand, que foi reprovada) corrijam seus níveis hormonais com cirurgia ou tratamentos químicos.
A indiana Dutee Chand
A “carteira rosa”, como é conhecida a comprovação de sexo biológico, data dos anos 1960, quando a ciência esportiva trabalhava com a influência dos hormônios, como a testosterona, no rendimento do atleta. No começo, o exame era meramente visual, mas depois avaliações genéticas começaram a entrar no rol de procedimentos. 
Entretanto, a IAFF ainda usa alguns parâmetros para árbitros “desconfiarem” de altos índices de testosterona, por exemplo, da quantidade de pelos na face, no peitoral, costas e baixo abdômen. No mundo do esporte, a elevada taxa de testosterona é tratada como vantagem. Em relação ao esporte feminino, significa massa muscular e altura que em algumas modalidades, como o futebol, trariam vantagens.
A jogadora de vôlei Érika Coimbra
teve seu gênero questionado pelo
seu alto índice de testosterona
Porém, um estudo encomendado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) suscitou dúvidas sobre o nível de testosterona e rendimento. Foi feita uma análise com 700 atletas de elite e os resultados mostraram que 16,6% dos homens possuem um índice de testosterona abaixo da faixa esperada e 13,5% das mulheres tinham esse mesmo índice acima do que era esperado. Os pesquisadores concluíram que as taxas de testosterona em mulheres estabelecidas pelo COI eram “insustentáveis”.
Exames cromossômicos também podem ser realizados, mas esbarram numa outra parcela da população que não é XX e XY. Pessoas diagnosticadas como sendo pseudo hermafroditas [hoje prefere-se o termo intersexuais], como a campeã olímpica Stanisława Walasiewicz, correspondem a uma parcela em que a avaliação cromossômica não é definitiva.
Deixo a(o)s comentaristas as dúvidas em relação a esses casos. Em situações em que autoidentificação e as vivências sociais não definem sexo, o que acontece com as exceções (pessoas trans e intersexuais)? Qual seria o espaço dessas pessoas no esporte?

Um comentário meu: Não tenho opinião formada sobre este assunto. Entendo que homens têm algumas diferenças que poderiam configurar vantagens nos esportes, e por isso não deveriam competir junto com mulheres. Seria injusto para mulheres cis. Por outro lado, essa regra praticamente proíbe que mulheres trans sejam esportistas. Elas teriam que competir em modalidades masculinas, o que vai contra o que elas são.
E como fica o caso de pessoas intersex, que não se submeteram a nenhum tratamento hormonal ou cirurgia, como é o caso da sul-africana Caster Semenya, citada acima? Conhecemos bem o caso da judoca Edinanci Silva, que nasceu intersex e precisou provar ser mulher para competir nas Olimpíadas de 1996. Parece muito arbitrário impedi-las de competir.
Fico com a especialista em bioética da Universidade de Stanford Katrina Karkasis, e com a diretora de Saúde e Esporte do Conselho Superior de Desporto da Espanha. Karkasis é bastante categórica: "Não existe um marcador biológico que sirva para determinar o sexo de uma pessoa". 
Ley concorda: "Em muitas ocasiões não é possível determinar o sexo de um indivíduo mediante parâmetros biológicos e, portanto, a opção mais razoável é levar em conta unicamente a identidade sexual de cada indivíduo". 
Que os testes físicos impostos para as atletas "provarem" que são mulheres, não resta muita dúvida que sejam absurdos e humilhantes. Como diz Karkasis: "São mulheres que viveram e competiram como mulheres a vida inteira. Seus documentos legais dizem que são mulheres. Assim, por que estão exigindo-lhes a verificação de sexo?"




- Internacional: Mulheres Sauditas EntrarÃo Nos Jogos OlÍmpicos ?
(CNN) - Um dos grandes ideais olímpicos é a importância de participar, reunindo atletas de todas as origens de todo o mundo.Mas nem todo mundo teve a chance de competir. A Arábia Saudita é um dos únicos três países - juntamente com...

- Alguns PrivilÉgios Cis
É fácil escrever sobre privilégios masculinos porque conheço as opressões que as mulheres sofrem. É certamente um privilégio poder sair à rua à noite e ter medo apenas de ser assaltado. Mas a maior parte dos homens nem percebe este privilégio,...

- Jogadoras De Futebol Enfim Ganham Destaque
Jogadora do Santos posa para fotógrafos durante desfile de lançamento Ontem o UOL Esporte procurou uma (ou mais, não sei) feminista para fazer algumas perguntas sobre o calendário que o Santos está lançando para comemorar seus 99 anos e para promover...

- À Margem Da Vida
Ontem a Fernanda, no seu primeiro comentário aqui no blog, já arrasou: “Eu sempre adorei esportes e agora que meu grupo de capoeira acabou, sinto uma falta horrível. Só que eu simplesmente não consigo achar um esporte que eu possa fazer (a não...

- As Gazelas E Seus Uniformes OlÍmpicos
Domingão, e eu não tenho vontade de fazer outra coisa além de assistir às Olimpíadas. Vocês também andam dormindo pouco entre esse negócio de ir pra cama depois das 2 e acordar antes das 7? Tá difícil. Agora já me acabei de chorar com o Diego...



Geral








.