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JOGADORAS DE FUTEBOL ENFIM GANHAM DESTAQUE
Jogadora do Santos posa para fotógrafos durante desfile de lançamento Ontem o UOL Esporte procurou uma (ou mais, não sei) feminista para fazer algumas perguntas sobre o calendário que o Santos está lançando para comemorar seus 99 anos e para promover sua equipe de futebol feminino, apelidada de Sereias da Vila. Ainda não sei que parte da minha resposta será usada ou quando sairá a reportagem (quando sair eu aviso, ou vocês, muito mais antenad@s que eu, me avisam, por favor). Mas quero compartilhar o que escrevi por email com vocês. Alexandre, do UOL Esporte, perguntou: “O que você acha dessa exploração da imagem das jogadoras? É preciso trajes pequenos pra imagem delas ganhar destaque?”Vou começar pela sua segunda pergunta, sobre se são necessários trajes pequenos pra essas jogadoras ganharem destaque. Essa pergunta nem ter que ser respondida por mim, mas por vocês, da mídia. O que vocês acham? O que vocês observam? Quanto destaque vocês dão ao futebol feminino no Brasil, que exporta algumas das melhores jogadoras do mundo, foi duas vezes vice-campeão olímpico e é o atual vice-campeão mundial? Aliás, quanto destaque vocês dão para mulheres esportistas em geral? Costumo ver muito espaço dado às tenistas que, não por coincidência, são quase todas loiras e magras, como se fossem modelos (e algumas são modelos). Só que fala-se muito mais nelas como musas, como objetos sexuais, que como atletas em si. Há inúmeros exemplos. Quando a revista americana Sports Illustrated põe o Roger Federer numa capa, ele aparece fazendo o que faz melhor, que é jogar tênis. Mas quando essa mesma revista abre espaço pra Anna Kournikova, ela surge deitada, maquiada, olhando fixo pra câmera, abraçando uma almofada. Por que Federer consegue uma capa jogando tênis, e Kournikova precisa ser bonita pra merecer destaque? Outro exemplo é o Super Bowl nos EUA, com milhões de espectadores. Não há nada parecido para algum time feminino. Esporte, no geral, é visto como algo feito por homens para homens, e noticiado por repórteres homens. Quando uma atleta mulher ousa invadir esse Clube do Bolinha, é em forma de eleição da musa do ano ou de calendários.Há um preconceito grande contra mulher que pratica esportes. Muita gente acha que o esporte masculiniza a mulher. E no futebol feminino esse preconceito é ainda melhor, porque, por ser um esporte mais popular, junta-se também um padrão de beleza racista. De modo geral, as esportistas brasileiras e também as americanas precisam constantemente “provar” que são femininas, assim como os esportistas homens precisam mostrar que são machos. Existe uma pressão enorme das atletas para provar que não são lésbicas, como aponta o livro de Pat Griffin, Strong Women, Deep Closets: Lesbians and Homophobia in Sports (Mulheres Fortes, Armários Profundos: Lésbicas e Homofobia nos Esportes). E o jeito mais comum de se “provar mulher” é fazer o que a sociedade espera das mulheres: que elas exerçam sua função decorativa, ou que sejam mães. Tirar a roupa, participar de um desfile de moda, é conformar-se a essa exigência. Mas o princípio de colocar atleta mulher com pouca roupa é o mesmo que vemos em praticamente todas as reportagens em que a mulher focada está numa profissão “masculina”. Por exemplo, em todas as matérias sobre mulher pedreira, sobre mulher motorista de ônibus, sobre mulher taxista, sobre mulher policial, sobre mulher presidente, inclusive, dedica-se um espaço para que aquela mulher “prove” ser mulher, ora mostrando sua prole, ora dizendo-se vaidosa. Há uma expectativa para que essa profissional não se esqueça do seu “lado feminino”. Como se fosse possível esquecer! Como se alguém não soubesse! Mas, sinceramente, uma mulher deixa de ser menos ou mais mulher por não usar maquiagem? Por jogar futebol? Por posar com trajes pequenos? Por ser presidente de um país? Portanto, respondendo a sua outra pergunta, sobre o que eu acho da exploração da imagem das jogadoras de Santos, é óbvio que elas (todas lindas, maravilhosas e talentosas) estão buscando promoção para terem chance da sua modalidade, o futebol feminino, sobreviver no Brasil. Não são elas que devem ser criticadas, e sim um padrão da mídia que raramente combate preconceitos e frequentemente os reforça. Uma das justificativas do lançamento do calendário é combater o preconceito de que jogadora de futebol é masculinizada. Infelizmente, a mídia não abre espaço para essas jogadoras falarem sobre isso. O meio que lhes resta pra conseguir espaço é tirar a roupa. Isso não é dar-lhes voz. Ou melhor, é a “voz” que a mídia está acostumada a dar às mulheres. UPDATE: Saiu a matéria do UOL, e achei que ficou muito boa. Poderia ser maior, e poderia ter perguntado a opinião das jogadoras sobre as críticas que receberam. Mas já é um avanço jornalista ouvir outras opiniões que não a dos marqueteiros de sempre. Gostei.
Já os (poucos) comentários que aparecem no site são os de sempre. Fala sério, esse pessoal só cut & paste, né? Nunca vi alguma matéria que incluísse opinião de feminista sem que aparecesse algum leitor não muito esperto pra dizer "Essa deve ser um dragão!". Principalmente quando a crítica que a feminista faz é justamente diante da imposição que toda mulher tenha que ser bonita e ter apelo sexual, senão não é mulher! Aí vem o incauto leitor e comprova o que você disse.
Quanto ao calendário em si, nos comentários do post a Laurinha resumiu o pensamento de muita gente: é uma coisa uma jogadora (ou uma mulher em geral) conseguir reconhecimento e depois posar nua, ou com pouca roupa. Outra bem diferente é ter que posar nua pra conseguir reconhecimento. Perfeito. Ontem pensei também em que como as jogadoras santistas são chamadas, Sereias da Vila. Sinceramente, existe algo mais distante do futebol que uma sereia? Sereia não tem nem pernas!
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