GUEST POST: PRECISO TE AGRADECER
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GUEST POST: PRECISO TE AGRADECER


Recebi esta mensagem da Carol na sexta, no mesmo dia em que recebi (e respondi) dois emails arrasadores, de estupro, que me fizeram chorar. A Carol me fez sorrir. Obrigada! Respondo às dúvidas dela em itálico.

Oi Lola, me chamo Carol e faz um tempinho já que acompanho seu blog, e apesar de concordar com praticamente tudo que você e outras pessoas falam aqui sobre feminismo e o tratamento dado à mulher na sociedade em que vivemos, às vezes isso parece distante.
Parece distante porque antes eu nunca havia parado para pensar em grande parte do que você diz aqui, e é difícil aceitar e perceber que a maioria das coisas e situações que antes me pareciam naturais, agora, passam a ter outro significado, inclusive algumas atitudes que eu tinha comigo e com os outros, inclusive mulheres, reproduzindo o comportamento que esperam que tenhamos.
Eu era a típica pessoa que via feministas como um grupo de gente doida que odeia homens, por exemplo. Até que um dia, nem lembro quanto tempo faz, me deparei com comentários seus [num blog ridículo que vive me xingando, porque os autores acreditam que existe uma ditadura dos grupos historicamente oprimidos que cerceia a liberdade dos pobres homens brancos, as verdadeiras vítimas do mundo atual], comentários que foram repudiados. Por curiosidade decidi visitar seu blog e... foi como se a minha visão fosse clara pela primeira vez.
Lembro que um texto que me fez pensar muito foi um guest post de uma leitora chamada Julia, em que durante uma conversa sobre sapatos, há a seguinte frase:
“Olha... ouvindo vocês, estou chegando à conclusão de que o problema não é com nossos pés, mas com os sapatos femininos, que são feitos para machucar! E, o surpreendente não é que as empresas façam sapatos que machuquem, mas que a gente automaticamente assuma que o defeito é em nosso pé, não no sapato!" [É verdade, né? E isso acontece com tantos produtos feitos pra gente!]
Lendo o seu blog eu tive praticamente uma epifania: quantas vezes eu não repeti esse tipo de frase como se fosse uma verdade absoluta? Quantas vezes eu não me culpei por um comportamento que seria considerado comum a um homem, apenas porque me ensinaram assim? Quantas vezes eu não usei a palavra gorda, viado, gay para ofender alguém, quando na verdade ser gorda ou ter uma orientação sexual diferente não é algo ofensivo? Quantas vezes eu não me considerei inadequada por seguir um padrão que é imposto a mim e a muitas outras meninas? Quantas vezes tive ódio de mim e do meu corpo e cabelo por não obedecerem a esses padrões, como se a culpa fosse minha?
Tenho 18 anos, sou negra (uma pergunta: quando alguém me diz que em vez de negra eu sou mulata, por não ter a pele tão escura, é um preconceito também? [Sim, acho que é. Negar a negritude -- o velho "mas você nem é tão escura!", como se cor fosse defeito -- é um tipo de racismo. Além do mais, muitos ativistas negros evitam a palavra mulata porque ela vem de mula, e foi usada pejorativamente durante séculos de escravidão para se referir a filhos mestiços de escravas com os senhores brancos]), não sou magra e meu cabelo é longo e crespo. E eu sempre achei que meu cabelo fosse o problema e outros achavam também, por isso eu o alisei, mas uma hora desisti de manter o alisamento. Deu preguiça, e ele também é caro. 
Mas o ponto mais forte para a desistência foi entender que meu cabelo não é um PROBLEMA. Esse entendimento, Lola, veio graças a você! [Agradeça a todas as leitoras lindas que enviaram guest posts sobre o assunto]. E é dificil resistir ao alisamento, pois não é fácil passar a vida toda ouvindo e aprendendo que seu cabelo é feio, que seu cabelo parece sujo e relaxado, fazendo de você suja e relaxada também.
Quando eu decidi largar o alisamento eu trabalhava numa loja varejista, uma dessas grandes, e geralmente ouvia de algumas pessoas que trabalhavam comigo: 
- Nossa, amiga, vai arrumar o seu cabelo!
E eu não entendia como meu cabelo poderia estar desarrumado, uma vez que geralmente ando como ele preso (é muito cabelo!) e nunca estava “desarrumado”, até ouvir:
- O que aconteceu com a sua chapinha?!
Ou seja, meu cabelo não era considerado bagunçado por não estar arrumadinho, mas por não ser liso! E essa frase veio de uma amiga minha.
Esse episódio  apenas me fez entender e levar mais a sério o que você fala aqui, pois era o mesmo comportamento que você denunciava em alguns textos. [É o que eu penso: às vezes a ficha demora a cair, mas o que é discutido aqui planta uma sementinha, e um dia alguma outra frase ou comportamento faz a pessoa se lembrar do que leu].
Assim como essa imagem que eu vi hoje no jornal Metro, com o título de “As belas e a fera do tênis”, onde estão reunidos Maria Sharapova, Roger Federer, Victoria Azarenka e Caroline Wozniacki. Adivinha quem é a fera? (tirei a foto com meu celular, perdoe a qualidade da imagem). [Imagina, obrigada por mandar a imagem!]
Assim que eu vi e entendi quão ridículo soava o título, pois ele dá a ideia de que apenas o Federer é a fera do tênis e as tenistas são representadas por “belas”, um elogio a sua beleza e não um reconhecimento às atletas que elas são, entendi que algo realmente havia mudado em mim. [Ahhh! Que lindo quando a gente percebe isso!]
E é assim que tem sido Lolinha, de acontecimento em acontecimento, epifania em epifania, tenho aderido ao feminismo e me libertado de muitas (o)pressões que eu aceitava e até mesmo acreditava serem benéficas, vejam só. Afinal, apesar de nunca ter achado que as opções de vida de uma mulher deveriam se resumir a casar e ter filhos, achava o máximo quando um homem falava: "mas eu até ajudo em casa!”.
Hoje em dia não acredito mais que feministas são loucas, nem elas, nem eu, que tenho me tornado uma delas e pretendo continuar a ser, mesmo sendo evangélica. É impossível ser os dois? Acredito que não. Lola, esse foi um tema que nunca vi discutido aqui no seu blog e eu gostaria de ver.
Você acha, Lola, impossível? Ter essa religião e ser feminista? [Bom, eu só fui religiosa e feminista durante um breve período da minha vida, e pra mim foi muito díficil conciliar a fé católica, puramente patriarcal, com o feminismo. Mas as Católicas pelo Direito de Decidir provam que é possível ser feminista, até ativista feminista, e ser religiosa ao mesmo tempo. Aqui no blog há várixs leitorxs evangélicxs, como a Valéria e o Lord Anderson].
Um dia fiquei revoltadissima, pois o pastor de minha igreja pediu que eu não usasse saias acima do joelho enquanto estava na porta da igreja recepcionando as pessoas, pois alguns homens da igreja poderiam me olhar de forma maliciosa. Quando eu respondi dizendo que ele não poderia decidir sobre o tamanho da minha saia e que se algum irmão olhasse pra mim de forma maliciosa ele sim precisaria ser chamado para uma conversa e não eu, já que vamos à igreja para orar e compartilhar uma vivência com Cristo e não para olhar as pernas dos outros, o pastor (acredite!) entendeu meu ponto de vista, pediu desculpas e disse que eu estava certa. Então, tive uma conversa com ele sobre isso e outros tratamentos dados às mulheres na igreja. 
E sabe, Lola, algumas coisas na minha igreja têm mudado depois disso... Portanto, mesmo as igrejas sendo instituições patriarcais (aquela história de Deus é pai e assim por diante), será impossível ser feminista fazendo parte delas? Tenho muitas justificativas pra dizer que é possível, mas não tenho com quem trocá-las, então, de que valem? [Se você acha que é possível ser feminista e religiosa, então é, ué! E você tem muito mais chance de conseguir mudar a mentalidade da sua igreja do que eu, que não faço parte dela. A sua conversa com o pastor já foi um ótimo sinal].
Enfim, não sei se meu texto fez muito sentido, mas precisava dizer essas coisas, e  obrigada Lola, obrigada por me ajudar a pensar e agir diferente, de uma forma melhor! [Obrigada você, querida, e todxs essxs leitorxs incríveis que me honram com sua presença. Eu é que agradeço!]




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