GUEST POST: SEM SUPORTE EMOCIONAL
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GUEST POST: SEM SUPORTE EMOCIONAL


A L., de apenas 17 anos, me enviou este email:

Eu sei que você não é psicóloga de ninguém, nem merece perder tempo com os problemas pessoais dos outros. Mas sendo uma figura tão importante pras mulheres que sofrem, apenas por serem mulheres, eu gostaria de que você me ouvisse. 
Me sinto sufocada, numa depressão que não posso expor, porque sei que ela não será bem recebida, que não terá compaixão. 
Desde que eu era muito criança percebi o tratamento diferente que eu recebia em relação aos meus irmãos, bem mais velhos que eu. E com o passar do tempo, as diferenças só se tornaram mais evidentes. Lembro-me de uma vez estar chorando num cantinho, até soluçar, quando meu irmão, irritado, quebrou um quadro com um soco, e nada foi feito. Pouco mais tarde, eu devia ter uns seis anos, o mesmo irmão me deu um soco no estomago, porque eu havia tropeçado e batido no rosto dele sem intenção. Meus pais nem sequer o repreenderam, e eu fui dormir com dor. 
Esse mesmo irmão se casou, e tornou minha infância pior ainda. Meus pais nunca tinham tempo pra mim, só tinham que se preocupar com os problemas conjugais do meu irmão. Eu até cheguei a odiar a mulher dele, e a rezar pra que eles se separassem de vez. Mas assim eu aprendi a ser solitária, a viver na minha imaginação. 
Meu outro irmão era um pouco mais doce, mas toda vez que ele me provocava com algum deboche, e eu reagia, minha mãe me batia, sem repreendê-lo. A família ainda vinha me fazer pressão por não respeitar meu irmão mais velho. Meu pai nunca me bateu, mas também nunca me deu atenção, geralmente se dizia ocupado demais. 
Conforme fui crescendo, sem receber demonstrações de afeto e sem amizades também (pois morava numa avenida movimentada e não tinha contato com outras crianças), fui sendo repreendida pelos meus pais (mais minha mãe) por gostar de coisas de menino, como futebol e carrinhos. Ela achava que eu seria lésbica por isso e muitas vezes me proibia de jogar. 
Me mandavam lavar a louça, limpar a casa, o tempo todo; eu raramente ia, porque sempre que eu questionava por que eu devia fazer se meus irmãos não faziam e nunca fizeram, e a resposta era a mesma: eles são homens! 
Quando minha avó faleceu, eu sofri muito, pois ela era uma das poucas pessoas que me queriam por perto. Eu fiquei sem convívio com outras pessoas, e acabei engordando. Minha mãe passou a me torturar psicologicamente, dizendo: "Você jamais vai arrumar um namorado assim", "Você vai ficar uma bola", "Você vai ficar igual a" não sei quem, sozinha. Eu chorava, e até me escondia embaixo da cama.
Desde que entrei na escola, fui considerada a melhor aluna da sala. Tirava as melhores notas, recebia elogios. Mas para minha mãe sempre era: "Você não fez mais que sua obrigação, pois não faz nada em casa." Para o meu pai era: "Ela é ótima na escola, mas não lava um copo!". E isso ia me irritando, porque meus irmãos eram péssimos no colégio (no ensino médio), passavam o dia no videogame, e minha mãe nunca reclamava.
Na adolescência, os conflitos se intensificaram. Eu passei a enfrentar minha mãe, não querer levar chineladas e tapas, não querer ser tratada com diferença por ser mulher. Passei a discutir e expor minhas opiniões, mas isso nunca era bem aceito. Algumas vezes meu irmão do meio se metia e dizia que eu era "metida, arrogante", e era só eu responder, que minha mãe tentava me bater. Ela ficava do lado dele sempre porque, segundo ela, eu havia provocado. 
O irmão mais velho, do casamento, tentou me agredir uma vez, me levantou pelo colarinho da camisa e me arrastou, dizendo que eu era petulante e não me punha no meu lugar, porque eu defendi uma personagem numa novela (sim, apenas isso). Eu entrei numa crise nervosa imensa, até consegui jogá-lo no chão. Mas meus pais ficaram ao lado dele, como sempre, porque eu havia provocado. Responder era provocar, porque eu nunca comecei uma agressão.  
Minha mãe se assume machista, tem todos os conceitos machistas, todos, acha que é melhor ser sustentada pelo marido do que ser independente, e sempre defende o homem. Quando a cantora Rihanna foi agredida, minha foi uma das que disse "Ela deve ter provocado". É um inferno. O machismo dela é tanto, que muitas vezes parece misoginia. Ela mesma diz que não consegue ter apego ou dar carinho para meninas, não gosta, não vê graça.
E pra melhorar, ainda tenho um namorado (ou ex, nem sei), pelo qual fiz tudo, tudo mesmo, pelo qual lutei pela minha liberdade, e que nem me ouve. Mais um sujeito egoísta, machista,  que se nega a ouvir meus ideais quando tento expô-los pra ele, porque diz que estou tentando impor. É uma conquista pra mim dizer isso, pois há pouco eu permitia que ele me humilhasse com suas palavras, enquanto eu chorava e implorava por ele. Me identifiquei com a esquerda, porque gosto de compaixão e solidariedade. Não consigo me calar diante de injustiças.
Estou numa situação desesperada, de desilusão. Não tenho pra quem, nem pra onde correr. Não tenho amigos (pois no Ensino Médio fui excluída por ser diferente, riam de mim, um bom exemplo de bullying), e meus parentes são todos como minha mãe. Como disse, meu namorado (ou ex) não me dá suporte emocional, se declara frio até, e ainda diz que eu sou linda, mas não me valorizo, não me arrumo, vivo jogada. Isso porque não sou vaidosa. Aliás, beleza é a unica virtude que ele reconhece em mim.
Na extrema falta de um ombro, de alguém pra me ouvir, decidi desabafar aqui. Contei pouco, pois se fosse entrar em detalhes, daria um livro, com tanto absurdo que já vivi e ouvi.
Se você puder responder, será maravilhoso. Se não, entenderei. 

Minha resposta: L., que droga ser parte dessa família, hein? Mas aguente firme, que vc já está com 17 anos. Daqui a pouco vc começa a ser mais independente e poderá sair de casa. Não adianta apressar o processo. Se vc já aturou tudo isso até agora, pode aturar um pouco mais, por mais insuportável que seja a situação. Pelo menos seu irmão mais velho não deve ficar muito tempo em casa, né? Infelizmente, tem famílias muito retrógradas mesmo, que só traumatizam os filhos (e principalmente as filhas). Acho difícil a sua família  mudar a esta altura. Tente viver o melhor que vc pode apesar da sua família. Um dia vc será livre!

L. responde: Obrigada pela atenção! Suas palavras significam muito pra mim! Tava quase em desespero... Vou arrumar um rumo pra evitar sofrimentos e não conviver muito. Agora que acabei um namoro de 2,5 anos, terei que dar uma serie de explicações chatas e ouvir julgamentos. Já me pressionavam pra casar, imagine o drama, a vilã que serei. Mas acho que consigo enfrentar! Vou fazer faculdade numa federal. Será um bom motivo pra suportar tudo.




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