GUEST POST: TODO DIA DEVE SER DE RESPEITO A TRANS
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GUEST POST: TODO DIA DEVE SER DE RESPEITO A TRANS


Hoje é um dia muito importante na luta da tolerância, da inclusão e dos direitos humanos: é o dia da Visibilidade Trans. Pra celebrar a data, pedi um guest post especial, e a Daniela aceitou.
Daniela Andrade mora em São Paulo e é uma mulher transexual ativista, formada em Letras e Análise de Sistemas, com pós-graduação nas áreas de Psicanálise, Língua Portuguesa, Literatura e Informática. Multifacetada e aguerrida lutadora pelos direitos das pessoas transgêneras, ela, além de ter um blog, é responsável por muitas das imagens da página do Facebook que eu peguei emprestadas pra ilustrar o post (clique nelas para ampliá-las).

O Dia da Visibilidade Trans surgiu em janeiro de 2004 por conta do lançamento da Campanha Nacional “Travesti e Respeito”, do Ministério da Saúde. Nesse dia 29, representantes da Articulação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA) entraram no Congresso Nacional, em Brasília, para lançar nacionalmente a campanha.
Dessa iniciativa, as cinquenta e duas organizações afiliadas à ANTRA foram orientadas a sair às ruas para comemorar essa data em todo o país, para mostrar as suas caras e consequentemente reivindicar seus direitos.
Mas, quando se fala em visibilidade, o que se quer dizer com isso? Significa primariamente que travestis e transexuais continuam invisíveis do ponto de vista do respeito aos direitos e da dignidade tanto para o governo, quanto para a sociedade.
Infelizmente, há um sentimento generalizado de que toda vez que uma travesti ou uma mulher transexual aparecer na mídia, salvaguardando raras exceções, será para ridicularizá-las nos programas de humor, que só o que fazem é reforçar o estereótipo e o preconceito de que elas são homens, invalidando suas identidades femininas, ou como exibição em programas policialescos onde, geralmente, o apresentador fará o que a claque pede: transformará essa pessoa em peça de jardim zoológico ou circo de aberrações. Acostumada que está a sociedade a ver e associar travestis e transexuais ao mundo do crime, da farsa, do engano; e, tão logo, a jamais vê-las como vítimas, inclusive quando são elas as agredidas, estupradas ou assassinadas, nesse caso também a maioria dirá: “ah, mas era travesti, travesti é tudo p*ta mesmo! Tudo bandido!”, e todos consentirão com a cabeça, embasados numa pretensa estatística universal que não dá direito de defesa a elas, de que transfobia é algo inexistente.
Aliás, o próprio termo “travesti” é frequentemente usado no masculino, e do mesmo modo a mídia prefere frisar o nome do RG dessas pessoas, como se o que elas pensam e a forma como preferem ser tratadas -– no feminino: A travesti -- não significasse nada, como se a língua devesse necessariamente ad eternum e ad nauseam ser utilizada para oprimir xs sem voz. E como se o nome social fosse algo não importante, e o do RG fosse estritamente necessário para entendermos a matéria em questão.
Mas, se alguém se detiver um pouco sobre o tema, e pesquisar o que significa ser travesti ou transexual no Brasil, não dificilmente descobrirá que essas pessoas precisam estar sempre preparadas para receber sopapos, tapas, cusparadas, xingamentos, deboches e descrenças de todas as partes. É como ser uma ilha, rodeada de violência por todos os lados.
De um modo geral, vemos o desrespeito, as diárias agressões e a incompreensão por parte dos pais e da família. Em muitos casos são expulsas de suas casas ou forçadas a isso dado o histórico de violência. Sem ter onde morar, acabam tantas vezes caindo nas garras das cafetinas e cafetões que lhes oferecem um lugar para dormir em troca de trabalho: entenda aqui a prostituição.
Durante a vida escolar, geralmente verifica-se o fenômeno da evasão, já que a maioria acaba por não aguentar as agressões diárias vindas não apenas dos demais alunos, mas também daqueles que deveriam protegê-las: professorxs e gestores escolares que insistem em afirmar que a identidade de gênero que elas dizem possuir é inválida, mentirosa, fantasiosa, negando-se a tratá-las pelo nome social.
Sem escolaridade, tudo parece ficar extraordinariamente mais difícil quando o assunto é trabalho –- que já é dificultado a qualquer uma, independente de estudo, pelo grande preconceito do empresariado que, de um modo geral, não quer em seu quadro de funcionários pessoas que a sociedade associa ao crime, ao errado, ao que se deve evitar.
Mesmo no serviço de saúde, também são pessoas desrespeitadas -– ainda que nacionalmente o SUS indique que devam ser tratadas pelo nome social. Primeiro que há apenas quatro hospitais públicos em todo o país capazes de realizar a cirurgia de transgenitalização, onde pessoas transexuais esperam por anos pelo “privilégio” de que o governo as escolham para lhes devolver a dignidade roubada por um destino que lhes privou de ter um corpo ajustado de acordo com aquilo que necessitam e da forma como se enxergam.
Endocrinologistas especializados nesse público também são raros (lembrando que hormônios são feitos pensando no corpo de pessoas não transexuais e, inclusive sua bula não diz respeito às pessoas transexuais), o que força muitas dessas pessoas a se hormonizarem por conta própria, incorrendo em diversos riscos de saúde como tromboses e infartos. Mas são os hormônios que também trazem uma melhor percepção e aceitabilidade do próprio corpo, ao transformá-lo de acordo com o gênero exercido socialmente.
Dado esse panorama, fica agora esclarecido que nesse dia da visibilidade trans, o que se almeja é que esses cidadãos e cidadãs pagantes de impostos tenham suas necessidades respeitadas e conhecidas. E, que essa visibilidade se estenda para os demais dias do ano, já que ser travesti ou transexual é todo dia, e todo dia é dia de respeito e empatia pelo outro.




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