Hipnose coletiva - RODRIGO CONSTANTINO
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Hipnose coletiva - RODRIGO CONSTANTINO


O GLOBO - 19/08


Guilherme Fiuza não poupa os que protestavam contra ?tudo?, o mesmo que protestar contra nada, e que tomaram as ruas em junho de 2013. Chama isso de ?rebeldia inofensiva?



Para o filósofo Henri Bergson, o riso não pode ser bondoso. Sua função é ?intimidar humilhando?. Lembrei disso ao reler os deliciosos textos de Guilherme Fiuza reunidos no livro ?Não é a mamãe?, que será lançado pela Record nesta quinta, às 19h na Travessa do Leblon.

Sua marca registrada é o sarcasmo diante do inacreditável: a passividade da opinião pública frente aos inesgotáveis escândalos do governo petista. Acreditou-se até mesmo nos mitos da ?faxineira ética? e da ?gerentona eficiente?.

Nunca antes na história deste país se roubou tanto, avançou-se tanto sobre o Estado como se fosse uma ?cosa nostra?. Tudo protegido pela narrativa dos ?oprimidos do bem?. O ?governo popular? das ?minorias? ? o operário e a mulher ? goza de um salvo-conduto para praticar todo tipo de ?malfeito?. A imprensa ?burguesa e golpista? não tem nada com isso, e deveria parar com essa mania chata de se meter em assuntos ?privados? dos governantes.

O humor ácido de Fiuza é um soco na cara de um povo sonolento, hipnotizado pela repetição incansável de slogans vazios e chavões ridículos. Seu principal alvo nem é o PT com suas falcatruas, mas sim os eleitores com sua negligência.

Fiuza não poupa os que protestavam contra ?tudo?, o mesmo que protestar contra nada, e que tomaram as ruas em junho de 2013. Chama isso de ?rebeldia inofensiva?, um circo que não leva a nada. Acreditar que o gigante havia acordado era a grande piada, só que de mau gosto.

Criativo, ele cunha expressões excelentes para descrever o Brasil de hoje que, visto com o benefício do retrospecto pelos observadores do futuro, será motivo de muita perplexidade. ?Esquerda S.A.?, ?elite vermelha?, ?Império do Oprimido?, ?DisneyLula?, entre tantos outros, são termos que descrevem com perfeição a situação surreal de nosso país.

Ótimo frasista, Fiuza tem grande poder de síntese, sem deixar de lado o chiste. Exemplos não faltam:

?É comovente a garra da esquerda brasileira em defesa da melhoria social de sua conta bancária?; ?O Brasil acha que um presidente bonzinho pode tudo, inclusive decretar almoço grátis para todos?; ?Nunca antes na história deste país os argumentos foram tão inúteis.?

?Que mania os repórteres têm de se meter com a propina alheia?; ?O PT já cansou a beleza do Brasil com o politicamente correto como fachada do administrativamente incorreto ? os fins nobres justificando os meios torpes.?

?A elite envergonhada se sente nobre quando bajula o povão. Não contem para ninguém que os avanços sociais começaram no governo de um sociólogo, porque isso vai estragar todo o heroísmo da esquerda festiva.?

?No Brasil emergente da era Lula, a pobreza é quase um diploma. E a ignorância enseja carinho e condescendência?; ?O brasileiro é, antes de tudo, um crédulo. Deem-lhe um pretexto para ter fé em alguma coisa, e ele se lambuza de esperança?; ?Ficou então combinado assim: enquanto Dilma refresca a vida dos fisiológicos, os éticos apoiam Dilma contra o fisiologismo?; ?Como o eleitor já deveria saber, quando o PT grita pela ética, é hora de segurar a carteira.?

?Para os intelectuais franceses, Lula é o homem do povo que dobrou as elites, o ex-operário que superou a ignorância para salvar os pobres. Só quem não superou a ignorância, pelo visto, foram os cientistas políticos parisienses.?

?O trabalhismo, como se sabe, é a arte de se pendurar no cabide estatal e não largar o osso?; ?Nunca se desafiou a corrupção com tanta compaixão?; ?Os fatos, hoje, são um detalhe. O que o senso comum respeita mesmo é a repetição.?

?Para os não iniciados, é bom esclarecer: ?elite?, no dicionário do PT, é um termo figurativo muito importante para os ladrões do bem, que os mantém na condição de milionários oprimidos?; ?O julgamento do mensalão ficará como uma página quase cômica da história brasileira. O país que explode de orgulho com o fim da impunidade é governado, candidamente, pelo mesmo grupo político que pariu o esquema.?

E tem muito mais. O que fica claro é que se trata de um jornalista corajoso, que não teme remar contra a maré vermelha, contra a patrulha dos ?oprimidos?, nem contra a farsa oficial montada pela poderosa máquina estatal. Não é à toa que Fiuza entrou para a ?lista negra? criada pelo vice-presidente nacional do PT, de formadores de opinião independentes que ousam criticar o governo e apontar para toda a podridão do maior esquema já visto de assalto aos cofres públicos em plena luz do dia.

O livro é leitura obrigatória para quem não quer hibernar enquanto é saqueado pelos ?representantes do povo?.




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