Impostos invisíveis - CRISTOVAM BUARQUE
Geral

Impostos invisíveis - CRISTOVAM BUARQUE


O GLOBO - 30/11

A elite compra o direito de não misturar os serviços privados que usa com os serviços públicos



No Brasil, os contribuintes só começam a trabalhar para si a partir do dia 30 de maio de cada ano. Do 1º de janeiro até esse dia, trabalham para pagar impostos. Isso seria menos grave se, em troca desse trabalho para o Fisco, o contribuinte recebesse de volta os serviços públicos de que carece, na quantidade e qualidade devidas.

Não é isso que ocorre. Além dos 150 dias de impostos visíveis, o contribuinte passa cerca de 26 dias adicionais por ano para pagar, sob a forma de ?impostos invisíveis?, a escola dos filhos, a saúde da família e a segurança de seu dia a dia. São os ?impostos invisíveis? relacionados com os gastos em que a classe média incorre todo ano: cerca de R$ 60 bilhões (1,3% do PIB) com educação privada, R$ 40 bilhões (0,87% do PIB) com segurança privada e pelo menos R$ 180 bilhões (4% do PIB) com planos privados de saúde.

Este gasto é maior se considerarmos os custos causados pela ineficiência social e econômica que recai sobre o cidadão brasileiro. O sistema deficiente da educação provoca elevados gastos sobre o funcionamento da sociedade, prejudicando a vida dos contribuintes. A falta de segurança depreda patrimônio, prejudica a saúde e mata pessoas.

Mas os contribuintes preferem pedir redução dos tributos visíveis pagos explicitamente aos governos (federal, estadual e municipal) do que eliminar os ?impostos invisíveis?, com os quais compram no mercado os serviços que deveriam ser providos pelo setor público. Um sistema educacional e um de saúde de qualidade para todos aliviariam os contribuintes de classes média e alta; uma sociedade pacífica, graças a um sistema social mais equilibrado e eficiente representaria uma elevação na qualidade de vida.

A vocação pelo privado, o gosto pelo imediato e a preferência pelo distanciamento em relação ao povo fazem o contribuinte brasileiro aceitar os ?impostos invisíveis?. Com isso, a elite compra o direito de não misturar os serviços privados que usa com os serviços públicos do povo.

A tolerância e a condescendência em pagar ?impostos privados invisíveis?, em vez de pagar ?impostos sociais eficientes?, decorrem de características que dominam o inconsciente coletivo da elite nacional. A vigência de uma ética pela qual se valoriza o privado mais do que o público; a segregação social que leva a parcela rica e de classe média a não querer se misturar em escolas iguais, hospitais iguais nem fazer a distribuição de renda que tornaria o Brasil um país pacífico fazem parte da mente do Brasil e de sua preferência pelo imediatismo. O contribuinte prefere pagar o ?imposto invisível? para ter o retorno imediato, para si e sua família, do que pagar hoje e esperar um retorno posterior para toda a população.

Até porque, além de imediatista, o contribuinte tem razão de ser desconfiado com o uso de seu dinheiro por parte dos governos. Prefere pagar privadamente altos ?impostos invisíveis? do que exigir os resultados públicos dos impostos visíveis.




- Aprofundar As Desonerações Tributárias - Editorial O Globo
O GLOBO - 15/08 As reduções tópicas de impostos são apenas parte do serviço. Para completá-lo, além de horizontalizá-las, não se pode deixar de cortar gastos em custeio Embora o PT seja defensor do aumento de impostos para ?fazer justiça social?,...

- O Naco Do Leão - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 21/01 Ontem a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou relatório no qual demonstra que, na América Latina, apenas a Argentina tem carga tributária maior do que o Brasil (veja o gráfico). O...

- Muito Custo, Pouco Beneficio - Editorial O EstadÃo
O ESTADO DE S. PAULO - 29/12O registro de novo recorde da carga tributária brasileira, confirmado em estudo da própria Receita Federal, acentua ainda mais o contraste entre o altíssimo custo que o Estado impõe aos cidadãos e o retorno que estes eventualmente...

- Brasil: Ricos Pagam Menos Impostos
Por Cadu Amaral, em seu blog: O Brasil está entre os países do G20 (grupo dos 19 países mais ricos do mundo e a União Europeia) com menos impostos para os mais ricos. O levantamento feito pela PricewaterhouseCoopers (PWC) para a BBC Brasil. A pesquisa...

- "reforma Do Estado" (3)
A prioridade do Governo para depois do "resgate" não é reparar os graves estragos causados no SNS, no sistema de ensino e no sistema de segurança e de proteção social durante estes anos de dura austeridade, mas sim... baixar os impostos, mantendo...



Geral








.