Geral
Je suis LGBT (e o que mais vier) - REVISTA VEJA
Revista Veja
Na busca pelo eleitorado de sua provável rival em 2016, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, cria o bolsa-travesti, mais uma falsa solução para um problema real
MARIANA BARROS
A partir desta segunda-feira, gays, travestis e transexuais que vivem nas ruas de São Paulo terão direito a uma bolsa de 840 reais por mês para frequentar a escola. O autor da ideia é o prefeito Fernando Haddad (PT), para quem o projeto, batizado de Transcidadania, vai "pôr São Paulo na vanguarda e colocar essas pessoas no caminho, dando respeito, educação e trabalho". Os 100 inscritos até agora no programa, que custará 2 milhões de reais aos cofres da prefeitura, são, em sua maioria, semialfabetizados, moram na rua e não têm emprego fixo. O objetivo da prefeitura paulistana é que, com mais escolaridade, eles consigam encontrar uma colocação e melhorar de vida. Trata-se de mais uma falsa solução de Primeiro Mundo para um problema real do Brasil.
Os empecilhos para que essas pessoas obtenham um trabalho fixo não são os que o prefeito imagina. No mundo real, o principal deles é a pouca disposição ? em geral, fruto de preconceito ? de empregadores para aceitar travestis e transexuais no quadro de funcionários. E isso é algo que pouco mudará se um candidato tiver alguns anos a mais de estudo. Outro empecilho é uma imposição do mercado: o salário oferecido a quem tem até o ensino médio ? o máximo que o programa oferece nos primeiros dois anos ? dificilmente superará os ganhos obtidos na prostituição, atividade exercida por 80% dos travestis de São Paulo, segundo estimativas da prefeitura.
Esses equívocos não são os únicos fatores a prenunciar a má sorte do novo projeto da prefeitura de São Paulo. O Transcidadania já nasceu sob a inspiração de uma ideia fracassada, o programa De Braços Abertos. Criado em janeiro do ano passado, ele tem como público-alvo os viciados em crack que vivem na região central paulistana conhecida como Cracolândia.
Os beneficiários do bolsa-crack recebem 450 reais por mês, moradia gratuita em hotéis do centro da cidade e três refeições ao dia. A busca por tratamento não é obrigatória. A contrapartida para os viciados receberem o dinheiro é trabalhar na varrição de ruas durante quatro horas por dia. Hoje são 453 os participantes (40% dos inscritos na primeira fase abandonaram o programa depois de dois meses, 21 saíram depois de um ano para trabalhar com carteira assinada). No ano passado, somente com o treinamento da equipe que atua no programa, a prefeitura gastou 15 milhões de reais.
Até agora, no entanto, o resultado mais gritante do De Braços Abertos foi o aumento do preço do crack, que em dias de pagamento da bolsa dobra de valor: a pedra sobe de 10 para 20 reais. Agora, os traficantes sabem que os usuários contam com uma fonte de renda garantida. Antes, o dinheiro para sustentar o vício vinha de esmolas ou furtos ocasionais ? estes, sim, beneficamente afetados pelo programa. Segundo a prefeitura, os pequenos furtos diminuíram 33% na região, e os roubos de veículo, 80%. As cenas que se repetem diariamente no centro de São Paulo, porém, permanecem tão desalentadoras como antes do início do projeto: hordas de viciados comprando e consumindo a droga ininterruptamente e à luz do dia, com a diferença de que agora, para driblar as câmeras de vigilância, o tráfico se dá sob lonas que conferem às ruas um aspecto de favela. A prefeitura alega que a diminuição do "fluxo", como é chamada a concentração de viciados hoje encontrada em diversas regiões da cidade, depende da ampliação do programa, que, por sua vez, está limitada pela pequena oferta de hotéis dispostos a receber os viciados. Eram oito no início do projeto ? não houve novas adesões e um desistiu de participar.
As iniciativas de Haddad, como o bolsa-crack e, agora, o bolsa-travesti, têm o objetivo de cativar um eleitorado identificado com bandeiras ditas progressistas e favorável a incentivos governamentais a setores marginalizados. Em outubro, a população LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros) já tinha ganhado prioridade no programa habitacional Minha Casa Minha Vida do município por decisão do prefeito. No pano de fundo desses projetos, está a sombra da ex-prefeita Marta Suplicy, historicamente ligada ao tema LGBT. Desde o fim do ano, ela bate no PT, dia sim e outro também, com o propósito de buscar espaço para candidatar-se à prefeitura paulistana em 2016. Com o acirramento da disputa entre os dois petistas, é de esperar que muitas novas bolsas virão. As Chanel, evidentemente, não contam.
-
Inflação Da Pedra - Vinicius Mota
FOLHA DE SP - 27/01 SÃO PAULO - A prefeitura paulistana produziu nesta sexta um raro experimento de laboratório em economia. Despejou um balde de dinheiro novo no mercado do crack na região central. O resultado, a inflação da pedra, confirmou a cartilha....
-
Braços Abertos Para Quê? - Editorial O EstadÃo
O Estado de S.Paulo - 16/01 O novo capítulo da longa e triste história da Cracolândia, pomposamente chamado de Operação Braços Abertos, que acaba de ser lançada, parece ter tudo para seguir o mesmo destino dos que o precederam - o do malogro, logo...
-
Ato Contra A Violência Na "cracolândia"
Por Gisele Brito, na Rede Brasil Atual: Um ato em repúdio à ação da polícia civil na região conhecida como Cracolândia, na Luz, centro de São Paulo, está sendo chamado via Facebook. A concentração deve ocorrer a partir das 15h, na frente...
-
Haddad Repudia Ação Na Cracolândia
Por Altamiro Borges Na tarde desta quinta-feira (23), a polícia do governador tucano Geraldo Alckmin promoveu mais uma ação truculenta na Cracolândia, no centro da capital paulista. Agentes do Departamento Estadual de Prevenção e...
-
Haddad E As Ações Na Cracolândia
Por Renato Rovai, em seu blog: Há exatos dois anos, em janeiro de 2012, buscando criar um fato político para as eleições que se aproximavam e cada um ao seu jeito buscando tirar proveito da ação, os governos Kassab e Alckmin realizaram uma desastrosa...
Geral