Por Saul Leblon, no sítio Carta Maior:O ar está carregado de ressentimento tucano. A 24 horas do que se prenuncia como uma derrota histórica do PSDB em São Paulo, setas encharcadas de calúnia, sabotagem, sites falsos, panfletos apócrifos etc cortam os céus em busca de frestas no discernimento dos eleitores.
Serra destila desespero e atira sem parar, como um serial killer demencial que sai de casa para esgotar o arsenal de fúria, truques e fraudes: contra o PT, contra Haddad, contra Lula, Dilma, Zé Dirceu etc.
Quanto vale a sua palavra nessa hora?
Um exemplo-síntese destrincha essa contabilidade de forma pedagógica: sábado, 26 de outubro de 2002; faltam menos de 24 horas para o 2º turno das eleições presidenciais brasileiras. Lula está virtualmente eleito: segundo as pesquisas, o líder operário tem 67% dos votos válidos.
Serra, seu oponente, então com 60 anos, personifica uma derrota de envergadura histórica do conservadorismo: contra ele o PT está prestes a se tornar governo do país.
O tucano tem 36% dos votos válidos e já balança o pé na cova da derrota. Mas ainda exercita o que sabe fazer melhor: o terrorismo político.
Na edição da Folha daquele domingo, 27 de dezembro, ele não se fez de rogado: " Lula está tirando o corpo", acusa e dardeja: "O PT está dando a entender que não vai reajustar o salário mínimo".
Isso: o PT estava mentindo, dizia Serra ontem, como hoje. E, como hoje, buscava atingir a essência do partido: jogá-lo contra a população mais humilde.
O partido nascido da luta contra a injustiça social, se eleito, privaria os mais humildes do pouco chão firme a que tem direito: a correção do salário mínimo.
Assim como hoje corneteia: Haddad vai fechar creches; o PT vai liquidar o sistema de saúde; Zé Dirceu, Genoíno, as lideranças petistas, de um modo geral, são crápulas, e não um patrimônio da luta social brasileira - o que não os imuniza de erros e equívocos porque são filhos desta sociedade e não da pureza sociológica que a direita exige da esquerda, mas da qual se exime.
Como hoje, em 2002 a mensagem do tucano na boca de urna atingia seu ponto de depuração para atingir a essência daquilo que Serra se propôs a ser na política brasileira: o instrumento do conservadorismo para destruir o PT nos seus próprios termos.E, desse modo, anular o principal instrumento de organização do campo popular no país.
Em vez do 'mensalão', o alvo era o salário mínimo. Mas o método e a meta, idênticos aos atuais.
O exemplo de 2002 é oportuno porque extrapola a discussão ideológica e permite aferir matematicamente o peso e a medida das palavras do tucano na ante-sala do voto.
Às contas, portanto, sobre o salário que o PT não iria reajustar.
De 2002 a 2012, uma década de governo do PT, a política de valorização do salário mínimo registrou um aumento real (acima da inflação) de 65,96% . Esse ganho de renda alteraria os contornos da produção e do mercado interno brasileiro ao beneficiar diretamente cerca de 48 milhões de pessoas da base da pirâmide que têm seu ganho vinculada ao piso salarial.
Se a base de comparação ficar circunscrita ao que ocorreu nos governos de FHC e Lula, o dado é distinto. Ainda assim, o desmentido às palavras de véspera de José Serra é igualmente eloquente.
O aumento real do salário mínimo durante o Governo Lula foi o dobro daquele verificado no governo FHC: respectivamente, 58,7% e 29,8%. É isso.
Mas Serra, contra todas as evidências históricas, anunciava na boca da urna do 2º turno das eleições de 2002 que o PT, o Partido dos Trabalhadores, iria suspender a correção do salário mínimo.
Esse não foi o seu teto, porque Serra não tem teto quando se trata de calúnia e fraude.
Resta saber do que mais será capaz esse astuto rapaz, nas horas que antecedem um desfecho eleitoral em que o seu favoritismo caminha, novamente, para um desmentido contundente. A ver.
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