No fundo, no fundo, o Greg tava pedindo uma lista dos melhores filmes. Não sou grande fã de listas assim. Se já é complicado organizar uma relação dos melhores de cada ano, imagine os top top de todos os tempos? Já desconfio delas a começar pelo título. Por que não chamar logo de “Melhores Filmes Americanos de Todos os Tempos”, ou, pra ser mais honesto ainda, “Melhores Dramas Hollywoodianos dos Anos 80”? Quanto mais restrita a lista, mais confiável. Porque senão é um golpe na nossa auto-estima ver que, nas listas que críticos americanos organizam com os, sei lá, mil filmes imperdíveis da História, geralmente não há um só brasileiro (ou iraniano, ou australiano, ou sul-africano – japonês geralmente tá lá porque eles lembram do Kurosawa). Logicamente isso não se deve à qualidade dos nossos filmes, mas aos valores, preferências e conhecimento de cada crítico. Lembre-se que a maior parte dos críticos é homem, branco, classe média, hetero. Um crítico negro talvez inclua alguns filmes com temática negra na sua lista. Se você pedir uma lista pra Renata, ela vai indicar produções lésbicas que muitos críticos hetero nunca ouviram falar, ou não deram importância. Isso não impede que ela ame filmes mainstream também, mas uma visão diferente certamente rende uma lista diferente. Porque todas essas listas são, acima de tudo, pessoais.
O que não resolve o seu problema, Greg. Porque outra questão é se esses filmes existem nas locadoras. Numa Netflix, que tem 75 mil títulos, há muita coisa. Mas tente encontrar filmes brasileiros com mais de dez anos... Esse é um dos motivos que faz a gente ficar só com os americanos. O outro é que, com tanta lavagem cerebral, às vezes o nosso gosto passa a descartar ritmos mais lentos, com uma edição mais contida, falados em outras línguas.
Pessoalmente, fiz a minha listinha dos melhores e piores filmes falados em inglês da década de 90, com direito a várias menções honrosas. Mas o legal é que o nosso próprio gosto muda. Hoje eu incluiria Matrix entre os dez, por exemplo. Outro dia revi um clássico do Billy Wilder, Pacto Sinistro (Double Indemnity, que descobri que em Portugal se chama Pagos a Dobrar), que sempre amei, e não me pareceu tudo aquilo não. Achei que tava datado. A música insistente e a narração em off, meio óbvia, me incomodaram. Continuo amando o filme, só que nem tanto.
Bom, a pedidos, vamos começar com a lista do American Film Institute pros 100 Filmes Americanos Mais Engraçados de Todos os Tempos (que vão só até 1996, já que a lista foi feita naquele ano). Os top ten são: 1) Quanto Mais Quente Melhor (1959), 2) Tootsie (1982), 3) Dr. Fantástico (1964), 4) Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (Annie Hall, 1977), 5) Diabo a Quatro (Duck Soup, 1933), 6) Banzé no Oeste (Blazing Saddles, 1974), 7) MASH (1970), 8) Aconteceu Naquela Noite (1934), 9) A Primeira Noite de um Homem (1967), e 10) Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! (1980). Os 90 restantes estão aqui.
Depende demais do senso de humor e do estilo de cada pessoa, né? O que os organizadores da lista tentaram fazer foi incluir diretores respeitadíssimos do gênero, como Billy Wilder, Woody Allen, irmãos Marx, Frank Capra, e bem menos respeitado, tadinho, Mel Brooks. Eu adoro Tootsie e gosto bastante de A Primeira Noite, mas até que ponto eles realmente são engraçados? Não são mais ótimas sátiras de costumes de uma época? Dr. Fantástico tem tantas cenas clássicas (a conversa entre o presidente americano e o russo, Mandrake precisando arrombar uma máquina de Coca-Cola pra poder ligar pro presidente) que seria impossível deixá-lo de lado, apesar do tema estar mais do que datado (felizmente não temos mais Guerra Fria ou ameça constante de uma hecatombe nuclear). Ainda sobre Dr. Fantástico, não há outro diretor fora o Kubrick que consiga estar presente nas listas de melhores de tantos gêneros diferentes. Se o critério pra escolher o maior diretor de todos os tempos for a diversidade, ninguém ganha dele. É o mais eclético de todos.
Diabo a Quatro é fofo, mas dos Marx prefiro Uma Noite na Ópera. Banzé no Oeste tem ótimas sacadas, embora sofra do mal clássico do Mel Brooks, que é não conseguir segurar o ritmo. Apertem os Cintos claramente estaria na minha listinha. Difícil concorrer com ele se levar em consideração o número de gargalhadas geradas. MASH eu não gosto mesmo, e depois de detestar Nashville, tô chegando à conclusão que o Robert Altman deve ser o diretor mais superestimado de todos os tempos. Taí uma boa lista, a do diretor mais superestimado de todos os tempos. Como todas, será pessoal.