LOLINHA EM CRISE
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LOLINHA EM CRISE


Estou em crise. Não muito séria, que minhas crises nunca são muito sérias. Mas estou. E nem sei se devo revelar algo assim neste espaço, que é público, mas vocês me conhecem. Então. Na terça acordei pensando se eu quero mesmo me mudar pra Fortaleza pra dar aulas na UFC (a universidade ainda não nos chamou, mas parece que é só uma questão de tempo. As aulas começam dia 18 de fevereiro).
Financeiramente, não vale a pena ir pra lá, só a longo prazo. O maridão está ganhando bastante bem. Se a gente ficasse aqui em Joinville e eu desse umas 15 a 20 horas de aula de inglês por semana numa escola de idiomas (como fazia antes de entrar no mestrado, e voltei a fazer durante um semestre, em 2005, que foi o tempo de espera pra entrar no doutorado), mais o dinheirinho que recebo do jornal, já daria pra equipará-lo. Juntos, receberíamos por mês o que mais ou menos eu ganharia sozinha em Fortaleza (líquidos, imagino, uns 5 mil. O salário inicial pra doutor numa federal é R$ 6.700). Mas sem stress de mudança, sem ter que comprar uma casa nova.
É tudo confuso, porque já estamos em Joinville desde 1993 (não seguidamente: durante parte do meu mestrado e doutorado, eu ficava em Floripa e só vinha pra cá no final de semana. E passamos 2007-8 em Detroit). Gostamos muito daqui, temos uma vida boa, recebo ingressos pra ir ao cinema de graça (infelizmente não há muitas salas, mas pelo menos quatro novas abrirão até abril), conhecemos os lugares onde gostamos de comer, eu dirijo numa boa, e a criminalidade é baixa. Não tem isso de “separar o dinheiro pro ladrão”, como eu fazia antes de sair em SP, quando eu vivia com medo. E vocês viram que nossa casinha é fofa, arborizada, com jardim, iluminada, aconchegante.
Assim que comecei o doutorado, falei pro maridão que, quando terminasse, eu prestaria concurso pra dar aula em qualquer lugar do país. Porque o mestrado eu fiz puramente pelo prazer de estudar, mas o doutorado leva tempo pra caramba, e é um sacrifício em vários sentidos. Meu amor concordou. Tive uma sorte imensa de passar logo pro primeiro concurso que tentei, e bem numa capital nordestina, que era exatamente o que queríamos. Mas agora, chegando a hora de mudar, eu fico com o pé atrás de largar tudo aqui. Duvido que encontremos uma casa lá tão boa quanto a que temos aqui. Lá é cidade grande, e vou ter que voltar a me acostumar com a criminalidade e o trânsito caótico. Sem falar que o custo de vida é mais alto que o de Joinville. E vou ter que trabalhar muito, muito mais.
Tem outra coisa. Eu e o maridão nunca ganhamos bem, mas, como sempre gastamos pouco, praticamente todo mês conseguimos guardar dinheiro. Pelos meus cálculos, mantendo um custo de vida baixo, como o nosso, daria pra gente se aposentar em menos de cinco anos. Por mais que isso pareça sedutor, nem eu nem o maridão pensamos no que faríamos sem trabalhar. Quem disse que eu quero me aposentar antes dos 50? Eu realmente não sei.
Bom, essas eram as dúvidas existenciais que eu tive ao acordar na terça (o maridão estava jogando um torneio de xadrez em Vitória, só voltou à noite), e que não se resolveram. Aí, na sexta, o departamento da UFC passou pra todos seus professores (incluindo os novatos) as matérias que cada um pegaria no semestre que vem. Vocês querem ouvir a boa ou a má notícia primeiro? A boa notícia é que minhas aulas não serão à noite. Poderei ir andando pro trabalho, se a gente não morar muito longe. A má notícia é... nem sei como dizer. Segue o diálogo que tive com uma amiga.
Eu disse: “Estou arrasada. Imagine a pior matéria que eu poderia pegar. A pior de todas, a que menos gosto”.
Ela: “Não sei... Literatura inglesa do século 11?”
Eu: “Literatura? Qualquer literatura seria uma benção! Claro que não! Fonética, foi isso que eu peguei!”. E ela, que também é da área de Literatura, admitiu que esse realmente é um baque duro.
Não vou repetir neste post que já está enorme a minha aversão por Fonética. Muitos anos atrás, antes até de entrar no mestrado, falei sobre isso. Sofri recentemente porque um dos quinze pontos do concurso era sobre Fonética. Eu me preparei; felizmente não caiu. Mas é que eu pensava que, como no concurso (que realmente era pra Literatura e Linguística) a Literatura foi privilegiada, eu iria só dar aulas de Literatura. Chuif. Fonética! Uma outra matéria é Fins Específicos, relacionada à Leitura (outro tema linguístico). E só minha terceira disciplina será de Literatura.
Falei com uns amigos do meio universitário, e eles disseram que é assim mesmo, que ninguém pega as matérias que quer no primeiro ano, mas que depois melhora. Que em qualquer universidade que entrasse, eu teria que dar aulas sobre temas não totalmente do meu agrado. O maridão falou que não quer nem saber de frescuras e que confia em mim para garantir-lhe uma bela rede na praia e água de coco, e até deu um bom argumento: numa escola de línguas também haveria turmas difíceis (é verdade, eu sempre preferi mil vezes dar aula pra turma avançada que iniciante). Meus amigos ainda afirmaram que, se eu não assumir o cargo, a universidade perde a vaga, pois não terá tempo hábil de realizar outro concurso. E os temores de sempre sobre como não teremos mais contratações ou novas federais se o PSDB voltar ao poder.
Depois fui ver a grade curricular do curso de Letras Português e Inglês da UFC e constatei que há poucas disciplinas referentes à Literatura em Língua Inglesa (veja aqui). E mais: lá não há pós-graduação em Literatura em Língua Inglesa, só em Linguística. Logo—e não sei se estou sendo ambiciosa ou lunática demais—eu e meus colegas simplesmente teremos que abrir um curso desses. Ou vai ou racha.
Bom, estou melhor e mais otimista depois de falar com meus amigos, mas minhas dúvidas existenciais vão e voltam. Minha mãe vai ter um treco ao ler isto, porque ela nem sabia que correu o risco de não ir pra Fortaleza... Claro que eu ainda posso ser reprovada nos exames médicos. Já contei que vi meu raio x das costas, e veio escrito “alterações degenerativas da coluna dorsal”? Minhas costas começaram a doer no ato, e olha que eu raramente tenho dores! Quando o maridão voltou do trabalho eu já tava falando de não ser aceita pela UFC e de me aposentar por invalidez. Ele falou pra eu googlar o troço, e, de fato, eu ainda não me tornei uma completa inválida. Parece que todo ser humano tem essas degenerações, por sermos bípedes. Aqueles em idade mais avançada como a minha têm mais.
E sim, tenho ciência que estou reclamando de barriga cheia e coluna degenerada: vou receber um super salário, morar numa cidade linda, e trabalhar numa ótima universidade. Bem melhor que ser professora na Uniban, eu sei, eu sei.




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