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RESPOSTA À PERCEPÇÃO EQUIVOCADA DE UMA LEITORA, E MEU FUTURO DE VIDA
No meu post sobre as vantagens de não ter um carro, uma leitora e comentarista frequente disse que não vê nada de “nadar contra a corrente” em ser uma sem-carro, perguntou se eu era comunista e disparou: “Sinto que você justifica muito sua condição supostamente livre de bens materiais quando na verdade você gostaria é de ter muito mais e morar em cidades grandes. É uma percepção; não vá ficar chateada comigo”. Eu comecei a responder a Gi e ficou longo demais. Tá aqui como post: Tudo bem você ter sua percepção sobre mim, Gi, mas ela está completamente enganada. Eu tenho bens materiais, ué, como todo mundo. Só que tenho menos que muita gente, porque não gosto de gastar ou de me encher de coisas que não preciso. Se eu quisesse “ter mais”, eu compraria. Tenho dinheiro pra comprar o que quiser, simplesmente porque guardo dinheiro desde que comecei a trabalhar, com 19 anos. Quanto a morar em cidades grandes, eu morei boa parte da minha vida em metrópoles. Nasci em Buenos Aires, morei 6 anos no Rio, e 16 em SP. Tudo cidade enorme. Não sinto nenhuma vontade de viver em algum lugar com mais de um milhão, um milhão e meio de habitantes. Uma cidade como Joinville, de porte médio (500 mil pessoas), pra mim é o ideal. Nem grande nem pequena. Não gostaria de viver numa cidade com menos de 300 mil - quero dizer, não sei, nunca vivi em cidade pequena. Mas vim a Joinville porque quis, e esta é uma ótima cidade. Embora eu não seja “supostamente livre de bens materiais”, eu sou livre. Posso morar onde quiser. Não tenho filhos e sempre gastei menos do que ganhei. Logo, tenho dinheiro. Isso me dá liberdade pra fazer o que eu quiser. O negócio é que eu não quero muita coisa. Minha vida tá legal do jeito que é. Este ano (ou ano que vem) vou ter que enfrentar muitas mudanças, porque termino meu doutorado em julho. Daí começa uma nova etapa na minha vida. Se eu quiser utilizar o que aprendi em dois anos de mestrado e quatro de doutorado, só sendo professora universitária mesmo. Eu adoro lecionar (dou aula de inglês há doze anos), e amei a experiência de lecionar numa universidade (dois semestres de estágio docência). Acho que eu gostaria de fazer isso por muitos anos, mas antes tenho que passar em algum concurso. Nunca fiz nenhum, e eles parecem difíceis pacas. Não sei se tenho condições de passar. E também preciso fixar algumas metas: quantos concursos vou tentar? Eles são caros. Calculo gastar entre mil e mil e quinhentos reais em cada concurso (mas esse tópico dos concursos é longo, e merece um post só pra ele).Uma amiga minha tentou dois concursos. Não passou, e foi trabalhar numa empresa particular como coordenadora de cursos de intercâmbio. Outra amiga não deseja sair de Floripa, porque acabou de reformar sua casa, e seu marido tem um bom emprego. Ainda uma outra passou num concurso e vai começar logo a lecionar na Universidade Federal do Espírito Santo. Outra foi trabalhar em Portugal, na área em que se formou. Outra partiu pra um pós-doutorado (isso existe!). Então não sei bem o que vou fazer, mas há opções. Tenho disponibilidade pra morar em outro lugar. Um objetivo que parece viável seria morar numa capital nordestina. Só não sei se dá pra se mudar pra lá na cara e na coragem, sem eu ou o maridão ter um emprego mais concreto.Fazendo algum concurso, as chances de morar numa cidade um tanto “indesejada” (minúscula e sem cinema) são grandes. Mas tudo bem morar num lugar longe do ideal por alguns anos, enquanto eu melhoro o meu currículo. Lembre-se que, quando eu terminar meu doutorado, terei 42 anos. Tem gente que termina com 30. É diferente.Também não teria problema em voltar a dar aula de inglês numa escola de idiomas. Eu não estaria utilizando o que aprendi, apenas teria um título pros alunos dizerem “Ohhh, ela é doutora!” e se iludirem pensando que ensino inglês melhor que as outras professoras por causa de um título que não tem nada a ver com a história. Um emprego desses renderia um certo sentimento de desperdício, eu acho, porque pra dar aula de inglês eu não precisaria de mestrado ou doutorado (nem de graduação). Mas o lado bom é que é fácil dar aula de inglês. Não é nenhum desafio. Preparar aula pra universidade exige infinitamente mais tempo e esforço. Eu gostei de ficar um ano fazendo tão pouquinho quanto fiz em Detroit. Assim, sem trabalhar, ou trabalhando pouco, lendo, pesquisando, e escrevendo pro blog e pro jornal. O maridão também gostou dessa boa vida. E aí seria outra opção: e se a gente meio que se aposentasse já? Não temos dinheiro suficiente pra isso ainda, mas o fato de gastar pouco permite algumas extravagâncias. Por exemplo, se cada um desse dez horas de aula particular por semana (e trabalhar dez horas por semana não é nada, convenhamos), já receberíamos o suficiente pra nos manter. Juro que dá vontade. Claro que pra mim é mais fácil conseguir aluno particular de inglês que é pro maridão conseguir aluno de xadrez. E claro que se o maridão descolasse um emprego legal a gente teria que pensar duas vezes antes de mudar.Portanto, estou numa fase de muita expectativa e indecisão. Este ano será um dos mais indefinidos da minha vida, e sou uma pessoa que gosta de planejar antecipadamente. No entanto, estou bem calma. Tranquiliza saber que a gente tem o suficiente pra nos sustentar por um bom tempo. Outra coisa que me deixa mais zen é lembrar que, quando chegamos a Joinville, quinze anos atrás, o maridão tinha muito menos experiência como professor e técnico de xadrez, e eu não tinha nem um diploma universitário, quanto mais um doutorado. E mesmo assim nos saímos bastante bem. Então não será agora que estamos mais qualificados que a vida vai dar errado. E eu sempre procuro olhar pro lado bom. Meu lema é “We can work it out”, dos Beatles. E o que o pessoal do Monty Python canta ao ser crucificado em A Vida de Brian, “Always look on the bright side of life”. Turum, turum, turum tum tum.
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