Mercados - ANTONIO DELFIM NETTO
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Mercados - ANTONIO DELFIM NETTO


FOLHA DE SP - 10/07

O grande problema implícito na organização social em que vivemos está no seguinte:


1) A história mostra que a utilização dos "mercados" para organizar a produção é resultado de um mecanismo evolutivo. Foi gerado por uma seleção quase natural dos muitos sistemas que os homens experimentaram desde que saíram da África, há 150 mil anos, para combinar uma relativa eficiência na produção de sua subsistência material com o aumento paulatino da liberdade para viver sua vida;

2) Aprendemos o seguinte: a) que um Estado forte, constitucionalmente limitado e cujo poder incumbente é escolhido pelo sufrágio universal, é fundamental para regular e "civilizar" a organização dos mercados e mantê-los funcionando; b) que, deixados a si mesmos, eles têm uma tendência a impor flutuações cíclicas no nível de emprego; c) que a crença exagerada na eficiência dos mercados financeiros, que são essenciais ao desenvolvimento, leva o sistema produtivo à submissão àqueles e, com tempo suficiente, ao domínio do próprio Estado, como vimos em 1929 e em 2008, o que coloca em grave risco o seu funcionamento.

O mecanismo de seleção a que nos referimos continua a trabalhar na direção de libertar o homem para viver a sua humanidade, com redução do trabalho necessário à sua subsistência material e dando-lhe a segurança por meio de uma organização social que vai ensaiando como combinar três objetivos não plenamente conciliáveis: maior liberdade individual, maior igualdade de oportunidade e maior eficiência produtiva.

É importante lembrar que esses três valores estão implícitos na Constituição de 1988. Ela reforçou as instituições, para que realizassem a missão de construir uma organização social que produza maior igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.

A história sugere também que o mecanismo do ingênuo "socialismo fabiano" de aproximação sucessiva é, talvez, o único capaz de produzi-la, uma vez que as alternativas propostas de substituição voluntarista e forçada da orga-nização social sugerida por cérebros peregrinos provou ser inviável.

O mundo está no limiar de uma nova e profunda revolução industrial, apoiada em novas tecnologias e no aumento dramático da velocidade de transmissão e acumulação de informação, que vai produzir uma redução do trabalho material e um gigantesco aumento do trabalho intelectual.

Para o Brasil, que está ficando mais velho sem ter ficado mais rico, as implicações de médio prazo desse processo civilizador precisam ser antecipadas mediante um dramático e apressado aumento da "qualidade" da nossa educação. Ela é essencial para salvar a economia e a democracia.




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