Por Altamiro BorgesDepois de 16 anos como fiel integrante da base de apoio dos governos tucanos em São Paulo, o deputado Roque Barbiere cogita romper com Geraldo Alckmin. Autor das graves denúncias sobre o esquema de venda de emendas na Assembléia Legislativa, ele diz que é vítima de feroz perseguição, sendo tratado como “um leproso politicamente” pelos aliados do governador do PSDB.
Em entrevista publicada hoje na Rede Brasil Atual, Barbieri reafirmou as denúncias sobre corrupção em São Paulo e garantiu que encaminhará as provas ao Ministério Público. Em setembro, o parlamentar petebista revelou que de “25% a 30%” dos deputados paulistas vendem cotas de emendas, em negociatas que envolvem empreiteiras, prefeituras e o governo – num típico “mensalão”.
Bruno Covas, o preferido de AlckminDe imediato, Barbieri passou a ser hostilizado pela base governista. Alckmin até tentou cooptá-lo com cargos, numa manobra que não deu certo. Mesmo sob violenta pressão e por motivos ainda desconhecidos, o deputado insistiu nas denúncias e afirmou que a Assembléia Legislativa de São Paulo é um “verdadeiro camelódromo”, no qual muitos deputados “se vendem”.
O caso ganhou dimensão quando o secretário estadual do Meio Ambiente e deputado licenciado, Bruno Covas (PSDB), confirmou ter sido abordado por um prefeito que lhe ofereceu 10% do valor de uma emenda. O lapso de sinceridade apavorou os tucanos, mas depois o preferido de Alckmin para disputar da prefeitura da capital paulista negou a história – apesar dela estar gravada.
Os falsos éticos do PSDBA tática do PSDB, que adora usar o discurso hipócrita do combate à corrupção, foi a de abafar as denúncias e isolar o parlamentar rebelde. Os governistas fizeram de tudo para abortar o pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que obteve até agora 30 assinaturas. Também sabotaram o depoimento do “infantil” Bruno Covas.
Neste esforço nada ético, o PSDB contou com a ajuda inestimável da mídia demotucana. Apesar da gravidade das denúncias, ela evitou qualquer estardalhaço, o que só confirma que a imprensa é seletiva e parcial. A revista Veja não deu capa; o Fantástico não produziu nenhuma “reporcagem”; e os jornalões publicaram matérias insossas, sem destaque. A blindagem midiática foi total, vergonhosa.
Deputado reafirma as denúnciasDiante do seu isolamento, Roque Barbieri agora volta à carga. Reproduzo trechos da sua entrevista:
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O que o sr. achou da lista do governo com a relação de todas as emendas empenhadas desde 2007?Vai chegar uma hora que ele (governo) vai colocar ela corretamente. A minha (parte) e a dos demais. Para onde foram, qual o valor, se foi pago, se teve aditivo, se obra foi feita, se está inacabada, se foi entregue.
Então o sr. concorda que a lista tem distorções?Sim, ainda não está 100% (correta).
O senhor se sentiu prejudicado? De acordo com o levantamento, o senhor é o 22º deputado que mais empenhou recursos.Não, nesse aspecto não.
Em que aspecto se sentiu prejudicado?Fiquei magoado pela maneira como o presidente da Assembléia (Barroz Munhoz - PSDB) e o governo trataram do assunto com relação a mim, tentando me desqualificar, exigindo que eu desse nomes, quando a própria Constituição me ampara. Eles fingiram que não me conheciam. Esse é um governo que apoio há quase 20 anos, e nunca pedi nada desonestamente. O governo me ignorou por completo.
Explique melhor isso.Como se eu tivesse falado a maior mentira do mundo, como se fosse uma surpresa, um absurdo a entrevista que eu dei, como se ninguém tivesse nem cogitado algo semelhante que pudesse ocorrer dentro da Assembléia.
O senhor acha que o governo se sentiu prejudicado por suas denúncias?Talvez, talvez tenham sim, mas a denúncia foi para o bem, não foi para o mal. Paciência, quem não deve não teme.
Alguém do governo chegou a conversar com senhor?Não, ninguém conversou comigo, nem na boa e nem na ruim. Eu virei um leproso politicamente falando, porque, no governo, ninguém tem nem coragem de chegar perto de mim.
O que achou de o governo dizer que o Bruno Covas gastou apenas R$ 2,1 milhões em 2010?O Bruno Covas primeiro disse que o prefeito ofereceu propina para ele, depois disse que foi hipoteticamente. Do Covas eu gostava muito era do Mário.
Está descartada a hipótese de o senhor deixar a base?Não, não está nada descartado. Vou esperar aprovar o orçamento, cumprir minha obrigação com o povo de São Paulo, depois, no ano que vem, eu vou me posicionar politicamente.
O presidente do PTB em São Paulo, deputado estadual Campos Machado, foi o grande defensor do governo nesse caso. Ele fez o que nenhum outro deputado governista fez. Por que isso?O Campos Machado é apaixonado pelo governador Geraldo Alckmin, que realmente é uma pessoa cativante, mas em determinado momento temos que fazer uma separação do governador e do governo. E o Campos Machado não consegue fazer isso. O compromisso dele é apoiar o governo, estando certo ou errado. Ele mostra a cara, ele tem lado.
Não seria o momento de o senhor dizer algum nome, para não deixar o assunto esfriar?Eu não posso, para satisfazer parte, prejudicar o todo. Primeiro vou conversar com o promotor. Depois, se ele seguir o caminho, com a aparelhagem que ele tem, ele vai chegar aos nomes.
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