MULHER, ESSE SER IRRESPONSÁVEL QUE SÓ QUER ABORTAR
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MULHER, ESSE SER IRRESPONSÁVEL QUE SÓ QUER ABORTAR


Quando começa a vida?, decidem os homens. Cardeal: No momento da concepção. Juiz: No nascimento. Adolescente: Quando vc pega sua carteira de motorista.

Espero que os homens que chamem mulheres que abortam de vagabundas e irresponsáveis saibam que 1) essas mulheres não fizeram o filho sozinhas, e 2) se fosse o homem quem ficasse grávido, o aborto seria legalizado. Sério. Não há a men
or dúvida disso, porque ninguém ousaria dizer a um homem que seu corpo não é dele. A questão inteirinha do aborto é uma questão sobre o controle do corpo da mulher. Convém pintar a mulher como um ser alterado, nada confiável, fraco das ideias, que precisa ser controlado. Os reaças que são contra a legalização do aborto acreditam que, sendo contra, não existem abortos. Eles somem, pluft, num passe de mágica! Acontece que eles seguem acontecendo, sempre em número maior que em países onde o aborto é legalizado. E abortos ilegais acabam matando a mulher. Mas esse é um efeito colateral que os pró-vida até gostam, né? Pena de morte pra mulher que aborta! Pois bem, ao não legalizar o aborto, vocês assinam essa sentença.
Mas o incrível é que a direita é quem mais fala em liberdade individual, em não permitir que o Estado interfira na vida das pessoas. Eles lutaram contra a obrigatoriedade de usar cinto de segurança, lembram? Porque, se a pessoa quisesse correr o risco de não usar cinto e morrer num acidente, problema dela, não do Estado. No caso do aborto, o discurso muda. Nesse caso a mulher não existe como indivíduo. Um embrião passa a ser muito mais importante que a mulher que o sustenta e carrega. Claro, até que esse embrião nasça. Porque então os reaças que chamam mulheres de vagabundas não querem mais nada com o bebê, e muito menos com a mulher, esse ser não-confiável, que precisa ser vigiado durante toda a sua gravidez. Depois de nascer, é cada um por si. E a direita detesta todos os impostos, inclusive aqueles que constroem creches e orfanatos.
Bom, o post sobre o planeta estar chegando aos 7 bilhões de pessoas não tinha nada a ver com o aborto, mas isso não impediu que um reacinha aparecesse pra dizer que a esquerda quer legalizar o aborto para reduzir a população mundial. O que não faz o menor sentido, pois, pra reduzir a população, é muito mais vantajoso manter o aborto ilegalizado – dessa forma, morrem mãe e embrião. A Laura deixou excelentes comentários:

“Me incomoda demais esse negócio de responsabilidade no discurso anti-aborto. Muita gente vem e fala que quem aborta é vagabunda. Dizem que é adolescente irresponsável ou mulher que saiu abrindo as pernas dando por aí. Aí você mostra a pesquisa do Ministério da Saúde que fala que a maioria das mulheres que abortam tem entre 20 e 29 anos e estão em relacionamento estável. Aí o discurso muda de figura. A pessoa vem com argumentos mais comedidos, para de falar de vagabunda e irresponsável, vem falar de mais campanhas de conscientização.
O que eles não entendem é que a mulher que aborta não quer seguir com a gravidez. Ela não quer estar grávida. Nem é questão de poder ou não sustentar a criança. É não querer estar grávida. É o corpo dela. Toda pessoa tem direito de ter autonomia sobre o seu próprio corpo. Tanto faz se é vagabunda, se é prostituta, se é irresponsável ou se é mãe de família. O corpo é dela. Então tem um ser dentro dela que não é mais do que um parasita. Porque esse ser não tem vida própria, sabe? Se tirar ele do corpo hospedeiro, ele morre. Logo a vida dele não é dele, é a vida dela. Por que defender um ser que não tem vida própria? Aí vem os argumentos, que o ser sente, tem mãozinha, coração formado etc. Tem. Mesmo assim, a mulher não quer ele dentro dela. O corpo que tá sofrendo mudanças é o dela. A vida que está em jogo é a dela, a dele não pode ser porque ele não tem vida própria!
Enfim, o que eu mais detesto no argumento antiaborto é isso, de umas mulheres terem direito de escolha assegurado, se foi estupro, se é anecefalia. O resultado do estupro e da anecefalia também tem vida. Também tem mãozinha e coração. Mas o que importa no caso é que a mulher foi uma mulher 'direita'. Seguiu as regras, não foi vadia, não saiu abrindo pernas pra qualquer um. Então ela merece dispor do próprio corpo. Já as outras não. Como se alguém tivesse esse direito, de decidir até que ponto os outros têm direito. De dominar o corpo do outro, forçar a manter uma gravidez indesejada. Na verdade, a vida do feto pouco importa, o que importa é que a mulher não faça determinadas coisas. Se fizer, vai ser punida com a gravidez pela sua 'irresponsabilidade'.
A maioria das mulheres que abortaram usam métodos anticoncepcionais. E engravidaram mesmo assim. A pesquisa chega a conclusão que elas não sabiam usar o anticoncepcional direito. Porque é mais simples explicar que é complicado demais pra mulher entender que tem que engolir uma pílula por dia do que admitir que os métodos anticoncepcionais não são assim tão infalíveis como pregam. Quem não conhece uma mulher que engravidou mesmo tomando a pílula? E aonde fica a tal falta de responsabilidade nessa história?
Uma em cada cinco mulheres de até 40 anos de idade já fez aborto. Assim, podemos concluir que 20% da população feminina é irresponsável.
Quem toma a pílula do dia seguinte é irresponsável também?”




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