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MULHER MORTA VENDE?
Tenho os anúncios deste post salvos faz um tempão, sempre aguardando um momento pra fazer um texto coeso e coerente sobre eles, mas o momento nunca chega. Agora, como euzinha mesma estou mais pra lá do que pra cá, e como comecei o curso de crítica da mídia na sexta, e talvez eu use algumas dessas imagens, decidi arriscar. Mas nem sei bem o que dizer. Primeiro que peguei esses anúncios (e ainda outros vintage) de vários lugares. Segundo que fico sem palavras mesmo. Talvez eu os tenha guardado pra mostrá-los pra próxima pessoa que me diga que hoje em dia a mídia trata bem as mulheres, com muito carinho, respeito e admiração. Que a mídia inteira vive glamurizando a violência, isso todo mundo sabe. Mas por que ela investe tanto nessa glamurização da violência contra a mulher? E por que passar a mensagem de que mulher boa é mulher morta? Eu até poderia entender se esses anúncios fossem usados em blogs, sites e revistas abertamente misóginos, com produtos direcionados ao consumidor masculino. Afinal, assim como existe público para o snuff film (o filme pornô em que os produtores encomendam o estupro e morte de uma mulher na vida real, e filmam os atos), certamente deve haver fetichistas que ficam felizes ao verem imagens dessas. Mas os produtos dos anúncios deste post são todos para o público feminino de alta classe. E quem compra uma coisa dessas? Que glamour! Que finesse, não é? O anúncio acima é quase institucional. Nem dá pra ver a marca (Marc Jacob) direito. É mais pra conneisseurs. As pernas abertas, com sapatos femininos, são ou um convite sexual, ou uma imagem postmortum. Como os saltos estão desalinhados, o que fica é a segunda hipótese. A alça da bolsa, sugerindo um sorriso, diz que está tudo bem usar a moça -- ela não vai se opor mesmo. O slogan diz: "Nós somos animais". E... isso que dizer que as pessoas são necrófilas? Ou que homens matam mulheres? Ou que meus gatinhos (felinos) também adorariam ver o anúncio de uma gata morta vestindo jeans?Eu não acredito que o anúncio seja dirigido às mulheres. Você consegue imaginar uma moça olhando pra isso e pensando “Uau, que legal! Vou correndo comprar uma calça! Eu quero estar bonita assim quando eu for assassinada!”.A modelo parece morta, mas na verdade não há nada que diga que está. Quer dizer, quantos cadáveres você já viu na vida real? Eu, felizmente, pouquíssimos (dois, ambos relacionados com drogas). Mas a gente certamente já viu inúmeras imagens de pessoas mortas em filmes e na TV. E os cadáveres de mulheres retirados dos rios se parecem exatamente com este: manchas na pele, hiper pálidos.Como isso está conectado com violência? Bom, digamos que não é frequente uma moça fazer topless num pântano e de repente sofrer uma morte natural, um ataque cardíaco, por exemplo. Geralmente ela é morta (não por outras mulheres), e depositada lá. O fato de estar sem camisa aponta pra violência sexual.Já esta imagem é mais andrógina, na minha opinião. Pode ser de homem ou de mulher. Mas, por estar veiculada com a mesma campanha do anúncio acima, nosso cérebro diz que são pernas femininas que estamos vendo. Porém, de um jeito ou de outro, continuo sem entender como isso faria alguma consumidora sair correndo pra comprar uma calça jeans dessa marca. Este último ao menos traz o benefício da dúvida: de repente esta mulher morreu sozinha, simplesmente tropeçando na escada ao usar sapatos e roupas desconfortáveis que certamente não foram feitos para alguém se mexer. Ou alguém pode tê-la empurrado, lógico. Em comum, todos os anúncios trazem mulheres em poses sexualmente passivas, que não oferecem resistência. Não há o menor indício de vida nessas poses, muito menos de desejo ou autonomia. A ação fica toda pra quem vê o anúncio. Existem séries de anúncios e comerciais com a temática do estupro, da humilhação diante do homem, da ejaculação no rosto da mulher, etc etc. O que me chama a atenção nesses que selecionei é que neles, além da conotação sexual, as mulheres parecem estar mortas. Mas com que propósito: mulher morta vende? E a que tipo de consumidor@? Porque eu, que não sou consumidora de nada, muito menos de produtos de grife, ao ver essas peças não penso em sacar meu cartão de crédito para comprar. Pelo contrário, fico mais apta a boicotar marcas que usam mulheres mortas para vender.
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