GUEST POST: CEM COMENTÁRIOS EM DEZ HORAS
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GUEST POST: CEM COMENTÁRIOS EM DEZ HORAS


O vídeo de uma mulher andando nas ruas de Nova York e tendo que ouvir um monte de baboseira -- que algumas pessoas insistem em chamar de elogios -- viralizou no Facebook, e vem rendendo boas discussões. 
A página Cantada de Rua redigiu este texto sobre o assunto e o enviou pra mim. Todo mundo já sabe minha posição sobre assédio na rua: não é bom pro ego, não é gentileza, não é legal. É assédio sexual. Abuso. Demonstração de poder. Terrorismo sexual. Lembrança de quem manda.
Update: Muita gente reparou que a maior parte dos assediadores é não branca. O diretor do vídeo afirmou que havia equilíbrio entre os homens brancos e negros e latinos que falaram alguma coisa para a moça, mas que, em alguns momentos, essas cenas não ficaram boas (havia barulho demais). De toda forma, é uma polêmica válida. O vídeo realmente não é representativo da realidade.
Deixaram de fora os homens brancos no vídeo. Pessoas brancas não podem nem discutir assédio na rua sem demonizar homens não-brancos.
Esta mulher caminha na rua em Nova Iorque. A sua frente uma câmera GoPro escondida revela o tipo de coisa que as mulheres têm que passar ao andar nas ruas TODOS OS DIAS. Ela caminha por algumas horas na rua e é alvo de mais de 100 comentários de homens, sem contar buzinas e assobios. (Está em inglês mas dá pra entender perfeitamente).
No Brasil é exatamente a mesma situação.
Uma mulher não anda sozinha nunca. Ela está sempre sendo observada. Ela sabe que está sendo e que em algum momento será abordada, por mais que se previna de todas as formas possíveis que uma vítima de assédio de rua pode se prevenir.
Ela troca de roupa, ela muda o caminho, ela evita sair à noite e também de dia, ela gasta a mais pegando um táxi em um trajeto que poderia fazer a pé ou de ônibus, ela não passa na frente do bar, ela faz o caminho mais longo, ela passa a usar fone de ouvido para sair na rua, ela só sai se o namorado for junto. Ou ela simplesmente não sai.
Ela faz uma série de arranjos para fazer o que precisa fazer. Sair para trabalhar, para estudar, ir ao mercado ou até mesmo fazer um exercício é uma tarefa que exige uma série de pensamentos prévios.
Pensamentos com que homem NENHUM precisa se preocupar.
O assédio de rua escancara as nossas diferenças de gênero.
Como deve ser sair à rua e "só" se preocupar em ser assaltada ou morta? Não temer assédio ou estupro? Sair e simplesmente viver?
Não é a roupa. Não é o horário. Não é a rua. Não é um sorriso. Não é a mulher que deu abertura ou deu a entender que estava interessada. Não é a mulher. É o homem. É quem assedia.
Enquanto nem todos os homens praticam assédio, todas as mulheres planejam suas idas à rua pensando nisso.
Este é um problema de todas. De todos.
No momento em que um homem volta pra casa a pé e sozinho à noite, pode lembrar que metade da população não considera esta uma opção viável.
No momento em que um homem vê um outro homem constrangendo uma mulher, pode lembrar que esta mulher deve estar se sentindo acuada e que não reage por medo.
Vivemos em um mundo que mulheres têm tantas atribuições quanto homens, mas nós não podemos andar nas ruas da mesma maneira.
Os prejuízos na vida das mulheres são incalculáveis. Quantos cursos você já deixou de fazer porque eram à noite? Quantas vezes deixou de se exercitar porque a rua se tornou um lugar hostil? 
Quantos amigos deixou de ver? A quantas palestras deixou de ir por que não havia um caminho seguro para voltar? Quantas viagens por conta própria deixou de fazer? Quantos momentos deixou de viver?
Podemos levar este assunto ainda mais além e propor ainda mais perguntas: Será que ter que gastar uma preciosa energia diária se preocupando com algo básico como integridade física não está atrapalhando o suficiente a vida das mulheres? Quantas mulheres estão nos lugares que decidem o que é importante? Por que nesses lugares são sempre minoria? 
Quantas estão no topo? Será uma coincidência que a maioria dos líderes são homens? O que as mulheres estão vivendo que as impede de chegar lá?
Quantas vezes você já deixou de sair por medo?
Quantas vezes temeu que o assédio se tornasse uma abordagem perigosa?
Quantas coisas está deixando de fazer, coisas que neste momento a outra metade da população está fazendo?
Isso parece justo?
O que nós podemos fazer para mudar?´

Mais um update: O vídeo está fazendo tanto sucesso que já teve até paródia -- muito boa, aliás. Como seria pros homens, esses privilegiados. 
E este vídeo também é excelente: o que os homens realmente querem dizer quando assediam mulheres na rua (tem que saber inglês).




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