SOBRE O MACHISMO QUE NÃO EXISTE MAIS
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SOBRE O MACHISMO QUE NÃO EXISTE MAIS


Quando, na minha mais tenra infância, eu lia a revista feminista Ms, a seção que eu mais gostava era a que criticava anúncios machistas. Sempre havia uma infininidade de propagandas que usavam mulheres como objetos sexuais, ou mostravam que o lugar delas era na cozinha, ou as acusavam de ser o sexo burro. Pra mim, uma das provas que o movimento feminista ainda é muito necessário é que tantos anúncios assim persistam hoje, trinta anos depois. E tô falando dos EUA. A gente sabe como é no Brasil. Aliás, quando eu voltar praí, vou tirar fotos e começar uma coluna semanal de anúncios e comerciais machistas. Indicações serão muito bem-vindas (e por falar em machismo, que tanta gente considera sepultado atualmente: numa convenção da Hillary Clinton, dois homens interromperam seu discurso gritando “Passe a minha camisa!” Porque mulher não serve pra ser presidente. Só pra cuidar da casa).
Mas não é terrível que mesmo um anúncio bem-intencionado caia no mesmo erro? Veja esta propaganda contra “statutory rape” – é considerado estupro um homem com mais de 18 anos fazer sexo com uma menina menor de idade, o que já é esquisito. Sei lá, e se a moça tiver 15, e seu namorado, 20? Não parece uma diferença de idade tão grande assim. Mas, enfim, a campanha decidiu colocar fotos de corpos femininos adultos com cabeças de crianças. O texto diz que, se você vê uma menina como algo mais, você precisa de ajuda. Tá, mas a foto em questão é a primeira a exibir a menina como um mulherão. Todos nós precisamos de ajuda? Ou só o publicitário que criou a campanha? Fora isso, o pouco que conheço sobre pedofilia me diz que homens que gostam de meninas gostam delas justamente por serem meninas. Pedófilos não gostam de mulher adulta, ué. Uma das partes mais chocantes do fabuloso Lolita do Nabokov é aquela em que seu narrador e protagonista, Humbert, planeja como eternizar sua ninfeta. Ele sabe que, quando Lolita chegar aos 15 anos, ele não a desejará mais, e pensa no que fará com ela (como a abandonará) e, se antes disso acontecer, ele pode talvez engravidá-la para que ela gere uma nova Lolita (é francamente hediondo, mas o livro é tão mais do que isso. Leia se ainda não leu!). Fico pensando no Humbert olhando esse anúncio. Desconfio que ele seria o primeiro a achá-lo de mau gosto.




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