NÃO CONFIE NUM BLOG CHEIO DE ERROS PRIMÁRIOS
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NÃO CONFIE NUM BLOG CHEIO DE ERROS PRIMÁRIOS


O João tomou as dores do Serge e deixou um comentário aqui:

Uma vez li aqui neste blog um comentário sobre os frequentes erros que a Lola comete ao escrever e que isso não condizia com sua titulação. Obviamente, o comentário foi achincalhado porque os 'bravos defensores' da Lola, aqueles que acham que quem lê aqui deve pensar exatamente como a Lola e como os outros comentaristas; que o blog é dela e ela escreve como quiser – a despeito de ostentar ali do lado o perfil no qual diz que é doutora em Letras (e não me venham dizer que pode ser um doutorando em Letras, mas que a tese foi 'por que o jota tem pingo', porque isso desobrigaria a pessoa de escrever certo; afinal, estudou quatro anos para analisar o pingo do jota e não para saber mais sobre a língua!). Aí alguém diz que não é porque se tem um título de doutor que é preciso escrever sempre formalmente. Que defesa! Gente, quem é que disse que falar/escrever informalmente implica escrever/falar errado? É possível, sim, escrever de forma simples e correta ao mesmo tempo (como não colocando acento grave antes da palavra 'nada', entre tantos outros.)
Eu mesmo já comentei com a Lola sobre erros primários que ela comete ao escrever, porque acho que um profissional deve esforçar-se para não cometer erros na sua área de atuação. Digo 'esforçar-se' porque isso é uma atitude contínua. Não que prestando atenção nunca se vá errar; claro que não é tão simples assim. Mas tenho certeza de que já entenderam. Alguém confiaria um médico que diz que você está com cefaleia no pé esquerdo ou tendinite no olho direito?
Claro, claro, sei que o conteúdo é mais importante que a forma! (Quem estudou sobre ensino de línguas, incluindo a abordagem comunicativa, sabe muito bem disso.) Ninguém precisa me dizer isso. Mas que tal fazer um esforço (inclusive os comentaristas) para que se evitem erros primários no que se escreve aqui, unido conteúdo e forma?

Ai ai, João, impressionante o seu comentário! E isso vindo de um amigo, de alguém que foi meu colega no início do mestrado! Quantas vezes viajamos juntos de Floripa pra Joinville?
Vc tem todo o direito de criticar, João. O que me impressiona é que vc fale em “erros primários que a Lola comete ao escrever” e “frequentes erros”. Putz, são mesmo tão frequentes assim? Sério mesmo, vamos analisar: quantos erros há por post? Chega a um? Quantos a cada cinco posts? E não venha me dizer que escrever “meio que” é erro, porque não é.
Seu comentário é impressionante também porque, ao mesmo tempo que exige que uma acadêmica escreva como uma acadêmica, desdenha da Academia. Vc fez parte da Academia, João. Só porque não terminou o seu mestrado, agora vai ficar insinuando que teses são inúteis, no nível de “por que o jota tem pingo”? Você diria o mesmo se tivesse escrito a sua tese?
João, como sou sua amiga e já convivi bastante com vc, sei como isso de falar/escrever corretamente é uma obsessão para vc. Lembro de vc no carro todo feliz, me elogiando, só porque eu usava o “vir/vier” corretamente. Como se isso fosse algo importantíssimo na vida! Lembro de vc insistindo sempre em falar/escrever em inglês, e avaliando as pessoas de acordo com o inglês que tinham. Não é à toa que hoje vc trabalhe como revisor! Pescar erros, corrigi-los, talvez até avaliar quem os comete, faz parte da sua profissão. Vc TEM que colocar a gramática normativa nas alturas. Vc vive disso, é a sua chance de valorizar o seu trabalho, de sentir-se especial, único, acima dos reles mortais. Eu já fui assim, sabe? Inclusive já fui revisora, em outra reencarnação (não estou dizendo que todos os revisores agem dessa forma. Meu modelo de revisor, uma pessoa modesta com 20 anos de experiência na área e que eu consultava toda vez que tinha alguma dúvida, não se via como superior a ninguém só por conhecer gramática). Eu também já olhei torto pra quem ousou cometer algum erro ao falar ou escrever perto de mim. Mas eu mudei. Não sei se ter lido o ótimo livro do Marcos Bagno, Preconceito Linguístico, teve algo a ver com isso. Isso foi na faculdade de Pedagogia. Ou pode ser que eu tenha mudado porque ficava muito mais chocada com aqueles que chamavam (e ainda chamam, claro) o Lula de analfabeto, imbecil, burro, ignorante etc do que com os erros de português que o Lula cometia e comete. Até porque passei a prestar mais atenção nos discursos dos eruditos, dos sociólogos de Sorbonne, e constatei que eles também cometem erros. Sabe por quê? Porque todo mundo comete erros. Todo mundo. Até você (por falar nisso, no seu comentário há dois erros. Dois num só comentário, apesar dos seus esforços. Imagina se vc tivesse um blog com posts diários).
Eu não escrevo em linguagem acadêmica no meu blog. Eu sou mestre e doutora em Literatura em Língua Inglesa. Sei que no meu diploma está escrito “Doutora em Letras – Inglês”, mas realmente não me considero apta a dar aulas em qualquer área de Letras. Muito pelo contrário. Mas o que isso tem a ver com o blog? Vc preferiria que eu não colocasse a minha titulação no meu perfil? Bom, faz um tempinho que penso em tirá-la. Afinal, fez sentido durante os seis anos em que eu era exatamente isso, mestranda e doutoranda. Agora sou professora de uma federal. Mas, pra ser professora, eu precisei desses títulos. Senão não poderia nem ter prestado o concurso. Eu deixo essa descrição, no fundo, pra colocar minhas linhas de pesquisa – cinema, literatura, teatro, tudo isso em língua inglesa. Principalmente a parte de cinema, já que sou crítica (prefiro a designação que inventei, cronista de cinema) desde 98. Porque até hoje aparece um ou outro que, apenas por não concordar com o que escrevi sobre algum filme, diz “Vai estudar cinema!”. E, believe me, eu estudei muito mais Cinema que Fonética na pós-graduação em Letras (Opa, agora que vi que, na última modificação do meu perfil, eu tirei minhas linhas de pesquisa!).
Mas nem por este não ser um blog acadêmico quer dizer que eu escreva “errado” (e o que é escrever "certo"? É se comunicar numa língua). Faça o teste: quantos erros por post? Não tenho revisor. Eu releio o post uma só vez antes de publicá-lo (comentários, não releio), e às vezes passam erros. Às vezes tenho dúvidas sobre como se escreve alguma palavra, sobre crase e sobre os quatro tipos de porque. Em geral não, já que tive a sorte de aprender essas regrinhas quando estava na escola, na época em que eu associava saber usar crase ao caráter de uma pessoa. Hoje não dou a mínima se alguém erra a crase. Por mim, na reforma ortográfica eu simplesmente aboliria a crase e deixaria dois tipos de porque (um pra frases declarativas, outro pra perguntas) – se tanto. Faz muito tempo que deixei de me sentir superior às pessoas por eu saber escrever corretamente, e elas, na média, não. Assim como não me considero superior a ninguém por eu ter doutorado (nem me via como inferior antes de ter a graduação). Sei que sou diferente e fora (não acima) do padrão em muitas esferas (por eu ser feminista, por ser de esquerda, por não ter filhos, por não ser consumista, por não ter dívidas, por ser ateia, por não ter orelha furada, por nunca ter pintado as unhas, por ser feliz etc), e sinto até um certo orgulho dessas diferenças. E também me orgulho da minha titulação. Dá pra me orgulhar sem me sentir superior e sem exigir que todos ajam segundo os meus valores? Acho que dá.
Quando vc fala em “bravos defensores” meus, vejo aí um certo desapontamento que vai muito além dos erros tão primários e tão frequentes que cometo. João, pelos seus comentários aqui, vc é minoria, tanto no que se refere à luta das mulheres por direitos iguais, quanto no espectro político. E, pelo jeito, ser minoria te incomoda. Vc gostaria que este blog fosse infestado de comentaristas que discordam de mim. Bom, não é bem assim que blogs funcionam. As pessoas tendem a ler com mais frequência quem tem uma afinidade, mesmo que mínima, com a sua opinião. Tipo, eu não leio blogs nazistas. De vez em quando leio blogs machistas e de direita, só pra saber o que está rolando. Mas nunca comento neles, porque seria uma perda de tempo. Sinceramente, neste blog há uma diversidade de pensamento muito maior que vejo em comentários de outros blogs. Sempre aparece gente pra discordar do que escrevo, e eles não são podados. Você é um deles. Mas também aparece gente pra concordar e ampliar a discussão, pra citar exemplos, pra abrir o leque, pra pôr lenha na fogueira. Modéstia à parte, não conheço outro blog que receba comentários tão incríveis como o meu. Sinal de que estou fazendo algo certo. Fico muito feliz por atrair gente tão inteligente, tão qualificada e bem-humorada (humor é importante na minha vida). Por que ess@s comentaristas são chamad@s de fãs da Lola, puxa-sacos, bravos defensores? E quem discorda é o quê? (eu não chamo de troll. Aliás, estou sem trolls no blog atualmente, e adoraria continuar assim). Você pode ter notado que duas das pessoas que responderam ao comentário do Serge (que se irrita por eu usar neologismos como meio que) disseram ser da área de Letras. Elas reagiram muito mais ao que sentem ser uma cobrança constante (doutor em Letras tem que falar assim e assado) do que a qualquer ataque a mim. Não entendo: quem quiser tem direito de criticar, mas ninguém tem direito de responder às críticas, porque qualquer resposta é ofensa?
O seu exemplo sobre não ser digno de confiança um médico que diz cefaleia no pé esquerdo é francamente ridículo, João. Primeiro porque o tal médico hipotético estaria errando um diagnóstico, não uma crase. Segundo porque se, numa das minhas aulas de literatura, ou na minha tese, eu confundisse, sei lá, autor com narrador, por exemplo, aí sim seria uma ocasião pra “perda de confiança” (acho isso forte demais, mas vá lá). Num blog informal, se alguém quiser deixar de confiar em mim porque escrevi um porque errado, bem, só posso dizer que não vou sentir falta. (Comentei o seu comentário com o maridão, e depois d'ele perguntar, espantado: “O João, num blog feminista?!”, ele respondeu: “Se eu for a um médico e ele me disser que estou com tendinite, eu mal vou saber o que é. Quero um médico que possa me explicar o que é tendinite, em linguagem que eu entenda”).
Eu sou doutora mas não sou médica, sabe? Ninguém está aqui pra se consultar comigo, não estou receitando nada, apenas dando a minha opinião sobre os mais variados assuntos. Não me coloco aqui como especialista em coisa alguma. Dou a minha verdade e sou uma pessoa ética. Quem me lê pode confiar que estou dando a minha opinião, sempre sincera, sem jogar pra torcida, mesmo que pra alguns essa opinião pareça incoerente às vezes.
Mas minha opinião raramente é única ou original. Nem a sua, João. Esta sua queixa de “escreva como uma doutora, faça jus a sua graduação!” é bem comum. Tem até um nome pra isso, que vc deve conhecer bastante bem: pedantismo.




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