Nem maior nem menor, apenas diferente - VINICIUS TORRES FREIRE
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Nem maior nem menor, apenas diferente - VINICIUS TORRES FREIRE


FOLHA DE SP - 21/01

Nova pesquisa do IBGE não nega boa situação do emprego nem sustenta críticas ao governo


HOUVE ALGUM zum-zum a respeito das novas medidas de emprego e desemprego divulgadas na semana passada pelo IBGE. A nova pesquisa, a Pnad-Contínua, vai, entre outras coisas, divulgar uma taxa trimestral de desemprego, substituindo a PME (Pesquisa Mensal de Emprego) até o final do ano.

O que mais se leu a respeito foi: 1) a taxa de desemprego no Brasil "subiu" ou "era maior do que a estimada"; 2) o Brasil não vive situação de "pleno" emprego, pois a taxa de desemprego está mais para 7,5% (da nova pesquisa) do que para os 5% na medida da PME; 3) como muitos estão fora da força de trabalho, o desemprego é potencialmente enorme.

Primeiro, o desemprego nem subiu nem caiu. A nova pesquisa mede coisas diferentes de modos diferentes, o que torna sem sentido a comparação. Trata-se agora de muito mais domicílios, muito mais cidades, numa investigação muito mais bem distribuída pelo país, não de só seis metrópoles, como até agora.

Além do mais, há diferenças, algumas sutis, no acompanhamento dos domicílios ao longo do ano, na definição de população em idade de trabalhar e desocupada. Como desemprego é a proporção de desocupados na força de trabalho, qualquer redefinição de "ocupado", "desocupado", "força de trabalho" muda a conta.

Afirmar que o desemprego "subiu" equivale a dizer que a pesquisa antiga do IBGE "mentia" porque a taxa de desemprego aberto da Pesquisa de Emprego e Desemprego (Seade-Dieese) está na casa de 7,5%, e a do IBGE, em 5% (ou vice-versa). Mas são pesquisas diferentes, com definições, perguntas e respostas diferentes.

Segundo, pode haver "pleno emprego" com taxa de desemprego de 4%, 6%, 8% ou "x"%; a taxa varia de acordo com tempo e lugar. Trata-se de medida difícil, mas, para a maioria dos economistas (os "padrão"), o conceito leva em conta a variação de desemprego, salários e produtividade.

Trata-se de uma taxa de desemprego a partir da qual há aceleração da inflação (em tese, desemprego baixo "demais" propicia alta de salários, e daí alta de custos, "tudo mais constante").

Como a nova pesquisa ainda não divulga dados de salários, tão cedo não vamos saber da variação de salário e emprego; vamos saber ainda menos da produtividade, pois essa medida de "eficiência" da economia não é muito confiável em períodos curtos de tempo. Mesmo com os dados da atual pesquisa, há controvérsia (ora cada vez menor) sobre o que é "pleno emprego" (nos EUA, houve tal polêmica em torno do ano 2000, que se repete agora, no pós-crise)

O número do desemprego é maior na Pnad-Contínua do que na PME por motivos quase intuitivos. A nova pesquisa estuda agora regiões de economia muito mais precária, de baixa oferta de oportunidades ou onde as pessoas são por algum motivo incapazes de procurar trabalho em outro lugar.

Terceiro e enfim: há milhões fora da força de trabalho; se quiserem trabalho, o desemprego "explode", se disse.

Certo há milhões fora da força de trabalho em quase qualquer país. A proporção de gente na força de trabalho depende das características da economia, das famílias, da cultura (mulheres que trabalham em casa, por exemplo). Em geral, tal proporção não varia dramaticamente no curto e no médio prazos.




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