NINGUÉM VAI INVADIR MINHA PRAIA
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NINGUÉM VAI INVADIR MINHA PRAIA


Rolou uma discussão muito interessante nos comentários do guest post da Blanca, que foi o primeiro que publiquei de uma moça magra reclamando que, mesmo magrinha, não se encaixava no padrão, por não ter peito e bunda. Blanca nunca disse que ser magra era tão ou mais difícil que ser gorda. Acho que não tem muita discussão: gordas hoje são as párias da sociedade, praticamente sinônimo de feias. Só que, sem entrar nas Olimpíadas da Opressão, que não são saudáveis pra ninguém, podemos concordar que o padrão de beleza é inatingível pra praticamente todas as mulheres, e isso é proposital. Imagine se todas nós andássemos com um sorriso no rosto e nos amando -– que creminhos a gente iria passar no rosto? Que dieta da moda (pra emagrecer ou engordar ou firmar ou sei lá o quê) iríamos fazer? Sentiríamos necessidade de torturar nossos cabelos? Toda propaganda depende de tornar aquilo que você não precisa em um objeto de desejo imprescidível. A gente vai do “não sabia que isso existia” pro “não posso viver sem isso” num instante.
Desculpe, gente, mas haverá algum exemplo melhor pra esses desejos produzidos que a moda do clareamento anal? É sério. Nos EUA chama-se anal bleaching e a moda tá pegando a todo vapor, ainda que os cremes contenham substâncias que podem provocar de queimaduras a câncer. E num caso desses eu não acredito mesmo na ladainha de “eu fiz por mim, pra eu me sentir melhor!”. Sinceramente, acho que nem contorcionista consegue ver o próprio ânus. Mas é um (novo) padrão imposto em parte pela força da pornografia. Se nos filmes pornôs todas as atrizes têm o c* rosa, então óbvio que todo o resto da população feminina no planeta deve ter também. Outra coisa é que é uma cobrança meio racista. Muitos homens dizem que é o jeito de diferenciar falsas loiras de loiras verdadeiras. A supremacia ariana começa pelo seu c*, entende? Tudo bem, eu tampouco. E chega de falar de c* por hoje.
O fato é que ninguém é perfeito. E quem quiser encontrar defeito em você, vai encontrar, fácil. Portanto, por que se preocupar? Magra, alta, baixa, gorda, cabelo liso, cabelo crespo, bunduda, sem bunda -- quem quiser criticar sempre encontrará ótimos motivos. Se você não faz nada pra seguir o padrão, você é desleixada, irresponsável, sem vaidade, nada feminina. Se você faz tudo pra seguir o padrão, você é perua, exagerada, obcecada, siliconada. De um jeito ou de outro, você nunca vai ganhar. So why worry? Be happy. Quer dizer: lógico que não se deixar afetar pelo preconceito não significa que a discriminação desaparecerá. Gordas continuarão sendo recusadas em entrevistas de emprego. Continuarão sendo pessimamente atendidas (quando são atendidas) por médicos. E precisamos seguir lutando contra isso (mesmo se você não for gord@). Mas é possível lutar sem ficar com a autoestima lá embaixo. Aliás, é mais fácil lutar tendo como aliada uma bela autoestima.
Eu não tenho a menor dúvida que, se eu não fosse gorda, seria simplesmente xingada de outra coisa. Se eu fosse a cara e o corpo da Gisele, haters, trolls, mascus ainda diriam que eu sou a mulher mais horrenda do universo. Porque não tem a ver comigo. Tem a ver com eles. Eles acham que mulher deve ser avaliada pela aparência, sempre. Que uma mulher só pode se realizar se for bonita. É a nossa função decorativa. Então, eles só conseguem nos desqualificar pela aparência também. Ok, há vezes que meus detratores usam outras ofensas da Turma da Mônica pra me descrever -– feia, chata, burra. E é só isso. Ninguém nunca se aprofunda e tenta explicar sua discordância. Só o gorda e burra e chata já são suficientes pra me desqualificar. Pra que entrar em detalhes, né?
Então, vale a pena dar ouvidos pra essa gente? Basear nossa opinião acerca de nós mesmas baseada em quem nos odeia? Não me parece uma decisão sensata. Será que realmente devemos nos deixar abater por opiniões estúpidas sobre nossa aparência?
Outro dia eu estava na praia, flutuando no paraíso, no meio de uma lagoinha, e pensando em como eu me sentia livre. Ninguém olhava pra mim. Acho que ninguém olhava pra ninguém. Bom, podia até olhar, mas não ficava encarando nem nada. Não havia ninguém lá julgando meu corpo. Inclusive, havia montes de corpos parecidos com o meu. Corpos de todas as formas, cores, idades, nenhum lembrando o que a gente vê na mídia, porque no espaço público e democrático que é a praia não há photoshop. Há muitos corpos, e todos são lindos em suas imperfeições. E aí pensei nas leitoras que me contam que não vão à praia, que não saem, que não se desnudam pros seus amores, que deixam de ter amores, tudo isso por medo do julgamento alheio.
Dane-se o julgamento e a patrulha da sociedade. Quem é ela pra nos julgar? Venham ser livres e compartilhar a praia comigo, lindonas. Tem espaço pra todo mundo.




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