NOVE FALÁCIAS SOBRE O GAMERGATE
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NOVE FALÁCIAS SOBRE O GAMERGATE


Ou resumindo Gamergate a uma só imagem

O outro post do I. sobre o gamergate estava ótimo, mas os comentários foram completamente monopolizados por uma discussão sobre (na realidade, mais contra) sexo. Espero que este post do I. atraia comentários mais pertinentes.

Para quem não sabe, Gamergate é o termo em que muitas das pessoas que se intitulam “Gamers” estão usando para se proteger dos jornalistas de demais especialidades (cinema e esporte, por exemplo) que condenam as ameaças de morte e estupro que esses gamers estão praticando contra Anita Sarkeesian, Zoe Quinn ou qualquer outra mulher que ouse questionar ou fazer algo diferente do status quo, alegando que estão cerceando a liberdade deles de ameaçar de morte ou estupro.
Vou desmontar as nove maiores falácias pró-Gamergate:
1- GAMERGATE NÃO É SOBRE MISOGINIA
Essa afirmação é completamente estúpida se considerarmos o contexto da situação. Tudo isso começou porque uma desenvolvedora de games ousou ter uma vida sexual ativa. E o "escândalo" todo só aumentou porque uma outra mulher ousou questionar a cultura machista que permeia os videogames. Mandar ameaças de estupro e chamá-la de vadia são, sim, exemplos de machismo porque a gente não espera que homens recebam ameaças de estupro ou sejam chamados de vadios como forma de depreciação sexual.
2- TODO MUNDO RECEBE AMEAÇA DE MORTE
Se você dissesse que todo mundo recebe xingamentos, eu até entenderia e concordaria. Porém, ameaça de morte é algo muito sério e geralmente não acontece depois de um desentendimento com um estranho qualquer. 
Só para vocês terem uma ideia, quando eu, que sou homem, falo de um feminismo mais radical do que o da Anita, não recebo ameaças de morte. Se eu fosse mulher, eu teria recebido muito mais que a única ameaça de morte que já recebi. Se o seu argumento for do tipo “é claro, porque ela é famosa e você é um zé-ninguém”, tenho que te lembrar que ela ficou famosa exatamente por ser uma mulher que questiona os estereótipos machistas no videogame e por ter recebido milhões de ameaças de morte por isso. Se ela nascesse homem, ela seria “apenas mais um vlogger”.
3- NÃO É SÓ HOMEM BRANCO HÉTERO QUE USA A HASHTAG #GAMERGATE
Única afirmação de que eu concordo, e mesmo assim, de forma parcial. Tem gente que entra no meio de uma multidão sem saber o contexto da situação e segue a manada apenas para ter uma sensação de estar dentro de um grupo, e o Gamergate não é diferente. Vale lembrar que, sim, a IMENSA maioria das pessoas que usam essa hashtag são homens brancos e héteros porque, na verdade, ela é usada para espantar mulheres, gays, negros e outras minorias do ramo dos videogames.
4- NEM TODOS OS GAMERS MANDAM AMEAÇAS DE MORTE
Essa afirmação depende muito de sua definição de Gamer. Uma pessoa que tem o hábito de jogar videogames? Sim, é claro que nem todos os gamers seriam assim porque, segundo essa definição, quase todo mundo seria um gamer. Com a introdução de smartphones, tablets e jogos para Facebook, várias pessoas estão sendo introduzidas aos videogames e jogando Angry Birds, Candy Crush e Farmville.
Mas nenhuma dessas pessoas se define como gamer e sequer sabe da existência dessa palavra e muito menos da existência dessas mulheres. Porém, várias das pessoas que se intitulam gamers estão mandando ameaças de morte, dando uma má impressão para o mundo exterior de que os gamers são trolls da internet que ficam assediando mulheres. Os poucos que se intitulam gamers que não estão mandando ameaças de morte estão se abdicando dessa palavra por causa dessa má fama.
Ah, e uma última coisa: quando ocorre alguma ameaça de estupro ou algum estupro de fato, a ÚLTIMA coisa que deve ser dita é que “nem todo homem é estuprador”. Isso não ajuda nem para consolar a vítima nem para combater a cultura do estupro: você está apenas se inocentando. O único motivo pelo qual você está querendo mostrar a sua inocência de maneira tão urgente talvez seja pelo fato de você ser o culpado (ou dando a impressão de ser).
5- CORRUPÇÃO NOS VIDEOGAMES É COISA SÉRIA
Usar esse argumento nessa altura do campeonato é chamar a outra pessoa de otária. “Corrupção” é um termo vago e superficial que está servindo para desviar o verdadeiro problema dessa hashtag, que é a sua misoginia.
Esquisito como que NENHUM desses “gamers” reclamam de corrupção quando alguma franquia anual como FIFA ou CoD lançam um jogo quase idêntico à versão do ano anterior e recebe um 10/10. Também é esquisito que o repórter que ficou com Zoe Quinn, o “corrupto” da história, saiu-se ileso da campanha de ódio, enquanto a mulher “corruptora” foi a que recebeu todas aquelas ameaças.
6- É SOBRE SEPARAR O JORNALISTA DO BLOGUEIRO
O argumento que estaria por trás dessa afirmação é a de que os gostos dos críticos de games e dos jornalistas de games estão muito diferentes do público médio das pessoas que costumam jogar os videogames blockbusters. Gamergate significaria colocar esses “críticos” de games para os blogs enquanto os jornalistas “de verdade” que deveriam trabalhar no ramo teriam que servir aos interesses de seu público-alvo.
E essa gente reclamava de corrupção no tópico anterior.
Ok, esse fenômeno não acontece apenas nos videogames, mas em todo o lugar, especialmente na crítica cinematográfica e literária. E não é porque os críticos geralmente tenham posturas autoritárias e teriam prazer em mandar nas coisas. Isso acontece porque críticos têm como profissão consumir arte (filme, livro, games ou quadrinhos) e isso permite com que tenham mais tempo consumindo aquilo e, consequentemente, aprendendo os clichês. 
Resumindo: críticos gostam de algo novo porque eles estão cansados de ficar vendo as mesmas coisas o tempo todo. E é por isso que os gostos tendem a ser diferentes.
7- HOMENS NÃO QUEREM QUE VIDEOGAMES CONTINUEM SENDO UM “CLUBE DO BOLINHA”
Eu sou homem e não quero que videogames continuem como um “clube do bolinha”. Porém, não é isso que estou vendo a partir da grande maioria de outros homens.
Hardcore é “jogo de homem” enquanto Casual é “jogo de mulher”. Não importa se você se dedica pra caramba em Farmville ou se você joga ocasionalmente Call of Duty; Farmville sempre será considerado casual por ter público-alvo feminino e Call of Duty sempre será considerado hardcore por ter público-alvo masculino.
Esse “muro invisível” serve exatamente para que as mulheres, embora joguem videogame, nunca entrem em seu espaço sacrossanto que são os videogames que homens consideram “de verdade”, os hardcore.
Concluindo: Gamers querem, sim, que videogames sejam um “clube dos bolinhas”. Pelo menos os que eles mais gostam.
8- É SOBRE NEGAR CENSURA
Eu preciso dizer uma coisa: condenar ameaças de morte e/ou estupro não é censura, é um dever cívico mínimo de qualquer ser humano decente. E pessoas que só vivem usando discurso de ódio precisam conviver em harmonia, caso contrário serão desprezadas pela sociedade, algo que está acontecendo agora com essas pessoas que se definem gamers.
9- É SOBRE VIDEOGAMES
Mentira! Isso tudo na verdade é sobre perseguir e assediar mulheres, é sobre ameaçar mulheres de morte e/ou estupro e, principalmente, é sobre misoginia. A única coisa que tem tangencialmente a ver com videogames é que a mulher em questão trabalhava como desenvolvedora de games e teve um caso com um jornalista de games. Só isso.




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