O CASO DE TRÁFICO HUMANO QUE ESCANDALIZA A ARGENTINA
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O CASO DE TRÁFICO HUMANO QUE ESCANDALIZA A ARGENTINA


Eu nem sabia o que estava acontecendo, até receber um email da Mari, que mora na França. Ela conta que a absolvição de acusados por tráfico humano na Argentina repercutiu enormemente em toda a Europa, e pergunta quando vou escrever sobre isso, já que, segundo ela, eu estou “sempre super antenada” (ha ha, Mari, eu sou sempre a última a saber).
Bom, tratei de me informar. O caso é sério, e parece realmente estar sacudindo a Argentina. Nesta terça, os juízes de Tucuman, uma província argentina, absolveram todas as treze pessoas acusadas de estarem envolvidas com o sequestro e exploração sexual de Marita Veron, desaparecida há uma década.
Em 2002, quando Marita tinha 23 anos, ela saiu da casa da mãe para ir ao médico. De acordo com a descrição de uma testemunha, Marita foi sequestrada por pessoas ligadas a uma rede de prostituição. Foi jogada num carro vermelho e tornou-se uma escrava sexual. Três dias depois, ela, cambaleante e drogada, foi encontrada pela polícia a 30 quilômetros de distância. Testemunhas dizem que ela parecia ter fugido de uma orgia. A polícia diz que a colocou num ônibus de volta para Tucuman. Ela nunca chegou lá.
A mãe de Marita, Susana Trimarco, iniciou uma campanha para procurá-la, e conseguiu resgatar centenas de mulheres da escravidão sexual. Trimarco foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz e recebeu várias honrarias pró-direitos humanos do governo. Mas nunca encontrou sua filha (esta busca me lembra o filme Hardcore – No Submundo do Sexo). Diz ela: “Quero minha filha viva ou morta, nem que seja só os ossos”. Parecem as palavras da mãe de Eliza Samudio. Mas são de Susana.
Mais de 150 pessoas testemunharam durante o julgamento, que levou três meses. Doze ex-escravas sexuais relataram os horrores que viveram nos bordéis. Os acusados poderiam pegar 25 anos de cadeia, mas foram absolvidos por unanimidade pelos três juízes. Protestos de direitos humanos e de movimentos de mulheres explodiram por todo o país. De acordo com um dos advogados de Susana, “Está absolutamente claro que trata-se de um caso de corrupção”. Susana disse: “Não vamos parar até que esses três criminosos [os juízes] sejam julgados. Eles foram uma vergonha para a Argentina”.
Em junho, a Caros Amigos publicou uma reportagem muito boa sobre o tráfico humano, que é o terceiro crime mais lucrativo do mundo (perde apenas para o tráfico de drogas e armas). Pra quem pensa que escravidão é algo do passado, ou restrito ao serviço terceirizado de lojas de departamento, ou que acontece só nos latifúndios da parte rural de nosso país, pense de novo.
2,4 milhões de pessoas são traficadas a cada ano. A exploração sexual constitui a ampla maioria dos casos. De cada cinco vítimas, quatro são mulheres ou meninas, e metade são menores de idade.
70 mil brasileiros, em sua grande parte brasileiras, são traficadas por ano. Os principais destinos no exterior são Espanha, Portugal, França, Itália e EUA. Mas elas trabalham espalhadas pelo Brasil também.
A mulher transformada em escrava sexual tem seus documentos retidos. Cria-se uma dívida impossível de pagar para ela, que é obrigada a se prostituir mais de dez vezes por dia. Se ela tentar fugir, pode ser morta. Sua família também é ameaçada. O lucro que as organizações criminosas têm com o tráfico de pessoas é de US$ 32 bilhões por ano.
A exploração sexual é uma praga em todo o mundo, e cada país tenta combatê-lo de sua forma. Esses dois cartazes de Cingapura são chocantes e bastante gráficos (clique para ampliar). Eles citam lojas que são apenas fachada de escravidão humana.
Esta campanha do governo de Luxemburgo diz: “Se você paga uma prostituta, você está financiando o comércio humano. Todo ano, 2,450,000 pessoas tornam-se vítimas do tráfico humano, das quais 92% acabam sendo usadas para sexo. 98% das vítimas usadas pela indústria do sexo são mulheres e crianças”. Como sabemos, a prostituição é um tema que divide as feministas. Eu sou a favor da legalização da prostituição, mas não se pode negar que a prostituição de mulheres adultas está ligada à prostituição infantil e ao tráfico humano. Prostistutas como Bruna Surfistinha formam uma minoria ínfima. E é nesse tipo de prostituta que ganha bem e diz gostar do que faz que nos baseamos para defender a autonomia e o direito de escolha à prostituição.
Este comercial anti-prostituição inverte os papéis e mostra quão agradável é prum homem fazer sexo com mulheres que ele nunca viu antes.
Este anúncio israelense transforma meia calça em arame farpado. "Milhares de mulheres em Israel são mantidas contra sua vontade na indústria de prostituição. Não seja um cúmplice". 
Em 2009, a Anistia Internacional pôs uma voluntária dentro de uma mala transparente, passando por uma esteira de aeroporto, pra chocar as pessoas com a tragédia que é o tráfico humano.
Este comercial britânico é terrivelmente violento. No final, uma voz diz: “A cada minuto, uma pessoa é usada para tráfico sexual. Não feche os olhos para os perigos do tráfico humano. A cada minuto, outra jovem é traficada pela exploração sexual. Você pode parar isso”.
Que a Argentina continue buscando justiça. E o resto do mundo também.




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