Por Marco Weissheimer, no site Sul-21:O ato “Esquenta para o Impeachment”, promovido pelo Movimento Brasil Livre na tarde deste domingo (13), no Parque de Redenção, reuniu entre 300 e 500 pessoas, segundo estimativas da Brigada Militar. Segundo os organizadores, mais de 5 mil pessoas teriam participado da manifestação em defesa da derrubada da presidenta Dilma Rousseff. No entanto, os próprios promotores do ato admitiram que a presença de público ficou abaixo do esperado e colocaram a culpa no “boicote da mídia comprada e no Facebook, que, segundo eles, teriam “boicotado” a manifestação. Além dos integrantes do Movimento Brasil Livre e da banda loka liberal, três parlamentares participaram do ato: o deputado estadual Marcel van Hattem (PP) e os deputados federais Darcisio Perondi (PMDB) e Marchezan Junior (PSDB).
Uma Kombi com equipagem de som abriu os trabalhos da manifestação anunciando que ali na Redenção, “não tinha sindicato, bandeira vermelha, nem pão com mortadela”. O serviço de som da manifestação anunciou logo no início que havia bandeiras, cartazes e faixas disponíveis ao lado do caminhão que serviu de palanque para as intervenções. Logo em seguida, a banda loka liberal desfilou seu tradicional repertórios de músicas que têm como alvo a presidenta Dilma, o ex-presidente Lula, o PT e a esquerda de modo geral. A deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB) e o deputado federal Jean Wyllys (PSOL) também foram homenageados com cânticos e palavras de ordem que desenterraram vários jargões do discurso anticomunista dos tempos da Guerra Fria. Uma equipe da RBS TV também foi hostilizada no ato. A repórter que cobria a manifestação foi chamada de “putinha da RBS” por um jovem de aproximadamente 20 anos, vestindo uma camiseta da CBF.
Ainda no início do ato, um dos integrantes do Movimento Brasil Livre, enrolado em uma bandeira do Rio Grande do Sul, convocou voluntários para ajudar a organizar a próxima manifestação. “Esta, sim, vai ser gigantesca”, assegurou. Essa próxima manifestação foi marcada para o dia 13 de março de 2016. Em sua maioria, o público tradicional do Brique da Redenção não interagiu muito com a manifestação. Com exceção da agressão verbal à jornalista da RBS, não ocorreram maiores incidentes. Os participantes do ato pró-impeachment ficaram irritados quando moradores de um prédio localizado ao lado da Redenção, colocaram bandeiras do PT e da campanha de Dilma nas janelas e sacadas de seus apartamentos. Mas a irritação teve que se limitar a alguns gritos e vaias.
Durante toda a manifestação, os seus organizadores se preocuparam em afirmar que “a Redenção não é do PT”. “Vamos mostrar hoje que a Redenção não é do PT, mas dos homens de bem”, repetiu várias vezes o animador do ato, no alto do caminhão transformado em palanque. “Hoje, a Redenção não está com a bandeira da CUT, nem como a bandeira do MST”, acrescentou, entusiasmado. De fato, não estava. Não foi vista nenhuma bandeira da CUT nem do MST na manifestação. Ao invés disso, uma grande faixa amarela amarrada junto ao Monumento do Expedicionário chamava a atenção com os dizeres: “Olavo tem razão”, uma menção ao astrólogo, ex-editor da revista Jupiter, que se transformou em um dos gurus da nova direita brasileira. A faixa não explicitava no que exatamente ele tem razão e nenhum dos oradores se manifestou a respeito também.
Gritos de “Fora, Cunha”Uma das novidades políticas da manifestação foi a inclusão do “Fora, Cunha” nos gritos dos manifestantes. Repetindo argumento apresentado no editorial deste domingo do jornal Folha de S.Paulo, os defensores do impeachment da presidenta Dilma iniciaram um movimento para tentar se separar do presidente da Câmara, até aqui um aliado estratégico da oposição. O deputado federal Darcisio Perondi (PMDB) foi o primeiro parlamentar a falar e manifestou seu compromisso de votar a favor do impeachment independentemente do desenvolvimento do processo. Perondi também se comprometeu a conquistar outros votos pró-impeachment junto à bancada gaúcha de deputados federais. Aos gritos e suando muito, o parlamentar do PMDB disse ainda que a “Dilma tem a desonestidade como método de trabalho”. Ele não disse em que exatamente a presidenta estava sendo desonesta e tampouco apresentou qualquer prova disso.
Na mesma linha de Perondi, o tucano Marchezan Junior manifestou seu apoio ao impeachment e pediu ajuda aos participantes do ato para tentar convencer outros parlamentares do Estado. Aqui em cima, vejo pessoas que não têm nenhum partido, disse ainda o filho de Nelson Marchezan, ex-líder do governo do general João Figueiredo, ao lado dos deputados Perondi, do PMDB, e Van Hattem, do PP. O encerramento do ato ficou por conta de Van Hattem, que fez um discurso inflado de ódio e repletos de jargões anticomunistas contra o PT e contra a esquerda de modo geral. “Isso aqui não é a Venezuela. A nossa bandeira jamais será vermelha”, garantiu.
O parlamentar criticou ainda a “corrupção dos governos do PT”, mas não fez nenhuma menção aos seus colegas de partido no Estado denunciados na Operação Lava Jato. O Rio Grande do Sul lidera o ranking de políticos citados na Operação Lava Jato. Ao todo, seis políticos gaúchos foram citados, todos eles deputados federais do Partido Progressista (PP). Entre eles, Luiz Carlos Heinze, que foi o deputado federal mais votado no Estado nas eleições de 2014, recebendo mais de 160 mil votos. Marcel van Hattem terminou seu discurso aos gritos, com o rosto vermelho e crispado, chamando o público a entoar um jogral: “Nós não aguentamos mais o PT”, repetiu cinco vezes. O ato chegou ao fim com seus organizadores prometendo uma “manifestação gigantesca” para março do ano que vem. Apesar das críticas ao “boicote do Facebook”, os representantes do Movimento Brasil Livre pediram que os manifestantes usem ao máximo essa plataforma para convocar pessoas para o dia 13 de março.
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