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O CÓDIGO ROSA
Vi esses dias no Copyranter um comercial divertido que parodiava a cena dos codinomes do fantástico Cães de Aluguel, do igualmente fantástico Tarantino. Lembra qual cena? Aquela em que o chefão, planejando um roubo, diz a seus ladrões que eles não devem dizer seus nomes ou qualquer dado que os identifique para os outros (veja aqui). Assim, cada um terá um codinome. Você será Mr. White, você será Mr. Green, você será Mr. Blue, e você será Mr. Pink. E um impagável Steve Buscemi se revolta: “Por que eu tenho que ser Mr. Pink?” O criminoso responde: “Porque você é uma bichona”. Inconformado, Mr. Pink quer escolher sua própria cor. “Não funciona,” explica-lhe o chefão. “Já tentei isso uma vez. Ficam nove caras brigando pra ver quem será Mr. Black”. Bom, no comercial, o bando briga (e acaba se matando, como no final de Cães) porque todo mundo quer ser Mr. Pink. E, pessoalmente, acho bem mais espirituoso que todo mundo deseje ser chamado de Mr. Pink do que nenhum dos machões querer ser Mr. Pink. O comercial (português) é pra anunciar um festival de cinema gay e lésbico de Lisboa. Gostei. É um estereótipo e tal, mas não me parece ofensivo (minha queixa seria que as lésbicas ficam totalmente de fora). Não sei se homossexuais sentiriam-se insultados. Provavelmente não, porque o comercial foi feito, se não por eles, pra eles (ok, esse não é um bom argumento. Um monte de comercial idiota é feito pra mulheres). Apesar do clichê, pra mim é engraçado que o gordinho-diva do casal gay de Modern Family diga pra câmera, num dos episódios: “Eu não amo rosa! Rosa é que me ama!”. E isso me fez refletir sobre essa associação da cor. Rosa nunca esteve tão codificado quanto hoje. Pros gays acho que está mudando (afinal, a cor-símbolo dos movimentos GLBTTT é, convenientemente, mais arco-íris que rosa). Mas se a gente ficar nos dois gêneros-padrão, tudo que é pra menina é rosa. E tem um monte de gente que acredita que isso é natural, que garotinha nasce automaticamente babando por rosa. Outro dia me peguei pensando se essa codificação por gênero não ficou forte desse jeito nas últimas duas décadas, quando conhecer o sexo do bebê antes do seu nascimento virou procedimento comum. Em outras palavras, não é que a criança passa a ser tratada como menina ou menino assim que nasce -- ela já começa a ser vista como menina ou menino meses antes, ainda no ventre da mãe. E dá-lhe (pelo menos da classe média pra cima) vestidinhos rosa, paredes do quarto rosa, brinquedos rosa, e o indefectível brinquinho na orelha para que a menina já se acostume, desde cedo, que ser feminina equivale a sofrer e se adornar, e pra que ninguém imagine que aquele bebê seja um menino. Isso soa ainda mais estranho quando a gente sabe que, até 1899, as roupinhas de bebê eram totalmente unissex.Nem sempre foi assim do rosa ser a cor oficial da femininidade. Numa revista Time de 1927, um artigo falava sobre a filha de uma princesa belga, e mencionava que o berço era logicamente azul, já que rosa era “cor de meninos”. Na tradição cristã, o vermelho sempre foi uma cor forte, e por isso associada à masculinidade. Azul era ligado a Virgem Maria, portanto, feminino. E rosa, mais fraco mas no mesmo tom do vermelho, era visto como cor de garoto. Só que durante a Primeira Guerra Mundial, azul virou a cor dos uniformes e, deste modo, tornou-se uma cor masculina. E a partir dos anos 1940 o rosa passou a ser considerado feminino. Um dos slogans para que as mulheres fossem femininas era “Pense Rosa”. Quando essa lição passou a ser ensinada para meninas, não teve mais volta.E claro que, nessa confusão que as pessoas fazem entre sexo, gênero e orientação sexual, rosa virou símbolo não só das mulheres, como também dos gays. Esclarecendo a frase acima antes de ir adiante: sexo é biológico, mulher ou homem. Gênero é uma construção social, feminino ou masculino. Não há nada biológico que determine que quem nasce com uma vagina deve adorar cuidar da casa, ou ser dócil, ou se maquiar, ou se equilibrar num salto agulha, ou amar rosa acima de todas as cores. Isso é ensinado desde os primeiros meses de vida, e repetido direto durante quase toda a vida (imagino que quando a mulher envelhece a patrulha dá um descanso), para que a mulher nunca se esqueça o que é ser feminina, e o homem, como é ser masculino. Logo, um homem hétero que ouse usar rosa está negando seu gênero. Ele não está sendo homem o suficiente. As pessoas vão olhar pra ele e pensar que ele é gay. Afinal, o pessoal pensa que um homem gay deixa de ser homem, e que uma lésbica deixa de ser mulher. Esquece que a orientação sexual de alguém não muda em nada sua anatomia. Mas, voltando à codificação do rosa: na Alemanha nazista, os prisioneiros gays eram identificados com um triângulo rosa. É horrível, mas o objetivo dos nazistas era bastante igual ao nosso: rotular para fácil identificação. É pra isso que a gente cobre um bebê de rosa, pra que ninguém corra o risco, nem por um segundo, de confundir a menina com um menino (e, principalmente, um menino com uma menina, já que o pior que pode acontecer na vida de um menino é ser confundido com menina. Na vida adulta, “mulherzinha” continua sendo insulto e representação de tudo que um homem não pode ser). Não sei, mas acho que hoje em dia gays e lésbicas têm mais sorte. Pelo menos sua cor-símbolo é um arco-íris. Que, convenhamos, é bem mais completa que rosinha.
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