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O futuro do passado de Dilma - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 28/02
Crescimento médio de 2%, menor que o de FHC, não define o insucesso econômico do governo
DÁ PARA FAZER média com os números da economia nos anos de Dilma Rousseff. Dá para fazer média com a presidente e contra ela. Na média, por exemplo, o Brasil cresceu 2% no triênio dilmiano. A fim de que o crescimento médio sob Dilma Rousseff supere o registrado nos "malditos" anos FHC, a economia terá de crescer mais de 3,1% neste 2014.
Não é impossível, apenas bem improvável. E daí? E daí, nada. Nesses termos, essa história toda é meio irrelevante, conversa de corrida de cavalos.
Se por um acaso remoto a economia crescesse 3,2% neste 2014, haveria efeitos colaterais, mais inflação e deficit externo. A economia chegaria alquebrada nas mãos do próximo governo. O conserto exigiria a redução do crescimento. Isto é, seria possível "fazer média", melhorar a média de crescimento, mas a emenda seria pior que o soneto, a vitória seria de Pirro, o lugar-comum fica à escolha do freguês.
Parece que se trata aqui apenas de uma especulação sobre a economia dos próximos anos. Mas essa também parece a história do governo Dilma.
É quase tão difícil antever o futuro do pretérito quanto o futuro do presente, tão difícil dizer "o que teria acontecido" quanto "o que acontecerá". Tendo visto o que se passou nos anos Dilma, a especulação fica menos vaporosa.
Teria sido viável o Brasil crescer mais que os 2% da média de 2011-13? Controlar de fato o excesso de consumo, em suma, controlar a inflação e os gastos crescentes do governo, para ficar apenas no básico, derrubaria o crescimento do PIB para bem menos do que 1,85% de 2011-12; 2013 talvez então pudesse ter sido um ano de recuperação mais forte. Mas 2013 não foi fácil.
Sim, qualquer analista sério e honesto irá reconhecer que a mudança da política econômica americana abalou o nosso coreto, causou insegurança econômica, o que ajudou a derrubar o PIB a partir do segundo semestre. Aliás, 2011 e 2012 também foram de tumulto horrível na Europa. Enfim, durante o triênio o país sofreu com os efeitos da, digamos, radiação de fundo da explosão de 2008.
No entanto, alguns países apanharam mais do que outros, caso do Brasil, enfraquecido pela política econômica ruim.
O governo gosta de ressaltar esse aspecto do nosso triênio de crescimento baixo, o efeito daninho do tumulto mundial, mas agiu como se estivesse tudo bem. Em 2011, recém-empossado, previa crescimento médio de 5,9% ao ano; mais tarde, de pelo menos 4%.
Para resumir, o governo de Dilma Rousseff agiu como se: 1) Não tivesse herdado problemas macroeconômicos "rudimentares" (inflação, gasto excessivo); 2) O mundo estivesse num mar de rosas; 3) Não houvesse entraves históricos ao crescimento (falta de "reformas", "liberais" ou não; 4) Fosse capaz, em termos administrativos e financeiros, de investir.
Para piorar, injetou anabolizantes na economia, que desarranjou com controles artificiais de preços, expansão inflacionária do crédito da banca estatal e do deficit público.
Caso a presidente tivesse feito a arrumação básica necessária em 2011, dificilmente o país teria crescido muito mais do que o fez. Mas Dilma Rousseff teria feito um governo melhor.
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