Geral
O império contra-ataca
Rodrigo Constantino
O Banco Central subiu a taxa de juros básica pela terceira vez seguida, para o patamar de 8,5% ao ano. As entidades industriais reclamam, os economistas "desenvolvimentistas" reclamam, mas o fato é que a inflação está acima do topo da meta, já muito elevada, do governo. Não há outro remédio. Ou há?
Na verdade, o principal foco deveria ser uma austera política de redução de gastos públicos, assim como do crédito estatal. O governo gasta muito e usou seus bancos estatais para emprestar muito. Isso tudo pressionou a inflação, apesar do fraco desempenho da economia. Chegamos a um quadro praticamente de estagflação, conforme alertei no passado. O que fazer?
Uma postura séria de estadista, que pensa nas próximas gerações e não nas próximas eleições, seria partir para essas medidas drásticas e impopulares, cortando despesas do governo. Mas com a véspera das eleições antecipada? Com multidões nas ruas clamando por melhores serviços públicos? Complicado. Seria o certo, claro. Mas não dá para imaginar este governo indo para esse tipo de sacrifício.
Resta usar o único instrumento que sobra, a taxa de juros. Sem o auxílio do lado fiscal, a magnitude do aumento dos juros para conter a inflação passa a ser enorme, colocando em risco o já pífio crescimento econômico. O que isso tudo demonstra, uma vez mais, é que não há almoço grátis. Lá atrás, quando o governo iniciou um processo de corte de juros artificial e irresponsável, muitos soltavam fogos de artifício, enquanto poucos, dentre eles esse que vos escreve, faziam alertas
de Cassandra.
O tempo costuma ser amigo da razão. Não deu outra. O governo, agora, precisa subir os juros, e nem assim tem sido capaz de conter a escalada inflacionária, pois perdeu credibilidade e as expectativas ficaram desancoradas. Os "desenvolvimentistas" comemoraram cedo demais. O império (mercado) contra-ataca. Sempre.
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