Geral
O último pilar ruindo
|
Fonte: Folha |
Rodrigo Constantino
O nível de emprego costuma ser lagging enquanto indicador econômico. Na verdade, ele é mais um efeito do que qualquer coisa. Quando um ciclo de excessos possíveis graças à bonança creditícia se esgota, isso só bate na taxa de desemprego depois.
Isso acontece porque demitir e contratar custa muito caro, especialmente no Brasil. Os empresários esperam até o limite para tomar essa decisão drástica de mandar gente embora.
É o que parece estar começando a acontecer no Brasil. O editorial da Folha relata que desde 2009 o país não tinha um ano que terminava com a taxa de desemprego maior do que começou. Diz o jornal:
São consistentes os sinais de deterioração da economia brasileira. Às evidências já conhecidas soma-se agora a taxa de desemprego, que, pela primeira vez desde 2009, apresenta uma alta em relação ao mesmo mês do ano anterior.
O dado negativo no mercado de trabalho é particularmente ruim na atual conjuntura, em que os indicadores de confiança na economia também têm constituído um quadro desalentador.
[...]
É justamente nessa armadilha que caiu o governo federal ao conduzir a política econômica de forma errática e interferir, muitas vezes de forma autoritária, na dinâmica empresarial de vários setores.
O que ainda mantinha a esperança em uma recuperação era o mercado de trabalho. De fato, era algo surpreendente a resistência do emprego no cenário de baixo crescimento do PIB.
Pois agora o aparente paradoxo começa a se resolver --pelo lado ruim. A taxa de desemprego de junho, de 6%, ainda é, em si, baixa, mas a primeira elevação do índice (na comparação anual) desde agosto de 2009 indica mudança de tendência no mercado de trabalho.
É certo que as manifestações recentes contribuíram para a queda dos indicadores de confiança do consumidor, já que elas chamaram a atenção para diversos pontos de descontentamento. Não se descarta alguma melhora nesse item.
Quanto ao mercado de trabalho, porém, é improvável uma reversão. Por ser custoso contratar e demitir, o emprego é o último a sair da inércia diante de mudanças de cenário. Mas, uma vez em movimento, é difícil de parar.
Em meu mais recente artigo no GLOBO, fiz justamente um alerta sombrio para esse quadro. Eu disse:
Portanto, eis a situação: vamos muito mal das pernas, com baixo crescimento, parcos investimentos, e alta inflação. Mas isso tudo em um cenário em que ainda há abundância de capital nos mercados e forte crescimento chinês. Como efeito disso, ainda temos um quadro de pleno emprego. Pergunta: o que acontece com a inadimplência dos bancos se o desemprego subir, lembrando que o governo vem aumentando em mais de 20% ao ano o crédito público? Pois é...
O nível baixo de desemprego é, ainda, o grande ativo político da presidente Dilma, e o que sustenta a economia patinando, em vez de ela afundar de vez. Será que este último pilar está agora ruindo também? Se a taxa de desemprego subir rapidamente, o Brasil viverá uma crise de grandes proporções. Há muita gente pendurada em dívida cujo pagamento depende do emprego. Apertem os cintos...
-
Para Onde Vai O Desemprego? - Ilan Goldfajn
O GLOBO - 04/03 Não é comum ter desemprego baixo numa economia fraca. Em geral, a desaceleração da economia contamina o mercado de trabalho, pelo menos depois de um tempo. Mas nos últimos anos no Brasil o PIB tem crescido ao redor de 2%, enquanto...
-
Nem Maior Nem Menor, Apenas Diferente - Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 21/01 Nova pesquisa do IBGE não nega boa situação do emprego nem sustenta críticas ao governo HOUVE ALGUM zum-zum a respeito das novas medidas de emprego e desemprego divulgadas na semana passada pelo IBGE. A nova pesquisa, a Pnad-Contínua,...
-
Trabalho Em Debate - Miriam LeitÃo
O GLOBO - 25/05 Os números do mercado de trabalho que saíram nos últimos dias deixariam eufóricos certos países europeus. Em abril, o IBGE captou 5,8% de desemprego, e o mercado formal criou 200 mil vagas. É o lado bom de uma economia que está...
-
Mídia Torce Pelo Desemprego
Por Altamiro Borges Depois do terrorismo criado sobre o fantasma da inflação – que transformou o tomate no novo “perigo vermelho” e virou até colar da apresentadora global Ana Maria Braga –, agora a mídia investe no risco iminente da volta...
-
Meter A Cabeça Na Areia
Apesar de toda a gente saber que quando-os-preços-sobem-a-procura-desce, há quem pense que essa lei económica não se aplica ao mercado de trabalho, podendo haver subidas consideráveis de salários sem afectar o nível de emprego. Pode ser que sim,...
Geral