Policiais levam medo à periferia de SP
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Policiais levam medo à periferia de SP


Por Igor Carvalho, no sítio SpressoSP:

Toques de recolher (alguns verdadeiros, outros hipotéticos), chacinas, batidas hostis e opressão. Esse é o cenário vivido por moradores de parte da periferia de São Paulo, nesse momento. No mês de junho, somente entre os dias 17 e 28, 127 pessoas foram assassinadas na capital paulista, segundo dados do Sistema de Informações Criminais (Infocrim), órgão ligado à secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Para efeito de comparação, no ano passado, durante o mês inteiro de junho, foram 67 homicídios.


Para Guaracy Minardi , cientista político e especialista em segurança pública, um confronto entre membros da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) e agentes da Polícia Militar (PM) poderia ser o pano de fundo dessa onda de violência. “Pode ser que os crimes estejam interligados, não tenho informações sobre isso, é apenas uma opinião baseada no cenário que estamos vendo. Se forem interligados, podemos concluir que o PCC está por trás disso, pelas características do confronto.”

O professor acredita que o alvo pode ser, também, o poder público. “Provavelmente não teremos, espero, um cenário como o de 2006, e temos que entender que o PCC não é monolítico, ele possui diversas vertentes, uma delas pode estar se articulando nesse momento. De qualquer forma, podemos estar diante de uma tentativa do PCC de enfrentar o Estado.” Recentemente, o delegado chefe da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Jorge Carrasco, admitiu que uma chacina realizada no Capão Redondo, bairro da zona sul, está sendo investigada pois seria motivada por uma vingança de agentes militares pela morte de um policial.

O Capão Redondo é um dos bairros mais atingidos pela violência. “Com essa história de pacificação, importada do Rio de Janeiro, estamos sofrendo aqui. Policiamento ostensivo e violento é comum nas ruas”, afirma a moradora Débora, que questiona a atuação da Ronda Ostensiva Tobias Aguiar (Rota). “É horrível, eles chegam em baile funkarrebentando, não querem nem saber se é mulher, se está grávida, é tudo muito violento, abordam colocando arma na cabeça das pessoas”, conta.

O cenário é parecido com o vivido na Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo. “A Rota nos incomoda muito, eles entram sem perguntar o nome, agem e depois vão saber quem é a pessoa”, afirma o educador social Nilmar da Silva Teodoro. O medo do grupo de elite da PM é explicado em números. A Rota, nos cinco primeiros meses de 2012, matou 45 pessoas, no mesmo período de 2011 foram 31 e no ano de 2010 o grupo matou 22 pessoas. As informações são do jornalista André Caramante, em matéria publicada na Folha de S. Paulo. Na mesma matéria, o tenente-coronel Salvador Modesto Madia, chefe da Rota desde novembro do ano passado, diz “não se importar com números, mas, sim, com a legalidade dessas mortes”

A atuação é questionada por Minardi. “A Rota não muda, mudam-se somente as moscas, ela continua agindo da mesma forma desde a década de 70. Gente que atuava como matador acaba tendo espaço lá.” O cientista político ressalta que o debate sobre o grupo de elite da PM deve ser levado para outra esfera. “Não podemos esquecer que isso não é um problema só da polícia, é político também, o comando da Rota é indicado pelo secretário de Segurança Pública de São Paulo.”

Direitos Humanos

Em relatório sobre a situação dos Direitos Humanos no Brasil, a Anistia Internacional admite que “agentes policiais estejam envolvidos com grupos de extermínio e com milícias que praticam ações de limpeza social e extorsão, além de tráfico de armas e de drogas.” O relatório foi divulgado dia 23 de maio, uma semana depois o Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou que a Polícia Militar seja extinta, pedindo a abolição do “sistema separado de Polícia Militar, aplicando medidas mais eficazes (…) para reduzir a incidência de execuções extrajudiciais”. Além da recomendação, o documento pede que o país contribua mais para combater os “esquadrões da morte” dentro da instituição.

Minardi lembra que não é de hoje que existem grupos de extermínio dentro da Polícia Militar e ressalta que eles “são mais ou menos organizados”, mas acredita que o ideal não seja extinguir a PM e sim “trabalhar pela unificação das polícias.” O professor argumenta que há ações positivas dentro da instituição. “A PM melhorou em alguns aspectos, principalmente quando alguns setores aderem ao policiamento comunitário, que humaniza a relação do policial com a sociedade, mas ainda é uma corrente pequena, infelizmente há uma grande parte que ainda resiste.”

Histórico

A intensificação do policiamento, o aumento dos homicídios e os toques de recolher seguidos começaram no dia 28 de maio, quando a Rota, após troca de tiros, matou cinco homens que estavam reunidos na Penha, zona leste de São Paulo. Testemunhas afirmam que um dos assassinados foi levado, ainda com vida, até a região do Parque Ecológico do Tietê e torturado. Os agentes foram detidos em flagrante pela Corregedoria da Polícia Militar e o caso é investigado pelo DHPP.

Em 2012, 41 policiais militares foram assassinados, nove deles entre os dias 30 de maio e 24 de junho. Segundo o capitão Rodrigo Cabral, da Polícia Militar, “há indícios de execução em todos os casos”. Durante todo o ano de 2011, 45 agentes foram mortos. A Polícia Militar foi procurada pela reportagem do SPressoSP, porém, até o fechamento da matéria, ainda não havia se pronunciado. A ouvidoria da Polícia Militar também foi procurada, e informou que analisará a possibilidade de responder até terça-feira (10).




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