POR QUE LAVAR ROUPA É TRABALHO APENAS DA MÃE?
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POR QUE LAVAR ROUPA É TRABALHO APENAS DA MÃE?


Achei lindo este comercial da marca de sabão em pó Ariel que está sendo veiculado na Índia. 
Ele mostra uma mulher (uma profissional que também é mãe, filha e esposa, como tantas mulheres no mundo) que tem que fazer um monte de coisas ao mesmo tempo -- falar ao telefone por conta do trabalho, cozinhar, trocar a camisa do filho, "servir" ao seu pai e marido, que ficam confortavelmente sentados, enquanto veem a moça fazer tudo. 
O pai, orgulhoso da filha, começa a se incomodar com a situação e decide escrever uma carta para ela, pedindo desculpas por ela ter que fazer tudo sozinha, por ele não ter impedido que ela brincasse de boneca, por não ter dito que todo esse trabalho não era pra ela fazer sozinha, por ter dado um mau exemplo por nunca ter ajudado a esposa (e o que sua filha viu, ela aprendeu). 
Ele pede desculpas também em nome do pai do marido, que seguramente ensinou o filho da mesma forma: "Me desculpe em nome de todos os pais que estabeleceram os exemplos errados". O pai vai pra casa e decide pelo menos ajudar a esposa a lavar a roupa. E vem a pergunta, junto com a marca: "Por que lavar roupa é trabalho apenas da mãe?"
A resposta, óbvia, e já respondida pelo comercial, é que aprendemos e ensinamos que é assim (e pior: aprendemos e ensinamos também que isso é "natural", que a natureza quis que mulheres tivessem uma atração irresistível a, ahn, máquinas de lavar roupas, essas coisas tão naturais, não construções). 
Este comercial vai contra a onda da Bombril (e de tantas outras marcas) que dizem que homens são inúteis; logo, não podem fazer tarefas domésticas. 
Não são as feministas que pensam ou dizem isso. Pelo contrário, nós acreditamos que homens são plenamente capazes de cozinhar pra toda a família, pra servir seu próprio prato, pra lavar a louça, pra varrer a casa, pra trocar a fralda do bebê, pra lavar roupa, pra todas essas coisas domésticas.
Eu sempre ouço homens, até homens jovens, suspirando pelos cantos e dizendo: "Ah, antes que era bom!" Eles se referem a quando as esposas ficavam em casa e viviam para servi-los. Sempre que ouço isso, eu pergunto: "Era bom pra quem?" Porque pergunte pra sua avó como era a vida dela. Duvido muito que ela diga "Ah, antes é que era bom!"
Ouço também mulheres de classe média (porque as mulheres pobres sempre tiveram que trabalhar fora) que ficam indignadas com a obrigação de ter que fazer tanta coisa ao mesmo tempo. Muitas culpam o feminismo. Elas acham que foi o feminismo que as "obrigou" a trabalhar fora de casa (e não políticas de governos neoliberais -- justamente aqueles que mais combatem o feminismo -- que achataram salários e inviabilizaram que uma família tradicional de classe média se sustentasse com apenas um salário). 
Pra começo de conversa, o feminismo não obriga ninguém a nada. Só acha que é uma ótima ideia que as mulheres sejam independentes. E fica difícil ser independente quando se depende financeiramente do marido. Hoje metade da força de trabalho no mundo já é composta por mulheres. Mulheres trabalham fora, ganham seu próprio dinheiro, se sustentam sozinhas, muitas vezes sustentam sozinhas suas famílias. 
O que não mudou ainda foi a participação dos homens nos afazeres domésticos. Como eles se recusam a lavar, cozinhar, varrer, trocar fralda, as mulheres fazem isso sozinhas, além de trabalhar fora. Ficam sobrecarregadas. É isso que chamamos de jornada dupla (e até tripla) de trabalho. Porque trabalho doméstico também é trabalho, embora uma sociedade patriarcal tenha decidido que não se deve remunerar esse trabalho. E, enquanto não tivermos uma participação igual dos homens nas tarefas de casa, nada mais justo que as mulheres se aposentem antes. 
Nós, mulheres, certamente estamos fazendo a nossa parte: estudando, trabalhado, ocupando todos os espaços que durante séculos foram considerados apenas masculinos. Porém, os homens ainda não estão fazendo a parte deles. Fico feliz que você, homem que vem aqui reclamar e dizer que você, sim, lava a roupa, faça a sua parte. Saiba que você é uma exceção. Só 5% dos homens brasileiros fazem isso. E, infelizmente, esses são números que praticamente não têm mudado na última década.
A propósito, hoje foi lançada uma pesquisa da ONU Mulheres que leva no máximo dez minutos pra responder. Reaças já estão se mobilizando para fazer dessa pesquisa uma condenação ao feminismo. De novo: faça a sua parte. Responda. Mude. Eduque.




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