Este texto já estava escrito na cabeça de seu autor antes de matéria da Folha de São Paulo, publicada neste sábado, 15 de agosto, ter informado que “a movimentação nas redes sociais para os protestos antigoverno deste domingo (16) foi mais fraca do que a observada antes das outras duas grandes manifestações que ocorreram neste ano, em 15 de março e 12 de abril”.
Segundo a Folha, “análise de termos relacionados a protestos feitos pela empresa de monitoramento de redes sociais Seekr” mostrou que “o assunto rendeu mais de 20 mil postagens no Twitter, no Instagram, no YouTube e no Google+, no intervalo de segunda (10) a quinta (13)”.
A empresa de pesquisa de redes sociais apurou que, ao longo da semana que finda, houve menos da metade das mais de 45 mil postagens registradas na semana anterior ao protesto de 15 de março e bem menos do que as quase 28 mil postagens que antecederam o protesto fascista de 12 de abril.
Além disso, a sondagem mostra que o ânimo com o protesto deste domingo subsiste, ainda que com muito menor força, em São Paulo, Rio e Minas Gerais – locais que, junto com Brasília, atraíram maior número de pessoas às manifestações anteriores.
Vale destacar que a pesquisa apurou um dado negativo para os petistas: os militantes virtuais pró-governo continuam atuando, mas, hoje, estão bem menos combativos que os militantes antigoverno.
A explicação da maioria dos “especialistas” para o menor ânimo com as manifestações antipetistas pode ser vista na análise do cientista político Emmanuel Publio Dias, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), entrevistado pela Folha.
Dias lembra que não existe mais o “sabor da novidade” do início do ano, quando a Operação Lava Jato chegou aos políticos. “O tema está cansando. A internet apenas reflete a falta de propostas [da oposição] de mudança da vida real”, apontou.
A matéria da Folha ainda compôs um gráfico que mostra forte correlação entre o ânimo com protestos nas redes sociais e o público que comparece a esses protestos. Confira, abaixo, o gráfico publicado pelo jornal.
Nos últimos dias, porém, este blogueiro fez uma “pesquisa” particular entre os antipetistas de seu círculo de relações sociais – a sondagem foi facilitada pelo fato de que resido e trabalho em bairros paulistanos que se situam no epicentro do fascismo e do antipetismo que imperam na capital paulista. Essa “pesquisa” se coadunou com o estudo encomendado pela Folha, mas a conclusão dos motivos para o encolhimento do ânimo para protestar neste domingo foi diferente.
A “pesquisa” deste blogueiro consistiu em medir a disposição para ir ao protesto de domingo que viceja entre a vasta fauna de antipetistas aprisionados pelo comportamento fascista inoculado pela mídia e por picaretas virtuais na população paulistana.
O campo da pesquisa resumiu-se à região em que resido e trabalho.
Em 15 de março, cheguei a receber convites de vizinhos de minha residência ou de meu escritório para ir à manifestação que levou cerca de 200 mil pessoas à avenida Paulista – esses convites ocorreram porque muitas pessoas de meu entorno social não sabiam de minha posição política ou porque queriam me provocar mesmo.
Em 12 de abril, os convites praticamente desapareceram. Um ou outro provocador me convidou, mas não houve nenhum convite bem-intencionado, ou seja, feito com sinceridade e não como provocação.
Nos últimos dias, além de não ter recebido convite para ir à marcha fascista nem na forma de provocação, perguntei a várias pessoas que já me haviam convidado para manifestações – inclusive a pessoas humildes que trabalham no comércio das regiões que frequento e que foram capturadas por uma elite que as despreza – se iriam protestar no domingo.
A caixa do pequeno supermercado próximo de casa no qual faço compras “emergenciais” desenvolveu uma aversão quase patológica ao PT. Recentemente, ela veio me dizer que “a fábrica” que faz as sacolinhas de plástico “ecológicas” que os supermercados paulistas vendem aos consumidores para embalarem suas compras foi a maior contribuinte da campanha do prefeito Fernando Haddad – uma cretinice, falsa como nota de 3 reais.
Na véspera da manifestação fascista de 15 de março último, a mulher humilde, residente em Itaquera (bairro da periferia de São Paulo), mãe solteira de duas meninas pequenas, encantou a fascistada endinheirada do meu bairro exortando todos os que passavam pelo seu caixa a irem protestar contra Dilma no dia seguinte. Desta vez, tudo mudou.
Na sexta-feira à noite fui fazer minha “pesquisa” final inventando algo para comprar no supermercado. Peguei a fila mais longa só para poder ter um dedo de prosa com a operadora de caixa antipetista. Perguntei se estava animada para ir protestar domingo e se, como na vez anterior, levaria as filhas para a manifestação.
A mulher, eleitora de Marina Silva no ano passado, disse que não iria à manifestação antigoverno deste domingo porque não sabia que estava sendo convocada pelo PSDB e que só descobriu isso através “dos comerciais” do partido na tevê. Para ela, PT e PSDB são “farinha do mesmo saco”. Por isso não irá se manifestar.
Não foi a única pessoa a dizer isso. Muita gente que aderiu a manifestações anteriores ficou surpresa com a propaganda do PSDB na TV e no rádio exortando as pessoas a irem se manifestar neste domingo. E, apesar de a propaganda tucana não ter se apresentado como autora dessa manifestação, muitos estão achando que foi convocada pelo PSDB.
Há, porém, uma outra razão muito menos citada para as pessoas não se entusiasmarem com o ato fascista deste domingo. Há pessoas achando que pode haver violência ou que o clima político pode levar o país a “uma revolução”.
Entusiastas das manifestações anteriores também passaram a dizer que “agora que Dilma está aí não tem jeito, vamos ter que aguentá-la por quatro anos”. E ao menos uma pessoa demonstrou medo de que a política possa fazer a crise aumentar e, com isso, deixar as pessoas desempregadas, ainda que tenha sido manifestação de um antipetista mais ilustrado, advogado, de meia idade.
Claro que nada disso – o que diz a matéria da Folha ou a “pesquisa” deste blogueiro – pode garantir que haverá esvaziamento do protesto deste domingo. Pode ocorrer uma surpresa? Claro que sim. Contudo, os dados são claros. O ânimo está muito menor. Se a manifestação corresponder ao ânimo, será ainda menor do que a de 12 de abril.
O efeito prático de uma manifestação menor que a de 12 de abril – que, por sua vez, foi muito menor que a de 15 de março – seria um tiro no pé dos seus autores. Revelará que o apoio ao golpismo está diminuindo. Esse fenômeno reduziria a temperatura política no Congresso e na mídia, o que, por certo, ajudaria o país a superar a crise econômica. Vamos torcer.
Vigília no Instituto LulaAo meio dia deste domingo, este blogueiro estará diante do Instituto Lula no ato de movimentos sociais e sindicais que fará uma vigília democrática no local em razão do atentado terrorista a bomba perpetrado ali no dia 30 de julho. Exorto a todos os paulistas e paulistanos que prezam a democracia a fazerem o mesmo. A ameaça fascista não pode passar.