QUEM DISSE QUE EU NÃO ME DESLUMBRO?
Geral

QUEM DISSE QUE EU NÃO ME DESLUMBRO?


Há várias coisas dos States que sentirei falta, mas acho que o principal mesmo é o estilo de vida que levei, sem muitos horários ou prazos. Morar perto de onde se trabalha ou estuda representa uma melhora incrível na qualidade de vida, porque a gente não perde tempo ou dinheiro com transporte. É só andar até lá. Portanto, terei saudades da quitinete (que eles chamam de studio) que alugávamos por apenas 385 dólares mensais (barato pros padrões daqui). Além de bem-localizada, ela nos ensinou que dá pra viver bem num lugar pouco espaçoso e sem tantos móveis. Outras coisas que lembrarei com carinho:

- Ausência de insetos – o frio intenso que dura meio ano (do qual certamente não sentirei falta) tem a vantagem de eliminar insetos. Pelo menos essa foi a minha experiência: vi uma só barata (duas, se contar a de Wall-E) em um ano inteiro de Detroit. E era uma baratinha que eu consegui matar sozinha, sem gritar ou apelar pro maridão. De vez em quando apareciam aqueles mosquitinhos minúsculos. Mas, no apê, nada de moscas ou formigas. E, principalmente, nenhum pernilongo. Só numa ou duas ocasiões fui picada num parque, mas, comparado ao banquete que geralmente proporciono aos sanguessugas (eles me amam), isso não é nada.

- Máquinas de lavar e secar no porão – não posso dizer que tenho amplo conhecimento de causa, já que era o maridão que se encarregava de lavar a roupa. No nosso prédio havia algumas máquinas. Em poucas horas as roupas ficavam limpinhas e secas. Em Joinville penduramos nossos trapinhos num varal pra secarem ao sol, e claramente nossa máquina de lavar não é tão eficiente. Mas, mesmo que fosse e que tivéssemos secadora, é diferente ter todo um aparato à disposição, sem preocupação com consertos, conta de luz ou de água. Era só depositar quatro quarters (moedas de 25 centavos) em cada uma das máquinas e pronto. Com dois dólares lavávamos tudo.

- Esquilinhos – já falei como se identifica um brasileiro nos EUA, né? Se você vir uma pessoa observando esquilos nas árvores durante horas a fio, pode falar em português que deve ser brasileira. Ah, como não ficar boba vendo esses bichinhos tão fofos? Eu poderia acrescentar que é ótimo ter o campus da universidade, cheio de bancos pra sentar e verde, sempre aberto ao público, pois vira um parque a mais na cidade. Mas a verdade é que eu não visitaria os parques com tanta frequência se não fosse pelos esquilinhos.

- Cinemas – apesar de vários multiplexes serem longe e fora de limite pra gente, das salas que frequentávamos levarem duas horas de ônibus pra ir e voltar, e da programação raramente incluir produções independentes e estrangeiras, vimos muitos filmes durante este ano, aproximadamente dois por semana (no cinema). Pensando bem, os 7 dólares que pagávamos, em média, eram mais em conta que muita sala no Brasil. Também vimos vários filmes em sessões para a imprensa. Além disso, havia o cinema de arte, do museu, a três quarteirões de casa. Será que algum dia na minha vida voltarei a morar do lado de um cinema (e de muitos museus)?

- Netflix – vai ser difícil me acostumar novamente com o sistema das locadoras de vídeo. Durante o último semestre, nós simplesmente ignoramos a TV (que é muito, muito ruim – falem o que quiserem, mas mesmo a TV a cabo é péssima. Tem porcaria demais, e muito mais intervalo comercial que programas). Víamos um filme por noite no computador. Podíamos escolher entre mais de 75 mil títulos, e custava 25 dólares por mês. Mais barato que TV a cabo, e quem fazia a programação era eu. Sem comerciais. Com a TV, eu assistia passivamente o que chegava até mim. Com a Netflix, eu escolhia ativamente. Uma diferença gritante.

- Comida chinesa – você pode dizer que isso também tem no Brasil (e provavelmente em toda parte do mundo). Eu sei. Mas duvido que haja tanta opção. Em Detroit havia uns três restaurantes chineses próximos (e estava pra abrir um novo, este coreano/japonês, a um quarteirão de casa). Não dava pra pedir comida por telefone, porque eles só entregavam em casa encomendas acima de 30 dólares. Então a gente tinha que ir lá andando buscar. Um prato grande, pra duas pessoas, custava uns US$ 7,60 e era uma delícia. Mesmo que a gente converta pra reais (o que não se deve fazer, pois o que custa um real no Brasil normalmente custa um dólar nos EUA), não acho que iremos encontrar comida boa e farta a 12 reais em Joinville.

- Luz do sol até as 9:30 da noite – houve alguns dias no longo e tenebroso inverno que durou meio ano (meio ano! E depois eles falam que gostam das estações americanas porque existe “variedade”) em que o sol se punha às 4:30 da tarde. Sério. Escuridão total no meio da tarde. Mas é mais comum ter luz até as 9 da noite, como agora. E isso alonga muito o dia.

- Internet rápida – não quero nem pensar como vamos sofrer com a internet no Brasil. Lá a conexão que temos (banda larga e tudo) é de 250 kbps . Aqui nos EUA, no primeiro semestre, foi de 10 mega. No segundo, de 5 mega. Não deu pra notar a diferença entre uma e outra. E olha que os EUA são considerados lesmas em comparação a alguns países asiáticos. Tô esperando pra ver quando vai ficar barato e ligeiro pra todo mundo, como andam prometendo há uns cinco anos, no mínimo. Tá demorando!

- Jornais e revistas de graça ou muito baratos – lamento dizer que nenhuma publicação que li foi a oitava maravilha, mas, pra gente que adora ler (inclusive nas refeições), era ótimo pegar vários jornais distribuídos gratuitamente. Além disso, recebia grátis a revista gay The Advocate, a Rolling Stone, uma feminina chamada Pink, e várias religiosas da direita cristã, pra contrabalançar e tentar me convencer que os gays vão queimar no inferno. Entre as pagas, a assinatura da Time, semanal, por um semestre, saía por uma parcela única de dez dólares. As outras, por vinte. Mas também dava pra trocá-las por pouquíssimos pontos do banco e recebê-las sem pagar um centavo.

Ou seja, foi um ano prazeroso, sem dúvida. Sei que o maridão e eu levamos uma vidinha simples e sem grandes ambições e que, inclusive por isso, somos felizes em qualquer lugar. Mas convenhamos: num lugar sem barata cascuda fica muito mais fácil.





- Como Gastamos Nosso Rico Dinheirinho
Este diagrama mostra como a família americana média gasta seu dinheiro (clique pra ampliar, ou veja o diagrama original aqui). Gostaria de conhecer os dados brasileiros, mas imagino que esses indicadores americanos sejam muito próximos aos dos brasileiros...

- Saudades De Detroit Às Vezes
Minha cachorrinha americana e sua humana brasileira. Não sinto falta de muita coisa de Detroit não, pra falar a verdade. Porque nossa vidinha lá era muito parecida à daqui. Claro, internet muito mais rápida faz falta. Netflix, então, nem se fala....

- As Recompensas Do Banco
Acabei de ganhar 48 dólares. Bom, né? É que troquei os pontos de recompensa do meu banco nos EUA (Chase) por dinheiro. Tudo bem que isso seja em cima de mais de dez mil dólares que gastei com cartão de débito durante um ano da minha estada aqui...

- Ny, A Cidade Mais Cara Dos Eua?
Primeira rua pavimentada de NY, em Wall Street O que mais me impressionou na viagem a Nova York com o maridão em meados de janeiro foi descobrir o quanto eu conhecia a cidade, mesmo sem nunca ter estado lá! Tantas ruas com nomes familiares... E certamente...

- ExperiÊncias CinematogrÁficas
Aqui em Detroit, como no Brasil, praticamente não há mais cinemas na rua, só multiplexes dentro de shoppings. E em Detroit mesmo só existem uns dois multiplexes, o resto fica nos subúrbios. Aqui não tem esse negócio de estudante pagar meia (só...



Geral








.