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Recessão "técnica", vida real e voto - VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 12/06
Cresce o risco de que país saiba, um mês antes de votar, que o PIB encolheu por um semestre
AUMENTOU O RISCO de que a economia brasileira encolha no primeiro semestre. As prévias da atividade econômica indicam que se torna mais provável uma baixa da produção no segundo trimestre e uma revisão do crescimento do início do ano.
O resultado do crescimento do PIB da primeira metade do ano será divulgado no dia 29 de agosto, quase um mês antes do primeiro turno da eleição (5 de outubro). Qual pode ser o efeito político de um Pibinho mais do que minguante?
Era razoável imaginar, desde o início do ano, que as desmelhoras econômicas cada vez mais intensas e o efeito acumulado de quase um semestre de tumulto nas ruas tenderiam a se realimentar, o que deveria afetar o prestígio e a votação de Dilma Rousseff.
Foi o que aconteceu. As desmelhoras e primeiro sinais de pioras na economia realimentaram o mau humor social e político, o que ajudou a degradar ainda mais a confiança na economia. A alta da insegurança econômica, bem maior que a deterioração da economia, está associada à baixa da popularidade da presidente e candidata Dilma Rousseff, que voltou a níveis semelhantes ao do colapso provocado por junho de 2013.
Em si mesma, a notícia de encolhimento da economia, do PIB, quase um mês antes da eleição deve ter algum impacto de imagem direto, mas nem tanto assim: o grosso do eleitorado não sabe nem quer saber o que é PIB.
A palavra "recessão" não vai pegar bem, ao menos entre a minoria que acompanha tais coisas. Caso se confirme o encolhimento semestral, muito vai se ouvir a expressão "recessão técnica", o que não quer dizer quase nada (o adjetivo "técnico" parece conferir seriedade a um substantivo, mas não tem lá grande substância além de significar dois trimestres consecutivos de produção econômica menor).
Mais importante é saber quando desse encolhimento será reflexo da deterioração econômica mais perceptível no cotidiano do grosso do eleitorado.
Indicadores antecedentes (prévias indiretas) de pesquisas da FGV passaram a captar um risco de aumento de desemprego (nas grandes cidades, o emprego já não cresce faz uns seis meses; não há desemprego maior, pois menos gente procura trabalho).
A indústria teve um maio ruim e está em regime de férias coletivas (ameaça de demissão, pois). Mas ninguém prevê explosão nem alta relevante do desemprego neste ano.
No entanto, por ora prevê-se também que o PIB do segundo semestre vai compensar parte das perdas do primeiro. Ainda assim, as previsões vão baixando. Na mediana, a centena de previsões privadas do PIB compiladas pelo Banco Central está em 1,4% para o ano (ante 2,5% de 2013) e com cara de baixar.
Ontem, os economistas do Itaú, que não são descabelados, baixaram a deles para 1%, com encolhimento no segundo trimestre.
Na ausência de novidades, a tendência é de o esfriamento se disseminar paulatinamente pela economia "real" (isto é, a da percepção cotidiana), como tem ocorrido desde o final do ano passado, clima mal temperado ainda por notícias pontualmente ruins de recessão "técnica", demissões em setores muito notórios e inflação estourando a meta por alguns meses.
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