Pra melhor adaptação pro cinema feita de uma história do King, a competição foi dura até mais ou menos a metade da enquete. Era voto a voto entre O Iluminado e Um Sonho de Liberdade. Finalmente Iluminado deslanchou e recebeu 34% dos 117 votos, enquanto Sonho teve que se contentar com 26% e um honroso segundo lugar. É até injusto, eu sei, pedir pra optar por dois filmes tão difererentes, inclusive de gêneros distintos. Ambos são grandes clássicos, na minha opinião.
Em terceiro lugar temos um resultado interessante, porque aí começa a disputa pra melhor diretor de filmes baseados em King. Kubrick e De Palma não contam, porque eles só adaptaram uma obra. Mas Rob Reiner dirigiu duas (Conta Comigo e Louca Obsessão), e Frank Darabont, três (Sonho, À Espera de um Milagre, O Nevoeiro). Então, quem fica com o título? Acho que o Darabont, concordam? Enfim, tanto Conta Comigo quanto À Espera ficaram empatados com 7% dos votos. Eu gosto de Conta Comigo (tiraria algumas cenas nojentas, como o vômito no concurso de comilança), mas acho um filme irregular. Por incrível que pareça, À Espera também tem cenas de um grandalhão abrindo a boca pra despejar coisas. Vocês são fãs desses atos bulímicos, né? Pra mim, À Espera é longo demais e, portanto, falta ritmo.
Prefiro fácil os dois filmes que vocês colocaram em quarto lugar (outro empate): Carrie, A Estranha, e O Nevoeiro, com 6%. Tudo que eu queria dizer sobre Carrie eu já disse aqui. Quanto ao Nevoeiro, minha previsão é que, com o passar do tempo, ele seja reverenciado unanimemente como um grande King. Contra ele, só o fato de ter a maior pinta de um filme B.
Em quinto lugar, com 5%, Louca Obsessão (Misery). Ô gente. Eu troco Conta Comigo e À Espera por Misery a qualquer hora do dia e da noite. Prometo escrever sobre esse filmaço até o final do mês.
Em sexto lugar, com 2%, outro com a Kathy Bates: Eclipse Total, que preciso urgentemente rever. Mal lembro dele.
Gosto de todos os filmes desta enquete, sem exceção. Mas a escolha é dura, e assim Cemitério Maldito, Christine, o Carro Assassino e A Hora da Zona Morta só conseguiram um votinho cada. Cemitério é trash total, mas a música-tema dos Ramones fica na cabeça pra sempre, e a cena do garotinho correndo na direção da estrada enquanto a câmera corta pra um caminhão vindo em alta velocidade rivaliza com o momento mais chocante do maravilhoso Mad Max. Sobre Christine, eu achei meia-boca quando o vi, em 83. Mas a cada exibição o filme foi melhorando, e depois de ver o Crash do Cronenberg (em que pessoas têm tesão em transar entre destroços automobilísticos), eu pensei: o John Carpenter tratou disso muito melhor e sem tanta pretensão treze anos antes. E Transformers foi a pá de cal pra que eu aceitasse Christine como um filmão.
A Hora da Zona Morta (Dead Zone) é outro. O Christopher Walken, que nasceu pra fazer esse tipo de papel, interpreta um carinha que, depois de um longo coma, acorda com poderes psíquicos. Mas, a cada previsão que pode salvar vidas, ele morre um pouquinho. Martin Sheen faz um perigoso candidato a presidente. O final, com uma mera capa de revista, é uma aula de síntese. O filme tá cheio de ecos de Taxi Driver e é um dos mais convencionais do Cronenberg. Eu adoro. Vi alguns episódios da série de TV com o Anthony Michael Hall (o guri de Clube dos Cinco). Não chega aos pés do filme.
E Cujo? Ninguém votou nele. Vocês não conhecem, ou não gostam? Boa parte de Cujo se passa dentro de um carro, onde mãe e filhinho asmático têm que se refugiar de um São Bernardo com raiva. O clima claustrofóbico funciona muito bem.
Se histórias do King geraram uma dúzia de ótimos filmes como estes, não tenho como não gostar do dentução. E pensar que meus aluninhos adolescentes nunca tinham ouvido falar nele...