Ninguém votou nas cenas de Massacre da Serra Elétrica, Halloween, Invasores de Corpos, Alien, Enigma de Outro Mundo, A Mosca e Pânico. Vocês viram essas cenas? A de Massacre tem um clima esquisito e é quase uma metáfora da Aids, só que pré-Aids (o louco se corta e ameaça sangrar nos jovens? Tudo dentro de uma kombi?). Halloween (só tenho texto sobre o remake) é mais um ótimo exercício de câmera – vemos tudo pelo ângulo da máscara que sobe as escadas – que um momento de horror, mas foi copiado infinitamente depois. Invasores, a versão de 1978, que é a minha preferida, tem um grande final. Mais de uma leitora comentou que o instante mais perturbador de Invasores é a cena em que um cachorro aparece com a cabeça do dono. Concordo! Mas aquela é uma imagem só, e esse final é uma sequência inteira, e cheia de suspense. Sobre Alien, Enigma e A Mosca, eu entendo. As três cenas são asquerosas, e elas mais enojam que assustam. Entre as três, acho que fico com a de Enigma: um dos carinhas tá contaminado por uma besta assassina, e a gente não sabe qual é. E o exame de sangue é capaz de zangar o monstrinho. Acho bem aterrorizante. Pânico, bom, pra mim não aterroriza. Tem todo um cinismo, uma ironia, umas auto-referências, que alienam um pouco. Não estou negando a importância do filme! Ele revitalizou o terror pra toda uma geração. Só não lembro de nenhuma cena tão marcante.
A Profecia, Um Lobisomem Americano em Londres, Poltergeist e a cena da fuga do Anthony Hopkins em Silêncio dos Inocentes receberam um voto cada, e ficaram empatados na décima colocação. Essa cena da decapitação da Profecia eu não acho grande coisa. É que foi a primeira na história de Hollywood, mas pros padrões de hoje não parece tão bem feita, e nem assusta muito. Prefiro o momento em que Gregory Peck descobre o 666 no couro cabeludo do seu rebento. Porém, A Profecia – que estou longe de considerar um grande filme – é desses que tem um bom clima, ainda mais com aquela música sacra, mas não uma cena que marca tanto. Ih, pensando bem, tem sim. Várias: a babá que se suicida na festa de aniversário, o padre que morre em frente à igreja, a visita de Damien ao zoológico, o “acidente” com a mãe do pestinha.
Em Poltergeist também há várias cenas: as cadeiras que vão parar em cima da mesa, o assistente que come uma coxa de frango, os esqueletos na piscina no final. A própria imagem de uma menininha com as mãos na tela da TV dizendo “Eles estão aqui” já é de arrepiar. Mas essa do palhaço é a que mais marcou na época (1982) os espectadores da minha idade. Se a gente já tinha uma leve desconfiança dos palhaços, depois dela nossa convivência com eles tornou-se insuportável. E o que é isso de ter um boneco grande e amedrontador dentro do quarto? Tudo bem que isso foi anos antes de Chucky, o brinquedo assassino, mas ainda assim...
Agora, Lobisomem Americano é o que há, gente. Adoro esse filme. Embora ele não se leve muito a sério, há vários momentos marcantes, e esse dos dois amigos perdidos à noite nos pântanos ingleses, vendo uma lua cheia e ouvindo uivos, é incrível. E notem que não há música, só diálogos.
Com 2% dos votos, em nono lugar, ficaram a cena da cabeça em Tubarão e o início da refilmagem de Madrugada dos Mortos. Sobre a primeira cena, ela assusta sim, todo mundo pula ou grita, mas é rápida demais pra causar algum efeito mais perturbador. No entanto, sobre Madrugada (foto), cada vez que revejo esse filme, mais gosto dele. Vi o original esses dias e gostei também (em geral, adoro filmes de zumbis), mas Madrugada é mais crítico e divertido. E tem uma das melhores falas que já ouvi num terror: um sobrevivente metrossexual (ou seja, um “homem que se cuida”) descreve alguém que virou zumbi como “deadish”. Deadish é o máximo! Esse “ish” que alguns americanos colocam no final dos adjetivos significa meio, tipo smartish, meio esperto, só que é difícil de traduzir. Deadish é a definição ideal pra qualquer filme de zumbi!
Ó Deus, isso tá ficando quilométrico. Continuando: 3% votaram no final de O Bebê de Rosemary, na cena da cabeça virada em O Exorcista, e em O Nevoeiro. Desses três filmes, o que menos gosto é mesmo Exorcista. Bebê é um dos grandes filmes de terror, só que não tem uma ou outra cena marcante. O filme inteiro é incrível. E O Nevoeiro deve ter um dos finais mais perturbadores de todos os tempos.
Com 4%, dois hiper clássicos: Psicose e Os Pássaros, ambos do mestre Hitch. A cena do chuveiro em Psicose é um dos momentos mais famosos do cinema, mas não é tão, tão assustadora. Já a da escola de Os Pássaros, pra mim, sem sombra de dúvida, é sim. Os Pássaros ainda tem a distinção de ser um dos raríssimos filmes de terror sem música. Hitch achou que não precisava. Enfim, como vejo no meu dia a dia muito mais pássaros que tubarões, pra mim o clássico de 63 sempre foi mais eficiente, e mais parte do meu incosciente.
Com 5% dos votos, Jodie Foster encontra o serial killer em Silêncio, e Nicole Kidman encontra sua filhinha coberta com um lençol branco suspeito em Os Outros. Duas cenas apavorantes, com certeza. Adoro como, em Silêncio, a personagem da Jodie tá completamente aterrorizada. Ela tá morta de medo, como convém a alguém nessa situação.
Em quinto lugar isolado, o final de A Bruxa de Blair. Tudo confuso e tremido demais pro meu gosto. O maridão podia ter filmado aquilo tranquilamente, antes de se aventurar por Cloverfield.
Em quarto lugar, com 7%, outras cenas, que não sei bem quais são. Algumas pessoas mencionaram outros momentos de O Iluminado e Sexto Sentido (de fato, é impossível escolher apenas um), e algumas lembraram cenas de filmes feitos pra TV.
Dois empates pro terceiro lugar, ambas adaptações de histórias do Stephen King: Shelley Duvall descobre o que seu marido anda escrevendo em O Iluminado, e Kathy Bates quebra as pernas do James Caan em Louca Obsessão. Tá, sem discussão: as duas são de doer. Detalhe: essa do Iluminado o King criticou. Disse que era a prova de que Kubrick não entendia nada do gênero. Pro King, uma mão deveria aparecer nos ombros da Shelley, ao invés da câmera mostrar o Jack se aproximando. Meu, mas o King fala cada besteira, não?
Em segundo lugar, com 10% cada, mais um empate: alguém passa pelo menino no banheiro em O Sexto Sentido, e a garota cabeluda sai da TV em O Chamado. Dois filmes recentes, ambos com crianças. Já perceberam quantas dessas cenas têm criança e mulher no meio?
E em primeirão, com 11%, quase empatado com os segundos colocados, o final de Carrie, A Estranha. Essa cena é um caso sério. Eu já fiz a experiência de rebobinar (na época do vídeo) a cena e revê-la três vezes seguidas, e gritei em todas elas. Pode ser que eu tenha algum problema mental, mas até meus adolescentes que não acharam Carrie grande coisa berraram naquele momento. É porque a música e o clima enganam. A música é toda levinha, a Amy Irving aparece de branco com flores, e a gente tem a nítida impressão que o pior já passou (Carrie, mãe e bullies mortos)... e de repente surge aquela mão. Só quem não tem sangue nas veias não se assusta. Ou, como diria o carinha de Madrugada, quem tá deadish, sabe?
Tá, vou repetir a pesquisa então. Votem em três cenas. SÓ três, por favor. Mas vou colocar também uma nova enquete, essa bem fácil, juro. Participem das duas.
Veja aqui todas as cenas da enquete.