SAUDADES DAS RELÍQUIAS
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SAUDADES DAS RELÍQUIAS


IBM Elétrica, o auge da evolução. Nos anos 80.

Tô procurando uns papéis entre uns arquivos arqueológicos e jogando um monte de coisa fora. Dá um aperto no coração ter que por no lixo objetos que significaram muito pra gente em algum momento, mas que hoje não tem utilidade nenhuma. Por exemplo, quilos de fotos recortadas. Cartazes de filmes de vários países. Isso é da época em que eu montava capas de vídeo pros meus amigos e primeiros patrões. Eu fazia uma colagem, escrevia um resumo (tentanto deixar de lado a parte crítica o máximo possível, ainda mais quando o filme era ruim), e voilá, capinha feita. Eles guardam algumas até hoje, mas é só uma questão de tempo pra todas as fitas VHS serem substituídas pelos dvds. Joguei fora as fotinhos. Vinte anos atrás, gastei tempo e dinheiro comprando revistas, recortando-as, organizando-as em arquivinhos em ordem alfabética. E hoje tem tudo e mais um pouco na internet.
Outra relíquia que não vai continuar ocupando espaço aqui em casa: um catálogo imenso, lindão, de... tipos de letras. Eu devo ter um lado designer frustrado muito forte, porque sempre me agarrei a esse catálogo com unhas e dentes. Mas hoje tive que admitir que ele não serve pra nada hoje. Chuif.
Encontrei também um caderno jurássico com algumas anotações sobre computadores. Devem ser notas sobre um dos meus primeiros computadores. Aliás, meu não, que naqueles tempos (1990) quase ninguém tinha computador em casa. Eu usava o do escritório onde trabalhava mesmo. Em casa eu tinha - máximo do máximo - uma IBM elétrica com corretivo (e também uma Olivetti Praxis, cuja única vantagem era ser portátil). Faz uns dois anos tentei doar a máquina de escrever IBM, porque ela só ficava no caminho e era usada uma vez a cada cinco anos, se tanto. E também porque, quando acabasse a fita e o corretivo, iria encontrar esses equipamentos aonde pra substitui-los? Não, eu queria dar um bom exemplo pro maridão, que é do tipo que guarda clipe enferrujado na esperança de que, se sobrevivermos a uma hecatombe nuclear, aquilo pode ser útil. (Ele tem sérios problemas. Temos brigas homéricas toda vez que o lixo dele chega a níveis insustentáveis e eu o mando jogar coisas fora. Vê-lo selecionar o material é melancólico: ele só troca a papelada de lugar, acaricia um por um dos papeis amarelados, e põe de volta. Aí quando eu chego e digo: “O quê?! Você só vai se livrar disso?!”, ele fica na defensiva, e diz que essa é só a primeira triagem. Que ele tem que separar aquilo com mais calma. E o lixo se amontoando, até que os vizinhos chamem a vigilância sanitária).
Mas a máquina de escrever. Eu convivi com aquela máquina durante toda a minha adolescência. Era o supra-sumo das máquinas elétricas, muito melhor que as manuais, que faziam doer os dedos, porque as teclas eram duras. E essa minha tinha corretor automático, já falei? Quer dizer, não era automático. Mas era uma fitinha branca, tipo durex, que ficava perto da fita preta, e você podia escrever a letra por cima dela! Auge da evolução. Li no manual de instruções que ela corrigia até 50 caracteres por minuto! (meu orientador ainda é do tempo que escrevia tese de mestrado em máquina manual. Já pensou? Ele disse que tinha página 101, 101A, 101B...). Dois anos atrás, liguei pra lojas de móveis usados pra tentar vender a máquina. Nada. Não queriam nem de graça. Tentei doá-la a instituições de caridade, mas a recusaram também. Finalmente, a vendi por 20 reais (mas com três esferas, ou seja, três tipos de letra!) a uma colega do maridão, que nunca tinha visto um bicho daqueles e achou que seria interessante na recepção. Triste. Às vezes eu penso que esses objetos têm alma e sinto por eles, tão rejeitados.
Mas nesse caderno antigo achei umas anotações. Tá escrito: “Para imprimir, quando a impressora [matricial, claro] não está pronta. Para sair do word, B E e command. Sai no h:\word. Aí digitar capture_/queue=laser_/b=nb. E voltar ao arquivo para imprimir. Para padronizar o texto, shift 10 p/ iluminar tudo, alt j e ddm 2,20 cm 2,16”.
Outro dia, na preparação da sala pra defesa do doutorado, estranhei que meu co-orientador nos EUA não tivesse skype ou câmera de vídeo. Ele respondeu: “Tenho quase 70 anos. Sobrevivi à troca da máquina de escrever manual pela elétrica, e da elétrica pelo computador. Mais do que isso é impossível”. Eu também sou uma sobrevivente!




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