SÓ DIZ QUE ANTIGAMENTE ERA MELHOR QUEM NÃO VIVEU LÁ
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SÓ DIZ QUE ANTIGAMENTE ERA MELHOR QUEM NÃO VIVEU LÁ


Domingo retrasado publiquei alguns dos excelentes relatos que foram deixados no post "No tempo da vovó era melhor. Era mesmo?", que por sua vez foi um lindo comentário escrito no post sobre mulheres contra o feminismo. Adoro quando uma discussão rende desse jeito.
A ideia é a mesma: quem diz que "antigamente é que era bom", não sabe do que está falando. Ou talvez saiba, e não queira admitir: era bom pra quem? Porque pras mulheres é que não era.
Aqui outras reflexões maravilhosas escritas por leitorxs idem.

"A minha avó com certeza não tinha a menor saudade do meu avô.
Às vezes ele ficava numa onda meio deprê e botava umas músicas tristes pra ouvir durante o almoço ou o jantar, depois de comer. Todo mundo tinha que ficar na mesa, quem saísse antes dele terminar de ouvir as tais músicas deprimentes levava um belo tapão na cara." (Death)

"As mulheres mais novas não tem a menor ideia de como era difícil a vida das mulheres. O machismo era tão naturalizado que bem poucas se davam conta dos absurdos de desigualdades a que éramos sujeitas diariamente.
Fico pasma quando vejo garotas jovens dizendo que o feminismo não é mais necessário. Se elas soubessem como era, jamais diriam tamanha besteira. 
Eu creio que sou mais velha do que a grande maioria das suas leitoras Lola, mas fui educada de maneira até mais liberal. Escutava das minhas amigas coisas inacreditáveis.
Uma delas tinha muitos irmãos e irmãs, e o pai desconfiava da mãe dela, mesmo sem nenhuma prova. Espancava a esposa na frente de todos os filhos, humilhando-a de maneira brutal. Nessa época isso não era digno de sequer ser levado às autoridades, e muitas mulheres passavam por isso como se fosse natural, parte da vida de uma mulher. 
Se fosse só esse relato de uma amiga, já seria bem triste, mas infelizmente conversei com várias mulheres que passaram por situações que hoje seriam consideradas impensáveis.
Tenho também uma mãe de amigos, um amor de mulher que eu tenho como amiga. Em uma oportunidade ela desabafou comigo sobre como foi a vida dela. É de chorar.
Mesmo ela tendo uma profissão antes de casar, o marido não a deixava trabalhar em hipótese alguma, e preferiu ver os próprios filhos passarem fome durante um período de desemprego, do que deixá-la trabalhar. Ela, desesperada com essa situação, começou a fazer costuras escondida dele. Ele quando descobriu a espancou, e insultou os clientes que ela tinha. 
Sem contar a parte sexual: várias diziam que os maridos não as procuravam. Essa amiga disse que a última relação que teve com o marido foi aos 40 anos de idade, e elas tinham que se conformar com isso, e nem reclamar podiam, pra não serem chamadas de vagabundas. 
Mesmo minha mãe que nem era muito machista, quando servia a mesa, era meu pai quem tinha que se servir primeiro, e nem pensar em pegar uma porção maior que a dele. Essa era uma regra que estava implícita na maior parte das casas.
Poderia ficar horas me lembrando de situações machistas e injustas que no passado eram tão comuns.
Só posso lamentar que ainda hoje não são todas as mulheres que lutam pelo feminismo. Se elas soubessem..." (Sara)

"Me emocionei muito com esse post.
Minha avó materna tem uma história parecida. Meu avô era uma pessoa muito ruim, e chegou a deixar a minha avó, quando nova, a duas quadras do hospital (na frente do bar onde ele entrou) enquanto ela estava tendo uma hemorragia. Minha avó caminhou sozinha até o pronto-socorro para ser atendida.
Assim como no post, minha avó descobriu o que era a liberdade e a auto-determinação quando eles se separaram.
Curioso pensar que essas mulheres só se sentiram verdadeiramente felizes como indivíduos (não como mães) depois de se livrarem de seus maridos, verdadeiros algozes." (Anônimo)


"Minha vó SÓ sofreu nesta vida por ser MULHER, mulata. Ela nasceu no Sul do país. Ela já tinha dois irmãos e quando nasceu foi desprezada por ser, adivinha, mulher. Depois de humilhar e maltratar ela por anos, a então mãe dela a 'emprestou' para uma senhora que morava em uma vila alemã. Lá ela disse que foi feliz. Aprendeu a costurar, sempre separada das pessoas, mas não era maltratada como em casa. Mais tarde, ela começou a ter um namoradinho, negro, com quem trocou cartas.
O pai dela, quando descobriu, a surrou muito, cortou o cabelo dela e disse que ia casar ela com algum fulano. Ela fugiu. Mudou de nome. E foi parar em Santa Catarina. Fazendo o que sabia, que era costurar, limpar terreno e usar plantas medicinais para ajudar pessoas. Conheceu meu avô, que era estrangeiro. Era um amor de pessoa, segundo ela. Ele a chamou para ir para São Paulo com ele. Ele a trouxe e a botou para trabalhar com ele, o que não era nada, se ele não tomasse todo o dinheiro dela para jogar e usar com outras mulheres. 
Fora as surras. Meu avô quebrou braços, dedos, dentes. Minha avó odiava tanto ele, que nunca quis ter filhos. Ela abortava direto, por via de plantas (e olha que tem gente que acha que planta não faz nada), e ajudava outras mulheres a fazerem o mesmo. Quando tinha uns 30 anos, começou a demonstrar os traços de vitiligo, o que fez ela se sentir pior ainda. 
Mesmo assim, ela teve 5 filhos. A primeira é minha mãe, que minha avó, como foi ensinada, odiou por ser mulher. Meu avô já tinha 50 anos quando minha mãe nasceu. Mas ele precisava dela. Com 14 anos ela sustentava a casa, e parte dos vícios dele. Minha mãe fez ele parar de bater na minha avó. Minha mãe diz que minha avó só soube o que era sentimento quando teve netos. Ela se sentiu amada e amou. Mas mesmo assim no final da vida. A gente via o quanto de dor ela carregava." (Anônimo)

"Não acho que no tempo da minha avó as coisas fossem melhores (e espero que o futuro seja muito melhor que hoje), entretanto, vejo meus avós casados há 50 anos e enxergo um dos casais mais lindos do mundo! Ambos sempre trabalharam, pedreiro e doméstica, e meu avô nunca levantou a mão ou a voz pra minha avó. Sei que a maioria acha pouco mas ele cozinha, lava louça e a trata como se fossem namorados até hoje, com presentes e surpresas.
Com certeza são 'exceção à regra'; afinal, vieram para SP do interior da Bahia e, diga-se de passagem, minha avó é infinitamente mais machista que meu avô. Ela acha que é obrigação da mulher cuidar da casa e que somente o casamento e a maternidade podem fazer uma mulher plenamente feliz, enquanto ele tem o sonho de ter alguma neta engenheira...
Espero que um dia não precisemos mais do feminismo, mas enquanto esse dia não chega continuemos a luta!" (Anônimo)

"Eu jamais trocaria os dias de hoje por 50 anos atrás. Acho que nem por 10 anos atrás. Só mesmo se o mundo estivesse atravessando uma terceira guerra mundial, infestação de zumbis, invasão alienígena etc. Aí sim. Mas fora isso, nem pensar. 
E pra mostrar que o caso da avó da NormalidadeRealidade não foi isolado, minha avó apanhou do marido por 17 anos. Ela casou novinha, foi estuprada na noite de núpcias, ficou toda mordida. Não podia trabalhar, estudar. Já aconteceu inclusive de meu avô rasgar um vestido lindo que ela tinha ganhado de presente -- isso entre muitas outras coisas. 
Ele não punha comida dentro de casa e ainda reclamava quando não tinha nada pra comer. Quando casaram, eles moravam num barraco mixuruca porque nem um lugar decente ele pode arrumar. Os dois só conseguiram morar num lugar melhor porque ela ajudou lavando roupa pra fora e também servindo de servente de pedreiro. Alguém consegue imaginar uma mulher baixinha, magrinha e delicada carregando sacos de cimento e baldes de areia? E alguém consegue imaginar essa mesma mulher apanhando de um sujeito que devia ter 1,70 m e era forte como um touro? Pois é. Era a minha avó. 
Depois de ajudar a construir a casa com dinheiro e serviço, sabem o que aconteceu? De tanto apanhar, ela decidiu pedir o divórcio. Mas na época a coisa estava tão feia que ela acabou tendo que fugir. O que aconteceu depois? O juiz deu abandono de lar e falou que por causa disso ela não teria direito a nada, mas meu avô resolveu dar a metade da casa por causa da minha mãe, e fez isso como se fosse uma caridade. Anos depois ele ainda teve o atrevimento de jogar na minha cara que eu dependia dele desde o nascimento só por causa disso, sendo que ele nunca sequer comprou um saquinho de leite pra mim. 
Aí vem mascuzinho dizer que bom era nos tempos da vovó. Bom pra quem? Só se for pros misóginos estupradores e espancadores de mulheres, que podiam fazer o que bem entendessem porque não tinha nem delegacia da mulher. Se eles acham que vamos abrir mão de todos os direitos que conquistamos pra voltar a esses tempos, então eu sugiro que eles se matem de uma vez porque isso não vai acontecer." (Mallagueta Pepper)

"Canso tanto de falar a mesma coisa que já devia andar com uma plaquinha na mão: só diz que 'antigamente era melhor' quem não viveu lá." (Anônimo)




- NÃo Éramos Felizes
Parece que esta era a única felicidade para muitas avós O post sobre os tempos da vovó rendeu comentários tão fantásticos que vou publicá-los em duas vezes, porque foi impossível escolher apenas uns poucos.  Lei do Divórcio é sancionada...

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