NÃO ÉRAMOS FELIZES
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NÃO ÉRAMOS FELIZES


Parece que esta era a única felicidade para muitas avós

O post sobre os tempos da vovó rendeu comentários tão fantásticos que vou publicá-los em duas vezes, porque foi impossível escolher apenas uns poucos. 

Lei do Divórcio é sancionada no
Brasil em 1977: conquista feminista
"Minha mãe andou dizendo que antigamente é que era bom. Mas assim que eu contei que se tivesse nascido na época em que ela disse que queria nascer ela ainda teria que ser casada com meu pai, porque não existia divórcio e nem poderia trabalhar fora sem a permissão dele... bom, digamos que isso foi o suficiente pra ela ver o quanto as coisas são melhores pra gente agora nesta época." (Anônimo)

"Só diz que antes era melhor quem nunca conversou com a própria avó, fato. A minha, como a maioria, apanhou, foi sexualmente abusada, foi proibida de trabalhar... e foi muito guerreira, brigando com o portuga doido que era meu avo pra minha mãe poder fazer faculdade (ele queria proibir, porque achava que mulher não tinha que estudar). 
Cresci ouvindo as histórias dela. E por ter crescido vendo tudo isso, minha mãe se tornou militante feminista nos anos 80. Pude ver como a vida dela (com uma carreira, um relacionamento mais equilibrado com meu pai, mais autoestima) foi muito melhor que a da minha avó. Qualquer mulher que observar esses exemplos na própria família vai ver que precisa SIM do feminismo." (Maria Fernanda Lamim)

"Meus avôs se separaram na década de 70, depois de mais de 25 anos casados. Minha avó sofreu muito com ele, apanhava, sofria humilhações etc. No fim foi meu avô quem pediu a separação. E todos os filhos, 5 mulheres e 3 homens, na época jovens de 20 e poucos anos, se revoltaram com a minha avó. A coitada vivia e continuou vivendo uma vida miserável, porque os filhos não aceitaram a separação. Meu avô foi morar longe e não escutava as barbaridades ditas pelos filhos. 
Depois de alguns anos minha avó arrumou um namorado e queria se casar de novo. Quem disse que os filhos permitiram? Fizeram um escândalo e proibiram minha avó de encontrar o pretendente. Hoje minha avó é uma mulher extremamente amargurada. Hoje os filhos se arrependem muito de não ter deixado seguir o relacionamento, porque ninguém tem tempo de cuidar dela. Às vezes não são apenas os maridos que destroem a vida das mulheres, alguns filhos contribuem também." (Anônimo)

"Minha mãe conta que quando a minha avó se casou com o meu avô, na noite de núpcias, minha avó não sangrou. Então meu avó a levou numa delegacia para que fosse comprovada a virgindade dela. Ela tinha o hímen complacente. Precisou passar por uma espécie de exame de corpo de delito para atestar que era pura. Já imaginaram a humilhação?
Meu avô era policial em SP, minha avó costurava camisas para as lojas do Brás. Ela estudou até a terceira série.
Minha mãe é a mais velha de sete irmãos, ela conta que cada vez que a minha avó engravidava, ela ficava louca de raiva. De ter mais um filho com o meu avô. Brigavam o tempo todo. Meu avô bebia. Os filhos apartavam o pai com faca, revólver. Numa briga com a minha avó ele deu um tiro, pegou na parede do quarto onde eu estava, dentro do carrinho de bebê.
Foi assim desde que me entendo por gente. Ele já aposentado, mal parava em casa, vivia nos botecos até cair. Quando queria, pegava um trem ou ônibus e ia visitar parentes no RS, ficava fora por meses.
Minha avó foi uma pessoa amargurada. Ela renasceu quando entrou para um grupo da terceira idade. Meu avô, já doente, não conseguiu impedir que ela frequentasse o grupo, mas desmerecia tudo que ela fazia lá. Lá ela teve amigas, viajou muito, aprendeu a fazer ótimas fotografias, fez teatro e descobriu um dom: fazia poesias.
Ela descobriu um câncer intestinal, operou, mas ainda no hospital optou por não se alimentar. Ela não queria voltar para casa. Apesar do médico garantir que nem quimio ela ia precisar, só da possibilidade dela ficar presa em casa com o meu avô, ela desistiu de viver. Foi preciso por sonda alimentar, ela não comia. Mas aí era tarde. Ela morreu há 6 anos. Meu avô, ano passado.
Pra ela a vida de antigamente não foi nada boa.
Eu prefiro a vida hoje. Eu posso estudar, trabalhar, votar, posso casar ou não, me separar, posso falar. Preciso lutar por tudo isso. Foi e é preciso lutar por tudo isso.
Por outro lado, minha sogra admira uma conhecida dela, senhora bem idosa que tem nas palavras dela 'uma pele linda, quase sem rugas'. Por que? Porque diz que o marido foi muito bom pra ela, não deixou faltar nada em casa, ela nunca precisou trabalhar, nem 'passar nervoso', por isso está tão conservada. Já minha cunhada de 27 anos, sonha com o dia que conhecer um homem rico pra não precisar trabalhar, já que ela acha que mulher não tinha que trabalhar fora.
São opiniões completamente diferentes, mas eu ainda penso que graças à luta das mulheres hoje temos a escolha, podemos decidir.
Finalizo com um exemplo da minha mãe: uma vez, numa viagem de férias com meus pais e tios, paramos em Joinville. Entramos numa loja linda de roupas bordadas. Minha mãe e minha tia viram um roupão de banho lindo, todo bordado. Minha mãe escolheu o dela, fez o cheque e pagou (ela, hoje aposentada, trabalhou em banco). Minha tia é esposa de médico, nunca trabalhou fora, mas sempre estava lá com a casa impecável, as roupas brancas do meu tio um brinco, os filhos bem cuidados. 
Ela pegou o roupão que tinha gostado e pediu pro meu tio comprar, ele disse não. Eles têm muito dinheiro, mas mesmo assim, ele disse não. Nunca vou esquecer o rosto dela, o jeito que ela se encolheu e devolveu a peça.
Desculpem... eu prefiro o hoje e sonho com um amanhã melhor." (Freda)

"Isso me lembra a avó de uma colega de trabalho. Ela dizia que a mulher tinha que ser uma puta na cama para satisfazer o homem. Minha colega então perguntou-lhe que, sendo assim, ela deve ter tido muitos orgasmos. E ela perguntou: o que era isso? Minha colega, então, ensinou-lhe como consegui-los. E foi assim, depois de viúva, ela experimentou o orgasmo pela masturbação. Se o avô dela fosse mais carinhoso com a esposa e 'puto', como ela era com ele, ela poderia conhecer esse tal de orgasmo há muito mais tempo.
Muito fácil rotular uma mulher que não sente prazer na cama como frígida. Pudera, ser tratada mal não é afrodisíaco nenhum e só faz tremer de raiva e/ou frustração." (Hammandah)

"Vejo várias pessoas falando que 'também existiam mulheres felizes antigamente', mas a maioria dos exemplos aqui é de mulheres que sofreram nas mãos dos maridos machistas. 
A minha avó materna, por exemplo, foi uma delas. Ela morreu quando eu era muito nova, então quem me contou a história dela foi a minha mãe, por isso não tem muitos detalhes. Mas os danos causados por um marido machista estão lá, sim. 
Meu avô era muito rígido com os filhos, as meninas nunca podiam fazer o que os meninos podiam. Ele costumava beber, chegar em casa alterado e bater muito nas crianças. Pelo que minha mãe contou, um dia ele tentou agredir a minha avó. Ela estava na cozinha, pegou um pedaço de madeira em brasa, bateu nele com toda a força e fez com que ele caísse de uma escada pequena que tinha na casa. Meu avô não sofreu nada muito grave, mas depois disso, ele nunca mais tentou bater na minha avó. Não sei se ele a agrediu antes, provavelmente sim, mas eu não quis perguntar para a minha mãe.
Por causa dos gastos com álcool e outras dívidas, meu avô perdeu tudo o que a família tinha, inclusive a casa. Precisaram morar de favor por muito tempo. Minha avó ajudava com as despesas ganhando dinheiro com costura e cozinhando para fora, mas era uma vida muito difícil...
Meu avô morreu muito antes de eu nascer, não sei como a minha avó viveu desde a morte dele, provavelmente melhor, mas tendo que batalhar muito para criar 6 filhos. 
Não consigo imaginar como alguém pode dizer que viver dessa maneira pode ter sido 'bom."

"Minha tia-avó também passou um casamento muito difícil, o marido dela viajava e demorava muito tempo para voltar. Ela não trabalhava, mesmo sendo uma das melhores alunas da escola. Eu ainda me lembro que quando ela teve sua primeira menstruação nem sabia o que era aquilo, de tanto tabu acerca disso, mas foram as amigas dela da escola que a tranquilizaram e explicaram para ela. O marido morreu até cedo para os padrões da época, e quando apareceu outro homem querendo se relacionar com ela, ela nem quis saber, disse que nunca vai se casar de novo e que não quer saber mais de homem." (Anônimo)

"Minha amiga tem uma avó relativamente jovem -- teve a mãe dela jovem, a mãe dela foi mãe adolescente. O avô da minha amiga era um bêbado, que batia nos filhos e na mulher, mas daqueles que no fim da vida se arrependeu. A avó da minha amiga virou viúva relativamente cedo (uns 60 anos).
Num dia de semana, seis horas, a avó da minha amiga acorda ela de manhã, segurando o pãozinho do café. As duas se sentaram à mesa sozinhas. E a avó dela confessou que conheceu um senhor num clube de dança, e, meio tímida, comentou que tinha acabado de ter o primeiro orgasmo da vida dela. Ela passou a noite fora conhecendo um prazer do qual ela nunca tinha experimentado.
Isso mudou a vida dela. Ela rejuvenesceu uns 20 anos do dia pra noite. Deixou o cabelo bonito, comprou roupas novas e lindas que ela sempre quis ter, e foi lá ser feliz com o namorado novo, aproveitando uma coisa que ela nunca tinha aproveitado antes.
Foi uma história bonitinha.
Minha avó não quer mais homem nem pintado de ouro. Vários senhores já foram até que bem desrespeitosos dizendo que ela 'tava inteirona', meu avô já chegou na casa dela, tirou toda a roupa ('Mari, ele ficou pe-la-di-nho!') e ela expulsou ele sem pensar duas vezes. O negócio dela é ficar sozinha e aproveitar o tempo com as coisas que ela ama. E eu apoio, apesar dela não cozinhar mais aqueles doces incríveis nas festas de família, que, segundo ela, eram 'pura encheção de saco', hahahaha" (Normalidaderealidade)




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