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SOBRE ANIMAIS E HUMANOS POUCO HUMANIZADOS
Bom, vou escrever algumas coisinhas aqui hoje porque não tenho post e porque estou cheia de trabalho. A greve na universidade acabou, depois de quase dois meses. E preciso preparar um minicurso e duas palestras. Fora o de sempre.
Primeiro, feliz dia das crianças! Como quase todo mundo que me lê sabe, não tenho filhos, então um dia especial pras crianças não têm grande importância pra mim. Mas, quando cheguei em Joinville, em 1993, descobri que dia 12 de outubro era também dia da Nossa Senhora de Aparecida. Perto ao meio dia havia uma explosão de fogos (que detesto) maior que a do reveillon. Aqui em Fortaleza não tem isso.
Fogos de artifício sempre me lembram animais, as grandes vítimas. Quem ama animais deveria ser contra fogos, simples assim. As datas comemorativas em que se soltam rojões são um pesadelo pros nossos bichinhos de estimação, que entram em pânico e fogem de casa.
E hoje não é um dia para se presentear criança com bichos. Animais não são presentes, pois presentes podem ser deixados de lado, esquecidos, substituídos. Todas as instituições que trabalham com direitos e proteção dos animais alertam que a compra de cães e gatos aumenta em datas especiais, e que este é um grande erro, que costuma levar a abandono dos bichos (tô chorando com este vídeo).
A pessoa vai e compra um filhote (que não deveria ser vendido: animal se adota, não se compra), depois descobre que aquela fofura cresce, faz sujeira, exige atenção, e aí o abandona. Sei que minhas leitoras e leitores queridos jamais fariam isso, mas às vezes a gente se esquece que os outros fazem. Por isso, é bom divulgar: animal não é brinquedo pra se dar de presente.
Mudando completamente de assunto (tire as crianças e os animais da sala!), anteontem uma leitora me enviou um link prum artigo (em inglês) que trata de uma nova forma em que mulheres vem sendo trolladas online.
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Troll ejacula em cima de fotos da atriz e ativista Emma Watson |
Misóginos imprimem fotos de mulheres (feministas são um dos maiores alvos) que eles querem incomodar, e aí ejaculam na foto (quase sempre de rosto), e a mandam pra vítima, ou a compartilham em fóruns e chans misóginos, pra se exibir.
Segundo o artigo, essa modalidade de assédio tem nome: cum tribute. Quer dizer, imagino que esse seja o nome dado pro ato consensual (que existe), porque, quando se trata de trollagem, não é tributo. Na maior parte das vezes, o cara que ejacula na foto de uma mulher quer ameaçá-la ou humilhá-la. Não tem nada de homenagem.
E, óbvio, nada de muito novo no front. Afinal, mulheres e meninas são os maiores alvos de ataques na internet. Um instituto que analisou quase 4 mil casos de assédio online constatou que 73% desses ataques eram dirigidos a mulheres. |
Site falso criado por Marcelo Mello em meu nome |
Eu, particularmente, conheço isso muito bem, porque recebo ameaças de morte, estupro e tortura, com direito à divulgação do meu endereço residencial, há mais de quatro anos. Semana passada estive numa delegacia para fazer mais três boletins de ocorrência, desta vez, principalmente, porque os mascus de sempre criaram um site falso no meu nome.
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Mascus planejavam a criação de site de ódio em meu nome desde janeiro (este print é de setembro) |
A onda agora é me difamar, me acusando de crimes como vender remédios abortivos, defesa do aborto quando o feto é menino, e corrupção na minha universidade (inventaram e estão espalhando que, com o dinheiro superfaturado destinado à compra de livros, eu adquiri carros importados e apartamentos), entre outros. Eu sei, eu sei, é ridículo, e demonstra um total desconhecimento de como funciona repasse de verbas (que nunca chegam nas mãos de um professor) e valores (ha ha, universidades têm tanta grana que com repasse pra atualizar a biblioteca dá pra comprar carros importados! Quantas às outras acusações, nem cabe responder. É só ler meu blog pra saber como me posiciono).
Por coincidência, no mesmo dia que a leitora me mandou o artigo sobre cum tribute, no chan do criminoso profissional Marcelo Mello publicaram isso. Desculpem colocar aqui, mas é importante que seja visto. É uma foto minha de quando eu era criança, com esperma em cima. Não é a primeira vez que misóginos fazem isso com fotos minhas. Deve ser a quinta vez que eu vejo. A primeira vez já tem alguns anos e eu vi no orkut, porque alguém me enviou o link. Quando fui reclamar disso no Twitter, um outro misógino disse que eu estava me vitimizando e comparando foto com esperma com estupro.
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Planejamento do site de ódio em meu nome, em setembro 2015 |
Não é um estupro, mas é uma ameaça. Mais uma. E acho que o pessoal nem sabe como as ameaças de estupro funcionam. Ao mesmo tempo que um cara escreve "Vamos te estuprar e te matar e te cortar em pedaços e comer com arroz" (ameaça recebida de verdade), um outro cara, ou mesmo o primeiro, da ameaça original, escreve: "Ninguém vai te estuprar, você é horrível, nenhum homem vai chegar perto de você". A ameaça de estupro, o "você merece ser estuprada", sempre caminha junto ao "você não merece ser estuprada".
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Até agora, site de ódio em meu nome não está dando muito certo. Mascus precisam dos demais reaças para ajudar a viralizá-lo |
Difícil de entender? Nem tanto, se a gente considerar a velha dinâmica misógina de atração e repulsa. Um exemplo é quando um sujeito fala uma grosseria na rua pra uma mulher, tipo "Vou te chupar todinha, gostosa". Várias vezes, se a mulher responde com um palavrão, o cara diz "Tá se achando, sua mocreia? Você acha que alguém vai querer te comer, seu lixo?" Vai do "amor" (muitas aspas nessa hora) ao ódio em questão de milésimos de segundo.
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Pagar para não ter sua reputação destruída, um grande filão de negócios |
E mudando mais uma vez de assunto, mas nem tanto, é impressionante como tem um pessoal que te acusa exatamente do que faz. Case in point: Anna Celico.
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Cria fake para falar com ela mesma |
Essa figurinha problemática com robôs no Twitter é tão obcecada por mim que, no final de 2013, encontrou uma página antiga que meu marido havia feito para vender o casaco de peles que minha mãe tinha, quando a gente se mudou pra Fortaleza. Sabe como ela divulgou essa descoberta? Dizendo que eu era comerciante de casacos de pele (ela diz ainda)! Eu escrevi este post na época.
Mas ela não se esquece de mim. Há dois dias, por sei lá que cargas d'água, ela publicou no seu Twitter:
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O nível da insanidade e do ócio: cheque quem são as @ que dão RT pra Anna. Quase todas fakes, criadas apenas para dar RT pra ela. Divulgam sempre as mesmas matérias que ela, só interagem com ela, xingam os desafetos dela. Imagine o tempo gasto! |
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Comentário dela cheio de mentiras em site reaça |
Quase dois anos e a pessoa segue obcecada. Se eu citei o nome dela no Twitter cinco vezes foi muito (e sempre respondendo a acusações). Nesse meio tempo, recebi um email gigantesco de uma pessoa dizendo ser a advogada da Anna (mas que, pela carência, parecia ser a própria), dizendo como a Anna era uma ótima pessoa e que iria me processar se eu não deletasse o post que escrevi em resposta à difamação que ela fez.
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Anna divulgando petição da Avaaz que mascus criaram no meu nome |
O que mais Anna fez nesses dois anos, além de me xingar dezenas de vezes? Criou um fake pra dialogar consigo mesma, numa das atuações mais patéticas que já presenciei no Twitter; divulgou o twitter falso que mascus criaram pra mim na páscoa; e divulgou uma petição falsa pedindo a legalização da pedofilia que mascus criaram no meu nome. Daqui a pouco ela divulga também o site de ódio recém criado no meu nome. Ela não escreve "Olha o que a Lola fez". Ela escreve: "Será que a Lola fez mesmo isso?", seguido de tuítes dizendo que, "conhecendo o histórico", sim, fez.
Eu sei que ela não comete essas maluquices apenas comigo. Recebi emails de outras pessoas que também são stalkeadas e xingadas por ela. Deve ser um tipo de doença.
Outro caso é uma tal de Dona Encrenca, que eu realmente duvido que seja mulher, pela quantidade de insultos misóginos que usa (vaca, piranha, vagabunda, vadia etc). É um perfil de extrema direita que conheci mais ou menos na mesma época que fiquei sabendo da existência da Anna. Encrenca diz que eu a stalkeio, mas eu raramente falo nela, enquanto ela... É direto.
Ela mudou seu nome para "escapar" de mim, não sabendo, tadinha, que qualquer um dos perfis reaças (como o de outro caluniador profissional, "EdmilsonPapo10") indica o seu perfil.
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Tuíte falso divulgado por reaças na páscoa |
Eu não faço egosearch (procurar no Twitter o seu nome para saber o que estão falando de você) porque, bem, eu sou uma incompetente. Eu não sei fazer. Um tuiteiro querido tentou me ensinar há uns dois anos, eu até tentei, mas não consegui. Também o meu nome, Lola, é super comum. Tem milhares de Lolas sendo mencionadas o tempo todo, e, graças às boas deusas, poucas delas são esta que vos fala.
O que eu faço é de vez em quando (uma vez por semana, uma vez a cada três dias, por aí) entrar no perfil do Twitter de algumas arrobas que eu sei que falam sempre de mim. Eu as bloqueio e a maioria delas também me bloqueia, mas é só entrar por um outro browser que, desde que a conta seja sem cadeado, todo mundo pode vê-la. Eu não deveria nem ver, mas às vezes é importante saber como os inimigos usuais estão te difamando.
E eu me pego pensando: é melhor saber ou não saber? Por exemplo, se o chan do Marcelo estivesse na deep web, se eu não pudesse ver o que eles falam (eu só vejo porque ele mesmo já me enviou o endereço do chan várias vezes; eu nunca descobriria sozinha, já que não aparece em sites de busca, ainda bem), não seria mais saudável? Certamente seria um bom tempo poupado.
Mas não é melhor estar ciente do planejamento deles para me matar, estuprar, queimar minha reputação e a do meu marido etc? É verdade que inúmeras vezes pessoas queridas me enviam prints dessas ameaças e de insultos no Twitter e no FB (que eu nunca acompanho, porque não tenho conta), sem que eu precise acompanhar.
Enfim, esta dúvida é comum. A tal da ignorância ser uma benção. O problema é que ignorar essas ameaças e calúnias não faz com que elas desapareçam.
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