Sobre esses loucos dias
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Sobre esses loucos dias


Por Victor Sá, no blog Victorsas:

É um momento confuso e único, sem dúvidas. Sem o distanciamento histórico necessário, contamos apenas com instinto e experiência. Por ir às ruas desde os 13 anos de idade (lá, contra ALCA, anti-globalização) e acompanhar o MPL, desde o início, primeiro com o movimento estudantil, mais tarde como jornalista, me sinto seguro em palpitar sobre o que está acontecendo.
Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que o MPL conquistou uma vitória incrível! Não podemos questionar isso. Difícil entender como fizeram, só posso afirmar que existe um trabalho de base muito bonito desde 2005 e que a luta por transporte público não começou agora.

Segundo, o levante popular que toma as ruas de todo o Brasil é difuso, como não poderia deixar de ser.
A grande maioria dessas pessoas nunca foi às ruas antes. Nunca discutiram política além do habitual senso comum “todo político é bandido”. Essa é a grande massa que lota os atos e representa a força de qualquer movimento que visa mudanças concretas. No entanto, justamente por essa falta de experiência política, essa massa, me parece, estar dando vazão a algo muito, muito perigoso.

Como de praxe, sempre que um movimento de esquerda mobiliza, uma direita oportunista aparece, reagindo. Essa direita organizada, é pequena, mas barulhenta e pelo que temos visto nos recentes atos, violenta. A intolerância dessa direita organizada não costumava preocupar. Agora, a diferença é que ela está tendo ressonância nessa massa, que após 20 anos de doutrinamento midiático (Revista Veja, por exemplo) compra um discurso quase fascista e assustador. Agressões a militantes de partidos de esquerda são ovacionados pela massa que desconhece o papel fundamental dessas organizações. Há relatos de bandeira do movimento negro, feminista, queimadas. Uma confusão enlouquecida e raivosa.

Não isento a culpa dos Partidos de esquerda que erram há tempos, e desaprenderam a dialogar com o povo, no entanto, qualquer pessoa que luta, sabe da importância desses partidos. Eu, não organizado em nenhum partido, posso afirmar que em todas as lutas populares, quando ainda eramos xingados de vândalos por essa mesma mídia que agora aplaude (Jabour, Pondé, etc), quem apanhava junto eram os militantes organizados de esquerda.
É um absurdo negar todas as conquistas históricas desses militantes organizados. Não podemos cuspir na história. Veja bem, eu amo o MPL, entre outras coisas, por ser um movimento apartidário, mas não antipartido.

Como o MPL protagonizou o maior levante que minha geração já viveu, é natural que agora, todos queiram tirar uma casquinha. Uma das bandeiras que vejo muito é “contra a corrupção”. Essa pauta me incomoda demais. Não por eu ser a favor da corrupção, obviamente. Mas justamente porque todos somos contra a corrupção. Se perguntarmos ao Maulf, ele dirá que apoia essa causa. Isso despolitiza, emburrece o debate. O MPL foi vitorioso justamente por ter uma pauta palpável, concreta. Quando começamos gritar contra a corrupção fazemos o jogo da direita que quer esvaziar a luta.

Basicamente, acredito que o desafio agora, é dialogar. Não é fácil. Existem anos de opressão de um povo que está sim, emputecido, mas confuso pra onde canalizar toda raiva e é aí que a direita deita e rola. Apelando aos símbolos nacionalistas com bastante adesão entre a torcida da Copa do Mundo (bandeiras, camisetas do Brasil, hino) a direita ganha apoio contra a antipatia gerada pelas bandeiras de luta.

O nosso papel, nós que lutamos por um mundo mais justo há anos, é dialogar. Tenho dúvidas se devemos continuar nas ruas.(confesso não ter resposta pra isso agora) Sonhei com o povo ocupando as ruas desde pivete. O povo tá nas ruas. É uma disputa política clara. De um lado, um nacionalismo que flerta com o fascismo e intolerância. Do outro, a esquerda (organizada ou não) autônoma e libertária que vai às ruas desde que o mundo é mundo. Temos que trabalhar para que o povo escolha o lado correto. O povo trabalhador é quem vai decidir os rumos desse país. É um momento de polarização e de muito perigo. Podemos retroceder dezenas de anos em uma semana. Assim como, podemos avançar como nunca antes e entrarmos para história como uma geração sem catracas.




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