SOBRE O ATAQUE NEONAZISTA À BRASILEIRA GRÁVIDA
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SOBRE O ATAQUE NEONAZISTA À BRASILEIRA GRÁVIDA


É horrível isso que aconteceu com a advogada brasileira em Zurique. Ela foi atacada por três neonazistas na segunda. Durante dez minutos, foi torturada e espancada, e os extremistas escreveram com estiletes em sua barriga e pernas a sigla SVP (Partido do Povo Suíço). Esses dez minutos aterrorizantes foram suficientes para que ela, grávida de três meses de gêmeas, perdesse os bebês e entrasse em estado de choque.
Ataques xenófobos acontecem todos os dias em várias partes do mundo, quase sempre em países ricos. Não que países pobres como o Brasil não tenham skinheads, é só que aqui há menos xenofobia (aversão a estrangeiros) do que racismo, homofobia e misoginia. Portanto, ao invés dos “nossos” extremistas de direita espancarem bolivianos e nigerianos que são explorados como escravos no Brasil, eles preferem gastar suas energias batendo, e às vezes matando, gays que andam de mãos dadas, por exemplo. Mas ataques com motivação xenofóbica são comuns na Europa. Este partido, o SVP, é atualmente o maior partido suíço. De extrema direita, ele venceu as eleições de 2007 com 29% dos votos. A propaganda aí do lado é típica desse partido: a ovelha negra sendo expulsa da Suíça pelas ovelhas brancas que, tadinhas, não estão seguras na presença de tão má companhia. Deixe-me repetir: esse não era um panfleto apócrifo que foi distribuído durante a eleição. Era a propaganda oficial! As propostas de fechar as fronteiras pros imigrantes - e, na Suíça, 25% da população é composta por imigrantes - são claras. Sabe o que significa? Que não é um ou outro louco que pensa como os neonazistas. É um terço da população! O que não quer dizer, óbvio, que este um terço vai sair às ruas e agredir pessoas que ousem falar num celular em outra língua (o caso da brasileira). Felizmente, isso é coisa de apenas alguns fascistas que abandonam o discurso teórico do ódio e partem pra prática. Mas os outros xenófobos (um terço da população) só fecham os olhos, não se indignam com a violência, e talvez até a aprovem. É isso que o ódio gera. E é mais ou menos como se a xenofobia fosse a teoria, os ataques neonazistas fossem a prática. Parecido com o machismo: o machismo é a teoria, a misoginia é a prática.
Skinheads costumam agredir homens e mulheres, indiscriminadamente. Claro que um ataque de três homens a uma moça soa ainda mais covarde. E à uma moça grávida, então, nem se fala. Não dá pra não ficarmos indignadas. Mas há alguns detalhes que parecem ter ocorrido pelo fato da vítima ser mulher, como isso de escrever na barriga. Sempre que há ataques contra mulheres, as áreas mais atingidas são justamente as mais simbólicas da nossa femininidade, e o ventre é uma delas. Pra piorar, a polícia suíça perguntou à brasileira o que dificilmente perguntaria a um homem - se ela não se auto-mutilou. Como é que pode? A vítima está toda machucada, em estado de choque, perdeu os bebês, e a polícia desconfia dela? A polícia existe pra servir a quem? Se é pra acusar a vítima, como se faz comumente em casos de estupro, quem precisa de polícia?
Lendo alguns comentários, vejo os absurdos de sempre. A mídia enfatiza que a moça vivia legalmente na Suíça. Ótimo, mas... E se ela fosse imigrante ilegal? Isso justificaria que neonazistas a espancassem e que a polícia complementasse a agressão? Outra besteira é o espanto de alguns brasileiros em relação a algo bárbaro assim acontecer num país civilizado. A turma do “nada no Brasil presta” tem suas crenças abaladas quando percebe que a barbaridade não é privilégio tupiniquim.
Outro caso que mereceu muito menos repercussão da mídia, já que a vítima não é rica nem de família tradicional, foi o de uma brasileira agredida na semana passada perto de Los Angeles. Mãe de dois filhos, de quem cuidava sozinha, ela havia voltado a ser stripper após perder seu último emprego. Um casal a agrediu, jogou gasolina nela e queimou 40% de seu corpo, bem em frente à boate. Como a vítima é stripper, essa notícia não chamou muita atenção. Afinal, prostitutas e strippers são mulheres que vendem seus corpos, logo, qualquer coisa pode acontecer a elas. São ossos do ofício. Ainda não sabemos se a polícia americana perguntou à vítima se ela ateou fogo ao próprio corpo.

Leia mais sobre o caso aqui e aqui.




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