Por José Coutinho Júnior, no jornal Brasil de Fato:O Ministério da Saúde divulgou uma pesquisa realizada em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na qual avalia como a população brasileira utiliza o Sistema Único de Saúde (SUS). O relatório foi lançado na última terça-feira (2). Mais de 64 mil domicílios em 1.600 municípios de todo o país foram consultados entre agosto de 2013 e fevereiro de 2014, fazendo desta uma das pesquisas mais completas sobre a saúde no país.
“Os vários números levantados demonstram que estamos atendendo objetivamente e de forma igualitária a todos, além de permitir desconstruir a imagem criada no Brasil de que o SUS não atende a população”, disse o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
InternaçõesA pesquisa aponta que das 12,1 milhões de pessoas que foram internadas em um período de doze meses, 8 milhões (65,7%) foram pelo SUS. Os dados também revelam que as internações na rede pública têm um peso ainda maior nas regiões Norte (73,9%) e Nordeste (76,5%), chegando a corresponder a três em cada quatro internações.
De acordo com Thiago Silva, médico de saúde da família, os números mostram que “o SUS é o maior provedor de serviços de saúde do país. O SUS cobre toda a população brasileira; mesmo que boa parte desses internamentos possam ocorrer em hospitais privados, eles são pagos pelo SUS”.
Saúde da FamíliaA pesquisa indica que população brasileira cada vez mais tem consciência da importância do atendimento primário da saúde: as unidades básicas de saúde foram consideradas a primeira opção na busca de atendimento por 47,9% da população, e mais da metade dos lares do país já são cadastrados na estratégia de Saúde da Família. A intenção do Ministério é que o número de cadastros chegue em 70% até 2018.
“Anos atrás, o número de pessoas que procuravam as unidades básicas era bem menor. O que acontece é que os pacientes estão valorizando a saúde da família: eles vão a uma unidade básica, são bem atendidos, o problema foi resolvido e o posto é perto da casa, sem ter que pegar fila no hospital ou marcando consultas durante meses com especialistas”, avalia Thiago.
Os dados da pesquisa mostram que entre 2010 e 2014, houve um crescimento de 19,8% do total de equipes de saúde da família, passando de 31.660 para 37.944. Os investimentos federais na atenção básica mais que dobraram – crescimento de 106% nos últimos quatro anos, chegando a R$ 20 bilhões em 2014.
Público x PrivadoOs dados da pesquisa também revela a diferença de propósito entre o sistema público e o privado de saúde. O principal procedimento realizado entre as pessoas que ficaram internadas no SUS foi o tratamento clínico (42,4%) seguido por cirurgias (24,2%) e partos (13,1%). Na saúde privada, as cirurgias correspondem a 41,7% das internações, os tratamentos clínicos respondem por 29,8%, e os partos, 11,8%.
As internações para partos normal ou cesárea também têm perfis diferentes na saúde pública e na privada. No SUS, 7,2% das internações são para parto normal, e 5,9% para cesarianas. Já na rede privada, as internações para cesarianas (9,7%) são mais frequentes que para o parto normal (2,1%).
Segundo Thiago, “os médicos que atendem na rede privada ganham mais a cada procedimento que fazem, então quanto mais rápido, melhor. Eles programam várias cesáreas num dia, porque é rápido. O médico vai, anestesia a mulher, tira o menino e acabou. O parto normal depende da paciente, é mais demorado, pode se arrastar por um ou dois dias, o médico tem que acompanhar a mulher hora a hora. Dá mais trabalho para a equipe de saúde”.
O mesmo acontece com as cirurgias. “O hospital estimula o médico a fazer mais cirurgia. Vemos um monte de procedimentos cirúrgicos desnecessários em hospitais. O setor privado faz o mais rentável, e o modelo cirúrgico é mais lucrativo que o clínico”, afirma o médico.
Além disso, sem o sistema público de saúde, o sistema privado não existiria. Segundo estudo do Ipea de 2011, a isenção no imposto de renda para quem tem plano de saúde retira dos cofres públicos R$16 bilhões.
PartoMoradora de Recife, Natalia Paulino tem 32 anos e é militante da ONG Asa Brasil. Em 2013, engravidou, e teve seu filho, Miguel, no dia 7 de janeiro de 2014. Natalia optou desde o início pelo parto normal, e todo o acompanhamento da sua gravidez foi feito pelo SUS.
“Optei pelo parto normal porque acho que era a forma mais saudável de se ter a criança. Não gostaria de passar por uma cirurgia, pelo medo que as consequências do processo poderiam ter para mim e para o bebê em relação à anestesia, medicação e dores. A rede pública, diferente da privada, coloca o parto normal como prioridade”.
Seus exames pré-natal e o parto foram realizados no Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (IMIP), hospital tido como referência na questão de parto normal.
“Ia todo mês ao hospital. Saía as 4:30 de casa para ser atendida às 11. Fila pra cá, ficha pra lá... mas era bem atendida. Sempre por médicas mulheres, as conversas eram rápidas, 10 minutos de consulta. Depois passei a ser atendida por enfermeiras, que passavam mais tempo comigo, explicavam mais coisas e diziam coisas que as médicas não disseram. As perguntas são bem diretas; não tem discriminação se a pessoa não é casada ou não está acompanhada, como foi o meu caso de gravidez de mãe solteira”.
Natalia considera que o momento do parto e o atendimento posterior devem ser melhorados. Ainda assim, acredita que a rede pública está mais próxima de uma modelo humanizado do que a privada. “Eu esperava um acompanhamento melhor. Infelizmente, em Recife, falta essa atenção ainda. Depois do parto fiquei quatro dias no hospital. A limpeza era difícil também. O banheiro estava entupido, a água batia na canela. Mas, no final das contas, se engravidasse novamente, iria procurar de alguma forma fazer com um médico mais participativo nessa área de parto humanizado, e faria no público, mesmo tendo plano de saúde, porque é a rede pública é a única que dá atenção ao parto normal hoje”.
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