Gravidez é um período de fortes emoções. A ansiedade para a chegada do bebê e as inúmeras transformações no corpo são acompanhadas por decisões importantes, dentre elas qual parto escolher.
>> Entenda as novas regras do governo para incentivar o parto normal
O parto normal é o indicado por diversos estudos como o mais seguro para mãe e filho. O Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Saúde (ANS) publicaram novas regras para estimular partos normais no Brasil. O índice de nascimentos por meio de cesarianas no país é de 88% em hospitais particulares e 46% em instituições públicas. A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que o ideal é de 15%.
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O que deveria ajudar a tornar o momento mais fácil e seguro tem, na verdade, causado mais dúvidas e dificuldades, de acordo com a experiência de quatro gestantes entrevistadas por ÉPOCA. Todas têm convênio médico, e seriam o principal alvo das novas medidas do ministério.
As que desejam fazer cesárea são as que menos sofreram. O médico de Karine Hilleshein Rosa, de 35 anos, explicou à mãe inquieta que há diversas maneiras de justificar um parto cirúrgico para o convênio, que passa a ser obrigatório a partir da nova determinação. Para Meire Elen Farias Machado, que já está com a data do parto marcada, não houve referência a qualquer mudança.
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Já Ana Carolina de Souza Silva, de 32 anos, enfrenta dificuldade em encontrar médicos dispostos a fazer seu parto normal sem pagar uma taxa de disponibilidade. Ainda que cobrar para o profissional estar disponível para fazer o parto normal seja ilegal, segundo a ANS, a prática ainda é comum, de acordo com as futuras mamães. ?Com o anúncio dessas novas regras, que eu achei que iam simplificar o negócio do parto, eu acho que complicou ainda mais. Se você tiver dinheiro para pagar, tudo bem. Se não, ou você vai para uma casa de parto ou aceita cesárea?, diz Ana Carolina.
Carolina Costa, de 35 anos, também não conseguiu encontrar um médico disposto a fazer seu parto normal. Sua obstetra disse que, como é hipertensa e já teve um filho por cesárea, não conseguiria nenhum médico que fizesse seu parto normal dentro do convênio. As conveniadas podem, no entanto, reclamar na agência reguladora e receber uma indenização do convênio.
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Seja qual a escolha, todas as futuras mães sofrem com críticas de conhecidos por sua escolha e com informações desencontradas sobre o parto. Conheça um pouco mais da história destas mulheres:
"Se um médico falasse que eu tinha que fazer normal, procuraria outro obstetra"
Meire Elen Farias Machado 24 anos Grávida de 37 semanas de Ana Cecília Dona de casa Lagarto (SE)
"Sou casada há três anos e queria um bebê para aumentar a minha felicidade. Em 2013, tive um aborto espontâneo com um mês de gravidez. Foi muito dolorido emocionalmente e fisicamente. Depois de nove meses eu consegui engravidar de novo. Foi uma gravidez tranquila, não tive problemas com nada.
Não sou contra o parto normal. Dizem até que é mais saudável para mãe e filho, mas sou mãe de primeira viagem e eu realmente não tenho coragem. Tenho medo da dor. Várias pessoas me aconselham a tentar normal. Dizem que eu sou fresca, porque até com cólica menstrual eu fico mal.
O meu médico me aconselhou a fazer cesárea para não ter tanto sofrimento, já que muitos trabalhos de parto são demorados. Ele não faz mais parto normal porque pode ser um processo demorado.
Quando ele me aconselhou a fazer a cesárea, aí que eu decidi mesmo. Além do mais, é difícil ver mulheres que queiram o normal por aqui. Só mesmo mulheres que não têm condições financeiras é que fazem o normal. As que podem fazem cesarianas. As minhas amigas todas fizeram cesárea e dizem que foi tudo tranquilo, só tem o incômodo do corte.
>> O delírio da cesariana
Dizem que a recuperação é muito melhor do parto normal, até pensei em tentar, mas realmente a coragem não deixa. Não sinto preconceito por escolher cesariana. Sou a favor do normal porque é mais saudável e da cesariana por não passar por aquelas dores.
Marquei a cesárea para o dia em que completo 38 semanas de gravidez. O médico escolheu a data para não correr risco de entrar em trabalho de parto.
Sou contra as novas regras do Ministério da Saúde. É uma coisa assim: a pessoa está pagando, então ela quer aquilo. Se um médico falasse que eu tinha que fazer normal, eu acho que procuraria outro obstetra."
* Na quinta-feira (22) nasceu Ana Cecília em umparto cirúrgico. Mãe e filha estão bem.
"Neste momento que vai ser o mais especial da minha vida não quero estar dopada"
Ana Carolina de Souza Silva 32 anos Grávida de 14 semanas de Felipe Gerente de marketing e eventos São Paulo (SP)
"Eu sou casada desde maio de 2014 e sempre esperei muito para ter filhos. No fim do ano passado, meu marido e eu decidimos engravidar. Meu marido queria muito ter filhos. Eu tenho endometriose desde que sou muito novinha. Fui ao ginecologista e tive que tomar vários remédios antes mesmo de parar de tomar a pílula. Engravidei no primeiro mês de tentativa sem nem usar indutores, nós nem acreditamos que isso seria tão rápido.
A partir de então comecei a me consultar com esse médico, mas já na primeira consulta não gostei dele. Eu buscava um parto natural e ele só fazia cirurgias num hospital que, apesar de muito bom, tem o índice de cesarianas de 98%. Eu quero que ele nasça da forma mais natural possível. Não quero nenhuma intervenção, não quero ter que tomar anestesia, porque eu tenho muita aflição, e o retorno dela não é algo muito agradável.
Em 2004, sofri um acidente de moto e tive fratura exposta de fêmur, fratura de bacia, trauma de coluna e traumatismo craniano. Graças a Deus me recuperei e não tenho nenhuma sequela. Mas para isso fiz três cirurgias e tive que tomar anestesias raquidianas. Para mim, a volta da anestesia é muito ruim, tenho reação e não quero sentir isso. Neste momento que vai ser o mais especial da minha vida não quero estar dopada.
>> Parto normal ou cesárea? Quem decide - o médico, a mãe, o bebê?
Por tudo isso, comecei a pesquisar sobre partos. Procurei um segundo médico, mas depois das regras do Ministério da Saúde para estimular o parto normal ele ficou meio estranho. Descobri que depois da publicação muitos médicos estão cobrando para fazer o parto. Para o médico não é interessante ficar as muitas horas do trabalho de parto para receber o valor pequeno do convênio. E tem médico cobrando R$ 10, 12 mil pelo parto. Fui a outro médico dizendo que eu desejo parto normal e ele me disse que cobra R$ 5 mil para fazer o parto normal. Participo de alguns grupos no Facebook sobre maternidade e as meninas me disseram que por esse preço eu consigo médicos que fazem parto humanizado. Por isso, na semana que vem já tenho consulta marcada com uma obstetra que não atende nenhum convênio e o parto será particular.
Novas regras
Com o anúncio dessas novas regras, que eu achei que iam simplificar o negócio do parto, eu acho que complicou ainda mais. Se você tiver dinheiro para pagar, tudo bem. Se não, ou você vai para uma casa de parto ou aceita cesárea. E eu estou na busca, correndo, entrando no quarto mês de gravidez, indo para o quarto médico. Mesmo que eu tenha que pagar um parto particular, eu quero que seja natural.
"Seria muito mais fácil se eu quisesse uma cesárea"
Eu ouço muito das pessoas: ?você é louca. Como vai ter um parto desse??, ?por que vai passar pela dor??, ?se eu fosse você, eu faria cesárea?. Eu não entro em discussão já que é algo que irrita.
Seria muito mais fácil se eu quisesse uma cesárea. É fácil para você que marca a data e três dias depois está em casa com seu filho. É cômodo para você e para o médico. Para quem busca comodidade, é muito mais fácil. Em relação à saúde, é totalmente comprovado que o melhor é o natural, é a forma que tem que ser, o bebê nasce na hora em que ele esta pronto. Não quero que ele seja arrancado de dentro de mim de uma forma que eu acho que é extremamente bruta.
Sei que a dor é grande, sei que não vai ser fácil, mas é a melhor opção pra mim. E eu não vou abrir mão, a não ser que no último minuto aconteça alguma coisa muito grave que me impeça. Fora isso não há o que me faça desistir do parto normal."
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