TROCA-SE ROSA POR SALÁRIO DECENTE
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TROCA-SE ROSA POR SALÁRIO DECENTE


Não sou muito chegada a datas comemorativas, mas respeito o Dia Internacional da Mulher. Não que ele seja uma data pra distribuir rosas. É uma data de protesto. Foi no dia 8 de março de 1857 que um grupo de mulheres de uma fábrica de tecelagem em Nova York fez greve para reivindicar melhorias no trabalho. Para puni-las, os chefões as trancaram dentro da fábrica e tacaram fogo. 130 trabalhadoras morreram.
O 8 de março representa o Dia Internacional da Mulher desde 1975, mas não passa um ano sem que a gente ouça asneiras como “Todo dia é dia da mulher!” ou “Deveria haver um Dia Internacional do Homem”. Geralmente essas besteiras são proferidas pelas mesmas pessoas que creem que a Lei Maria da Penha discrimina os homens, e que é injusta, porque quem protege os machões, tadinhos? (essa gente não sabe que estatísticas existem e desconhece a realidade em que vive). Que são as mesmas pessoas que têm certeza de que, hoje, mulheres, negros, gays e outras minorias já conquistaram tudo que precisavam e que a verdadeira vítima do preconceito atual é o homem branco hétero de classe média. Tanta gente ignorante crê nessa falácia sem sentido que o brucutu Dourado foi eleito o símbolo do BBB 10 e vai ganhar um milhão e meio de reais. Por quê? Por ser perseguido pela ditadura do politicamente correto, o pobre.
Pra quem pensa que os maus tratos contra mulheres no trabalho são coisa do século 19, vale lembrar que Terra Fria, ótimo filme em que a Charlize Theron faz uma mineira atacada por seus colegas homens, se passa na década de 80. Ahn, 1980. Muitos homens não perdoam mulheres por ocuparem seus cargos. Não que elas de fato peguem seus cargos. É só que, como se sabe, a maquinaria fez diminuir os postos de trabalho. E a década de 80 foi pródiga em achatar salários. Mas vários operários, ao invés de se revoltarem contra o sistema, decidiram centrar seu ódio nas mulheres que, segundo eles, conquistaram vagas tradicionalmente masculinas. Susan Faludi conta em seu fabuloso Backlash: The Secret War Against American Women (Retrocesso: O Contra-Ataque na Guerra Não-Declarada contra as Mulheres) que era comum operários aparecerem em fábricas com faixas dizendo: “Salve um posto de trabalho. Mate uma mulher”. Eles viam as mulheres como rivais, nunca como companheiras.
E por que as mulheres passaram a querer ocupar funções até então negadas a elas? Porque puderam. Porque, no auge do feminismo americano, nos anos 70, o Congresso aprovou uma lei anti-discriminação. Ficou sendo proibido que empresas oferecessem cargos restritos para um dos sexos. Dezenas de empresas que não abriam suas portas para a mão de obra feminina receberam uma notificação que isso teria que mudar. Lembra que eu dizia que certos empregos, como professora de escola primária, vão parar nas mãos de mulheres justamente porque pagam mal? Eu estava chutando. Não tinha dados. Mas Susan Faludi comprova tudinho. A divisão do trabalho é fundamental para manter as coisas como elas são. É só pesquisar: quem ganha mais, um pedreiro ou uma cabeleireira? Um médico ou uma enfermeira? Um psiquiatra ou uma psicóloga? Um estilista de moda ou uma costureira? Um chef ou uma cozinheira? Pense nas profissões majoritariamente masculinas, e você verá que são essas as que pagam melhor. Agora pense nas profissões majoritariamente femininas ― o salário não costuma ser muito mais baixo? Não é coincidência que o emprego mais mal-remunerado na pirâmide social, o de empregada doméstica, seja todo ocupado por mulheres. Mulheres são reservadas para trabalhos que pagam menos mesmo. Isso explica porque na década de 80, nos EUA, houve uma explosão no número de mulheres motoristas de ônibus. Parecia uma conquista, mas, no fundo, de todas as categorias em que se dirige um veículo para sobreviver (taxista, caminhoneiro, motorista de limusine, piloto de avião etc), adivinhe qual é a categoria que paga menos? Motorista de ônibus. Foi bem essa fatia do mercado que coube às mulheres.
Não, não há uma conspiração para afastar as mulheres dos empregos com maior remuneração. Mas há um acordo tácito, uma certa mitologia popular, que prega que mulheres não precisam ganhar tão bem, já que quem sustenta a casa deve ser o homem. A mesma mitologia diz que mulheres não se realizam profissionalmente, apenas maternalmente. E que, como elas vão trabalhar menos porque terão filhos, elas merecem ganhar menos. Acontece que milhões de mulheres em todo o mundo sustentam sozinhas a família. Além das mães solteiras, calcula-se que menos da metade dos pais divorciados pagam pensão aos filhos, por exemplo. E mesmo entre mulheres que vivem com seus maridos, ganhar menos, em muitos casos, é uma forma de perpetuar a submissão.
Por isso, no Dia Internacional da Mulher, nós dispensamos as rosas de presente. Se nos deixarem ocupar cargos bem-remunerados, teremos dinheiro para comprar nossas próprias flores.




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