UMA HISTÓRIA DE AMOR DE 22 ANOS
Geral

UMA HISTÓRIA DE AMOR DE 22 ANOS


Hoje Silvinho e eu completamos 22 anos juntos. Já contei esta história antes, mas vou contar de novo porque esta data é a única que o maridão conseguirá lembrar na vida (“dois patinhos na lagoa”), e também porque ele é o personagem principal do meu livro de crônicas de cinema, então talvez você se comova e compre um exemplarzinho.
Silvio puxando meu cabelo em São Sebastião, 1992

A gente comemora o dia que nos conhecemos. Eu era um pitéu, tinha 23 anos, quase metade da minha idade hoje, morava em SP e fui jogar meu primeiro torneio de xadrez realmente forte, com jogadores de  altíssimo nível. Silvio tinha 32 anos, profissional de xadrez (joga desde os 13), morava em Osasco. Fomos emparceirados logo na rodada inicial. Ontem até perguntei pro maridão:
“Ah, amor, vc lembra como a gente se conheceu?”
Ele: “Vc perdeu um peão.”
Eu: “Anjinho, teve mais do que isso...”
Ele: “Mas aí foi técnica até chegar no final de torres.”
Eu com 24 ou 25 anos, na casa do Silvio, em Osasco

Lógico que ele ganhou. Isso foi numa manhã de sábado, 11 de agosto de 1990. O torneio durou todo o final de semana, e durante cada intervalo de partida a gente conversava. No domingo à noite, ainda no clube de xadrez, fui eu que tomei a iniciativa. Tentamos ir ver Susie e os Baker Boys, não encontramos o cinema (!), fomos prum barzinho perto da USP, comemos bolinhas de provolone a milanesa, papeamos muito, ele adivinhou que eu tinha sido goleira de handebol. Altos amassos no carro.
Mas eu estava saindo há poucas semanas com um outro sujeito, um advogado bonitão. Me senti tão mal de sair com dois homens sem avisar nenhum deles que até fiquei doente naquela semana. E, no fim de semana seguinte, contei pros dois. O advogado não gostou muito (compreensivelmente). Falei pro maridão que estava saindo com um outro homem e que eu ainda precisava escolher com qual dos dois iria ficar. Pensei que ele iria enfurecer e que eu nunca mais o veria de novo. Nada disso. Ele disse: “Tomara que você me escolha”, e derramou algumas lágrimas. Nesse momento meu coraçãozinho foi conquistado.
Nossos primeiros três anos foram difíceis. Eu e ele éramos completamente inexperientes em relacionamentos longos (meu recorde de namoro antes do Silvinho era de um mês). Havia muitas briguinhas bestas, discussões, sentimentos mútuos (e comuns em relações monogâmicas) de “você está me sufocando!”. Mas fomos ficando, ambos sem saber se era aquilo mesmo que queríamos.
Silvinho em 91, em Búzios, com 34. Suas palavras hoje: "Eu podia ser convidado pra ser o irmão pobre do Edward Cullen"

Acho que meu amado pai teve influência na nossa insistência. Ele sempre havia odiado automaticamente todos meus namorados e casinhos (eu tinha meu quarto e total permissão pra trazer parceiros pra casa, assim como meu irmão e irmã podiam fazer com os parceiros deles). Mas o Silvio ele adorou desde o primeiro momento. Nos 2,5 anos em que conviveram (meu lindo papi, melhor pai do mundo, morreu em 93 de ataque cardíaco, aos 68 anos), eles se deram super bem.
Quando meu pai morreu, eu tive que decidir o que fazer da vida, e não queria continuar em SP. Apesar de eu e Silvinho nos vermos diariamente, e um dormir na casa do outro o tempo inteiro, não estávamos preparados pra morar juntos. Ele me ajudou com tudo na minha mudança pra Joinville, mas não ficou lá (e, pra piorar, convidou seu melhor amigo pra passar uns dias de lua de mel na minha casa com a esposa. Um dos casamentos mais machistas que já tive a oportunidade de ver de perto. Eles se separaram pouco depois).
Nós dois na Rua das Palmeiras. Joinville, 1994

O semestre em que estivemos separados foi de incerteza. Não sabíamos se iríamos seguir juntos. A gente nem se falava tanto, porque eu não tinha telefone em casa, e em 93 ainda não existia internet. Eu ligava pro Silvio de um orelhão. Mas lembro que escrevíamos cartas. Como nosso relacionamento estava indefinido, acabei ficando com três carinhas que não significaram nada. Se o Silvio teve algum caso durante esse tempo, ele nunca me contou.
Silvinho em 2005 cortando cebola, em nossa casa em Joinville
Eu era suspeitíssima na vizinhança, porque onde já se viu uma moça de 26 anos, solteira e independente, morar sozinha numa casa? Silvio ia me visitar com regularidade, e a cada visita, mais tempo ele ficava, mais roupas ele trazia. Nada foi discutido, mas ele começou a procurar emprego como professor e técnico de xadrez em escolas. Em janeiro de 94 já estávamos morando juntos, mas demorou quase um ano pra que assumíssimos essa realidade. Se eu lembro direito, o víboro só trouxe pra Joinville o Chevette baqueado que ele tinha em SP no final de 94.
E assim foi, nada planejado. Nossa única certeza era que não queríamos filhos. Como somos ateus e estávamos longe das nossas respectivas famílias, não existia muita pressão para que cumpríssemos essa “lei natural”. Quer dizer, os vizinhos estranhavam, mas eles já estavam acostumados com nossas esquisitices (mulher morando sozinha? Depois homem vir morar com ela sem casar?!).
Silvinho e eu no aeroporto de Buenos Aires, indo pra Moscou em 2004

Com o tempo, e devido a nossa pão-durice (sempre ganhamos mais do que gastamos), fomos juntando um dinheirinho. Nunca brigamos por grana, porque nós dois temos salários, e cada um sabe exatamente quanto o outro ganha e gasta (ou não gasta, no nosso caso). Não compramos a prazo, não fazemos dívidas. Investimos e planejamos juntos. Se nos separarmos amanhã, sabemos quem vai ficar com o quê. Sem a menor disputa, sem stress.
Nós dois no Louvre, Paris, em julho do ano passado

Só nos casamos legalmente, no papel, em junho de 2007. Não era o desejo e muito menos o sonho de nenhum dos dois passar por essa burocracia, mas, pra que Silvio pudesse me acompanhar no meu doutorado-sanduíche em Detroit, só casando ou provando que morávamos juntos. Casar era mais fácil e rápido (nós héteros temos esse privilégio). Nem passou pela nossa cabeça ficar um ano separados.
Voltamos pra Joinville, terminei o doutorado, fiz concurso pra UFC, passei, e cá estamos, desde janeiro de 2010. Minha mãe mora com a gente desde 99, primeiro em Joinville, agora em Fortaleza. Ela adora o “genrinho”.
Eu e o gamão em Cumbuco no carnaval 
E não tem como não adorar, né? O maridão realmente é incrível. Divertido, irônico, lindão, o melhor amante que tive, a pessoa mais ética que já conheci, ele não tem inimigos. É o protótipo do cara bonzinho (aquele que as mulheres desprezam, dizem os machistas, porque só gostamos de cafas e adoramos sofrer). Ele não é ativista de causa nenhuma, mas é um homem sem preconceitos. Sempre foi. Sabe o tipo que não julga ninguém? Em 22 anos, nunca o ouvi falar uma só palavra indelicada de alguém. Ele me chama de jararaca na minha cara mesmo.
Em troca, ele tem essa perfeição em forma de gente que sou eu.
Não sabemos se vamos ficar juntos até que a morte nos separe. Não acreditamos muito nisso de felizes para sempre. Casamento não tem que ser pra sempre. Tem que ser bom enquanto durar. E por enquanto está uma delícia.
Silvinho e eu duas semanas atrás em Taíba, CE




- Pra Quem NÃo Aceita Um Casal Apaixonado
Reveillon aqui em casa, anteontem Segundo dia do ano e tenho um montão de coisas pra fazer, até porque as aulas recomeçam na segunda!55chan comemorando o "false flag"E já estou meio cansada porque, nos últimos dias, os misóginos lançaram uma campanha...

- VÁrias Notinhas E Uma De 25
Nossa foto mais recente: em Uruaú, CE, em junho Pessoas queridas, vou escrever hoje um post bem rapidinho, só porque hoje é domingo e não publiquei nada ontem. Em primeiro lugar, feliz dia dos pais! Eu não dou muita importância pra essas datas...

- Blanche, Minha Deusa (1999-2013)
Minha gata Blanche morreu hoje, num domingo de abril, igual a meu amado pai, só que ele foi exatos vinte anos atrás. Estou muito triste, mas resignada.Na realidade, Blunf foi minha segunda gata. Meu primeiro (e esses pronomes possessivos são só pelo...

- Feliz AniversÁrio Surpresa, Silvinho
O maridão é lindo e fofinho e hoje é o aniversário dele. Pra comemorar, planejei com minha mãe um super café da manhã/almoço (em outras palavras, brunch. A gente devia ter uma palavra pra isso em português). Só que surpresa, sem que o maridão...

- It Was 20 Years Ago Today
Eu e maridão, aeroporto de Buenos Aires, alta madrugada. Oi, gente! Como não tive tempo de escrever a crítica de A Origem (espero que pra sexta dê), e como hoje é uma data muito especial, e qualquer data especial merece Beatles, eu deixei o título...



Geral








.