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Vai ser difícil explicar em casa - LEONARDO CAVALCANTI
CORREIO BRAZILIENSE - 28/09
Revelações mostram os bastidores da criação do Pros e do Solidariedade, o que apenas contrasta com a ideia legítima de Marina de ter um partido político. Para a ex-ministra, entretanto, não vale ficar no papel de vítima caso a Rede seja vetada na terça-feira
Se Marina Silva mantém de fato uma sacola reciclável com pelo menos 20 milhões de votos - uma espécie de capital eleitoral da campanha de 2010 -, vai ser difícil explicar para um número expressivo de pessoas o eventual veto da Rede Sustentabilidade pelo Tribunal Superior Eleitoral(TSE) na próxima terça-feira. Principalmente com as declarações cínicas de dirigentes do Pros e do Solidariedade, depois de ganharem o direito de criar um partido. A lógica da legitimidade da ex-ministra em entrar na corrida do próximo ano é inquestionável, por mais que os motivos técnicos e jurídicos indiquem uma desorganização da pretensa legenda em conseguir validar as assinaturas necessárias.
Ao longo da última semana, sete repórteres da editoria de Política do Correio se revezaram na busca de informações sobre as duas legendas, o Pros e o Solidariedade. Enquanto os integrantes do Solidariedade comemoravam o "roubo" de 23 parlamentares de legendas estabelecidas a partir da promessa de gestão do Fundo Partidário - leia-se dinheiro público -, o Pros anunciava em alto e bom som a intricada formação do partido. Em entrevista a Paulo de Tarso Lyra, o presidente de honra do Pros, Henrique José Pinto, foi mais do que claro: "A ideia desse partido surgiu de uma meia dúzia de doido (sic), para entrar numa empreitada dessa, sem dinheiro", disse ele, que foi candidato a vereador em Planaltina de Goiás.
Como se não parecesse satisfeito com a declaração acima, Henrique José continuou: "É uma meia dúzia de caboclo (sic) que não tinha o que fazer e sem expectativa de vida e aí se meteu nessa história que deu certo. A melhor definição é essa mesmo". Pois bem, caro leitor, quando você estiver sem expectativa de vida, forme um partido, e acabe com qualquer chance de uma legenda com caráter ideológico ou mesmo que possa encarar uma causa política legítima. Tudo só piora quando se descobre que o PR, de Valdemar Costa Neto, condenado por envolvimento no escândalo do mensalão, cedeu sala para o Pros fazer reuniões políticas com deputados e senadores, como mostra reportagem da página 3 da edição de hoje.
A cada dia, novas revelações sobre o Pros e o Solidariedade apenas reforçam o contraste com a Rede, de Marina. Mas o mundo real nem sempre - ou quase nunca - combina com legitimidade política.
A "coitadinha"
Tudo que Marina não precisa a partir de agora é ficar com a marca da coitadinha, injustiçada pelos poderosos. Não faz muito tempo um projeto gestado pelos governistas tentava inviabilizar a criação de partidos, a partir da impossibilidade de legendas conseguirem levar, com os deputados federais cooptados, o tempo de tevê e os recursos do Fundo Partidário. Era um golpe contra Marina.
A grita em favor da ex-senadora foi tamanha que o texto acabou solenemente esquecido no Congresso. O problema é que, ao contrário do imaginado, Marina deve acabar não confirmando a Rede Sustentabilidade por problemas internos da própria legenda para validar as assinaturas. E, com o projeto que vetava o balcão de negócio engavatado, os dirigentes do Pros e do Solidariedade conseguiram emplacar os dois partidos de aluguel de uma só vez no TSE na última noite de terça-feira.
Quando setores da sociedade, inclusive da imprensa, levantaram a voz contra o projeto que mudava as regras de criação dos partidos tentava-se corrigir uma injustiça contra Marina. Mas o que se vê é chance cada vez mais real de a Rede ficar de fora do páreo e, na prática, o que se fez foi abrir espaço para a farra das legendas e para os discursos cínicos dos donos dos novos partidos. Marina não tem motivos para ficar como vítima, mesmo perdendo a chance de registrar a Rede. Quem perde é ela.
Outro coisa
O trabalho de recapeamento das vias do Plano Piloto deve ser acompanhado de perto por quem defende as faixas de pedestre. É razoável acreditar que, entre a manutenção das ruas e a pintura da sinalização, exista um intervalo mínimo. Repita-se: mínimo. Até a manhã de ontem, entretanto, moradores de trechos da Asa Norte, ao darem sinal de passagem, eram solenemente ignorados por carros em locais sinalizados por placas. As faixas são motivo de orgulho para a população de Brasília. Qualquer pequeno descuido com a medida implementada há mais de 15 anos é um grande problema.
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