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Vampiros - capítulo II
Capítulo II
Antes do Abismo - Madalena
1ª Noite
Ela caminha por um corredor negro. Não há luz, nem som, apenas um imenso manto negro que recobre seu corpo. Segue adiante, não querendo, mas segue. Mãos pegajosas saem das paredes e a acariciam, empurrando-a para frente. O toque delas dá-lhe ânsia de vômito. Um imenso mal-estar invade seu corpo. A escuridão a envolve num denso abraço, quase úmido. Sente sob a sola dos pés a superfície viscosa do chão. Ouve agora sussurros, seu nome é entoado como um mórbido mantra. Um vento frio e fétido sugere o fim do corredor. Seu coração bate descompassadamente e grossas lágrimas escorrem do seu rosto. O pânico invade sua mente. Em um ato de desespero busca se agarrar nas paredes e impedir seus passos de continuar. Mas agora as mãos estão mais fortes e a empurram com mais firmeza. O fim do corredor se aproxima e ela sabe que lá está o Mal na sua forma mais obscura e tenebrosa. Tem medo da loucura que se aproxima, esta no limite da sua sanidade. Precisa parar. Voltar! Mas, não consegue... grita. Seus gritos misturando-se aos gritos de dor que ecoam por todos os lados. Quando o corredor acaba, um amplo descampado ergue-se a sua frente. No alto do monte, um estranho trono feito de crânios humanos, onde um homem está sentado. O chão é repleto de fendas, onde o sangue brota em profusão. O céu tem uma estranha tonalidade violácea. Os gritos agora são ensurdecedores. Quer tampar os ouvidos, fechar os olhos, fugir de alguma maneira daquele lugar. Ao invés disso, seu corpo flutua até o trono, onde o homem a saúda. Ele pronuncia seu nome, seu timbre de voz, forte e vigoroso e como se obedecesse a uma ordem, ela olha para ele. O mal. Seu corpo é invadido por uma enorme sensação de repulsa e de dor, quando ele sorri.
- Madalena... - ele sibila. Uma voz conhecida. Um rosto conhecido. Onde vira aquela face?
- Enfim, Madalena... enfim nos reencontramos.
A loucura agora está muito próxima, ela sabe que no momento em que ele a tocar, o seu mundo vai se dividir em milhares de fragmentos e que nunca, nunca mais, será possível reorganizá-lo... como antes... como muito antes... de onde ela o conhece? Será ele parte dos muitos mundos criados por ela nos dias de pesadelo?
O homem invade a mente da mulher. Lágrimas escorrem em profusão pelo rosto dela. Ele a segura, com uma delicadeza que ela achava não existir em um ser tão asqueroso. Pega seu braço e encosta os lábios na palma de sua mão, sua língua escorrendo em direção ao seu antebraço. Ela sente o hálito quente do homem, a aspereza da língua... e então a dor. Ele crava os dentes em sua pele. Primeiro ela sente uma estranha dormência, depois sua pele sendo perfurada por dois pequenos punhais, que afundam com firmeza e determinação em sua pele macia.
Sua mente gira em um turbilhão de sensações: medo, dor, loucura... sabe que está se fragmentando. Milhares de pedaços que agora giram incontrolavelmente em sua mente.
Lentamente ele levanta o rosto e a fita, o sangue escorrendo de duas presas sob seus lábios. Ele ri. O pânico quebra o torpor da mulher. Ela grita, uma, duas, milhares de vezes, seus gritos ecoando pelo descampado.
- Minha Madalena. Você é minha!!!!
Sede, dor... sede... sente sua pele queimando... passa a mão pela boca e percebe que está rachada em diversos lugares. Absolutamente ressecada. Tateando, consegue acender a luz e a meia luz consegue saber que está em seu quarto e uma confortável sensação de familiaridade a invade. Respira aliviada e levanta-se, um tanto quanto bruscamente, seu corpo febril bamboleia. Senta-se na beira da cama e espera diminuir o acesso de tremor que a invade. Pega dentro da gaveta, na mesa de cabeceira o termômetro: 40º. A febre anestesia sues sentidos. Mesmo assim, sente uma imensa dor no corpo. A cabeça explode. Toma uma aspirina e deita de novo.
O resto da noite ela passa imersa em um torpor quase delirante. Fragmentos do pesadelo surgem e dissolvem-se diante de suas pálpebras.
Continua....
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