O doutor passa a mão pelo rosto. Madalena, ou melhor, Eleanora, uma jovem artista, linda. Enlouquecera após o assassinato dos pais... se fosse simples assim. Ainda se lembra do caso. Ninguém nunca fora capaz de explicar como matara a mulher e o jovem, tampouco a ausência do sangue nos corpos das vítimas. A última pessoa a ouvir sua voz fora o delegado. Segundo ele, ela confessará os crimes e se calara, para sempre...
Mas havia coisas que ele não consegue entender, ou melhor, não quer entender, sua sanidade assim exigia: O vulto no quarto de Madalena, isso ele não quer entender. A sombra que surge todo o entardecer e passa a noite ao lado dela... ou as crises que às vezes ela tem, quando presas extremamente pontiagudas crescem na lateral de sua boca. Ou o fato dela continuar tão bela e jovem como quando chegara ali, o tempo não a atingindo... Em breve ele irá se aposentar... não vale a pena tentar conhecer o que não quer ser conhecido, o melhor é fingir que não existem, mesmo sabendo que ele estão lá, às vezes do nosso lado.